capítulo 17

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Invadir uma das estufas mais perigosas de Hogwarts não foi uma das minhas melhores ideias, mas com toda certeza esse é um dos melhores lugares para se guardar uma poção rara. não sei o que eu tinha na cabeça quando era Severus, paranóia excessiva? loucura? nunca vou saber. mesmo após anos, sou capaz de refazer meus passos com precisão, ando entre os vasos com cautela, se eu der um passo em falso, ou sequer encostar em uma dessas plantas, posso morrer instantaneamente. eu não estou com vontade de morrer antes de descobrir os segredos dos marotos, e além do mais, preciso reconquistar meus amigos.

paro, prendo a respiração, e a solto bem devagarinho. tentando não fazer barulho, me coloco de joelhos, um de cada vez. é nesse ponto que preciso engatinhar. sinto a curva dos meus lábios se estreitarem para baixo, é tão humilhante ter que fazer isso.

e a culpa é minha por estar passando por essa humilhação.

mas o que está enterrado aqui vale à pena.

e dessa vez, posso usar.

com um cuidado que em outras ocasiões iria me deixar louco, saio engatinhando entre vasos, minis-hortas que a primeira vista parecem inofensivas, mas que eu sei que são venenosas. o que é mais seguro do que enterrar uma poção da sorte em uma sala cheia de plantas perigosas, venenosas, e potencialmente carnívoras? não existe segurança maior.

qualquer pessoa iria acabar morrendo se tentasse invadir aqui, e se não morresse tentando invadir, morreria por culpa do veneno de alguma planta. na época em que imaginei esse esconderijo, não cheguei a pensar que iria voltar aqui, a vida é cheia de surpresas. escondi muitas coisas em Hogwarts, algumas "deixei à vista." como o meu livro de poções guardado no armário da sala de aula, qualquer pessoa é capaz de acha-lo, e é claro, usufruir das notas que deixei nele. o mais estranho é que eu realmente quero ver alguém usando o meu livro, sempre achei que o que nos torna realmente eternos são às palavras, é por meio da escrita que somos imortalizados, fiz anotações, e melhoramentos nele porque quero passar o meu conhecimento adiante, de aluno a aluno. foi o meio que encontrei de deixar alguma marca valiosa( para mim) nessa escola.

passo por um visgo do diabo adormecido, faço uma curva à direita, e então vejo o final da estufa. por um acaso do destino, é o único lugar que não foi entupido por essas "armadilhas mortais." e foi ali que escondi a poção da sorte.

suspiro, e lanço um olhar até minhas pobres mãos. é hora de trabalhar.

volto à ala hospitalar antes que James acorde, minha cadeira ainda está ao lado de sua cama, me sento, e enxugo minhas mãos em uma toalhinha que convoquei do meu dormitório. estou nervoso. mas tento me acalmar. não tive todo esse trabalho para nada. eu vou conseguir o que quero, e vou conseguir agora.

encaro o rosto dele, e penso nos meus próximos passos. o principal, é tomar um gole, que irá durar uma hora inteira. e é esse o tempo que preciso para arrancar o que quero dos lábios de James. suspiro, sinto o frasco pesar no meu bolso. é agora ou nunca.

retiro o frasco cintilante do bolso, e o ergo o suficiente para ver mais uma das minhas obras primas.

bem, vamos lá. — exclamo baixinho, e tomo uma dose cuidadosamente medida.
sei o que vai vir a seguir. gradual, mas inegavelmente, a sensação de euforia em que tudo é possível me invade. sinto que posso fazer qualquer coisa, qualquer coisa no mundo… e extrair o segredo dos marotos me parece de repente não apenas possível, mas decididamente fácil.
me levanto da cadeira sorrindo.

— perfeito!

me curvo na direção de James, e deposito um beijo em sua testa. não tenho ideia do que estou fazendo, mas a felix felices sabe. ando em direção à cortina fechada, abro-a, o calor do sol aquece o meu rosto, e ilumina quase todos os cantos, menos onde Potter está adormecido.

permaneço em frente à janela, contemplando o horizonte.

permaneço assim até escutar o som de alguém se mexendo, e então, se sentando abruptamente. não preciso olhar para trás para saber que James está me olhando, tentando preencher às lacunas de sua memória. fique bem parado, digo para mim mesmo. preciso esperar o sinal certo. 

— Seth, é você? — James pergunta, e sua voz soa incerta, rouca, e curiosa. 

ah, aí está o sinal! 

me viro, e ando lentamente até ele. 

— depende, como você está? não está mais drogado? — antes que ele possa dizer algo, afasto sua franja para o lado, como fiz antes, mas dessa vez me sento ao seu lado na cama.
coloco minha mão em cima da dele.

— você me deu um baita susto, me desculpa por ter quebrado o seu nariz. — toco o nariz dele com a ponta do dedo da minha mão livre. com uma rapidez surpreendente, James agarra o meu pulso. viro a cabeça para o lado, e sinto as curvas da minha boca se levantarem para o alto, formando um sorriso.

— assustado, Potter? — pergunto, e vejo suas pulilas dilatarem.

— não, nenhum um pouco. — murmura.

— ótimo, pois eu tenho que ir.

— agora!?

— é, potter bobinho. tenho que encontrar umas pessoas. — solto uma piscadinha à Dumbledore. sendo sincero, não faço ideia de quais pessoas eu preciso encontrar especificamente. mas sei que para James abrir o bico, preciso sair dali, pelo menos é isso que a felix está me dizendo.

— o que? você está bem? — ele pergunta, circunspecto.

— estou mais do que bem. e aliás, você precisa ficar mais uma hora aqui.

se não estivesse sob o efeito da poção da sorte, provavelmente estaria me achando um idiota com essa cara sorridente. eu não sou uma pessoa extremamente rabugenta, mas não é como se normalmente andasse estampando um sorriso no rosto. pessoas felizes demais me assustam. 

à direita e à esquerda, escuto vozes de alunos dentro das salas de aulas, porém, não diminuo o passo, seja lá o que estou procurando, está lá fora. 

não vejo nenhum professor, e nem o zelador pelo caminho. quando chego à porta, vejo-a entreaberta. o ar está fresco, e o céu se tornou uma extensão branca sem sol. fecho meus olhos, aspiro o cheiro da natureza em volta, solto o ar bem lentamente. 

hoje é o meu dia de sorte. preciso usar essa hora com sabedoria. 

...

meu olhar é atraído até o lugar em que uma árvore está plantada. é um salgueiro lutador, e é dos raros. caminho sem medo até ele. preciso parar de me meter em situações de quase morte, penso, meio divertido com essa constatação. se dependesse de mim, eu não estaria vivo. literalmente, eu sou péssimo quando o assunto é "auto-cuidado", meu pai sempre se irrita quando esqueço de comer, dormir pelo menos nove horas por noite, e essas coisas todas. não faço isso por mal, ou de propósito, é que nunca fui ensinado a cuidar de mim assim. me fizeram acreditar que alguém como eu merecia o pior da vida. e isso acabou comigo. mas, hoje, sei que mereço o melhor que a vida pode oferecer. 

ninguém, nunca mais, vai passar por cima de mim. o vento arrasta meus cabelos para trás. 

sorrio. 

— Potter bobinho. — cantorolo. estou há três quilômetros de distância da grandiosa, e perigosa árvore. se der mais um passo, sei que seus galhos vão começar a se agitarem, tentando espantar quem quer seja, mas também sei que se der mais um passo, nada vai acontecer comigo. estou protegido pela sorte líquida que tomei.

agora só resta esperar que os peões se movam de acordo com a minha vontade. 

...
no próximo capítulo, Seth estará o mais manipulador possível, risos. obrigada por todos os votos, comentários, e leituras. vocês fazem o meu dia melhor, e é claro, fazem com que escrever valha à pena. não se esqueçam de beberem água, ok? e pelo que vi, em algumas cidades estão dando uma dose de reforço para pessoas com 18 anos para cima. se você tem 18 anos, vá atras de receber essa dose de reforço. vacinas salvam vidas!

Seth Dumbledore Where stories live. Discover now