Capítulo 53

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{POV. Anna Elis}

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Meu corpo estava todo dolorido e eu chorava gritando para minha mãe parar.

- Olha o que você fez, sua garota inútil! Sujou todo o meu vestido branco novo! - Mamãe continuava a gritar enquanto me chicotiava com o cinto de couro.
- Mamãe, para! Está doendo! - Eu chorei encolhida no chão da cozinha, mas ela não parava.
- Luiza. - Ouço quando papai entra. - Mas que porra é essa? Para com isso, mulher! - Papai correu até minha mãe e puxou o sinto de sua mão.
- Não vê o que essa idiota fez?

Mamãe aponta para o seu vestido branco curto e alças finas, que estava sujo de chocolate assim como minhas mãos e boca. Ela havia entrado na cozinha a pouco, eu não tinha a visto o dia todo e Lúcia havia deixado um pouco de chocolate quente para mim antes de ir embora, fiquei tão feliz quando vi minha mãe que queria abraça-lá. Não pensei que ia suja-lá.

- E isso é motivo para você quase matar a garota com uma surra? - Papai me defendeu.

Ele era meu herói sempre que mamãe tinha esses surtos e me batia quando eu fazia algo errado, eu sei que faço coisas erradas as vezes e a irrito, eu só queria ser uma filha melhor.

- E onde você estava desde ontem que não te vi? Ainda mais vestida desse jeito.

Mamãe olhou bem no fundo dos olhos de meu pai, e eu fiquei ali quieta no chão apenas os observando, com medo de fazer algo errado de novo e apanhar mais.

- Estava com Dorgles, porque nós nos amamos e você não vai nos separar. - Mamãe disparou e me assustei quando papai segurou seu braço com força.
- Já disse que você vai ficar comigo, sua vadia! - Ele gritou com ela e eu tampei meus ouvidos não querendo ouvir outra discussão deles.
- Eu vou ficar com Dorgles! - Ela puxou seu braço. - E para lá que eu irei agora! - Mamãe saiu da cozinha.
- Anna Luiza, volte aqui! Anna Luíza! - Papai jogou o sinto no chão e seguiu ela, e pude ouvir a porta sendo fechada.

Eu estava ofegante e trêmula, aquelas marcas em meus braços e pernas estavam doendo e ardendo muito, mas estava com medo de sair da cozinha e apanhar mais. Me encolhi mais quando vi papai de volta a cozinha, ele parecia irritado e, mesmo ele nunca tendo me machucado, fiquei com medo mesmo assim. Papai bateu com o punho sobre a pia e eu respirei fundo com medo, ele passou as mãos pelo cabelo loiro e me olhou.

- Vá ao quarto de Lúcia e peça a ela que cuide desses machucados. - Ele ordenou.
- Lúcia está de folga hoje, papai. - Minha voz saiu fina e amedrontada.
- Merda. - Ele xingou frustrado, papai e mamãe xingavam tanto mas quando eu fiz o mesmo na escolinha, a professora disse que não podia, era errado e feio. - Vem, deixa eu tirar esse chocolate de ti, depois te dar um banho e alguns curativos. - Ele me chamou com a mãe quase sem me olhar, como sempre fazia. Será se papai me achava feia? Acho que sim, pois eu não tenho os cabelos lisos e loiros, e os olhos azuis que ele e mamãe tem.

Mesmo com medo e sentindo dores, andei até ele e papai me pegou pela cintura e me pôs sobre a pia gelada, ele pegou alguns panos que estava por ali e os molhou.

- Eu só queria abraçar ela, estava com saudade. - Sussurrei enquanto ele limpava o chocolate de minhas mãos.
- Eu sei, querida, eu sei. Sua mãe é... complicada. - Ele suspirou.
- Ela não gosta de mim? - Ele me encarou.
- Anna Luíza te ama, Anna Elis, e eu também. - Eu assenti freneticamente com a cabeça. - Você apenas infelizmente está no meio de uma história que não te pertence. Você não tem culpa de nada, Anna Elis.

Eu não entendi nada do que papai disse mas assenti mesmo assim, ele voltou a me limpar.

- Quem é Dorgles, papai? - Perguntei curiosa.

Papai parou de repente e suas mãos seguraram meu rosto com tanta força que me assustei, e tremi de medo ao encarar seus olhos azuis sérios.

- Me prometa que você irá esquecer esse nome, Anna Elis. Esse homem é um monstro e você nunca mais vai se lembrar dele, e nunca chegar perto dele. Me prometa isso, Anna Elis.
- Prometo, papai. Prometo. - Minha voz tremeu e papai suspirou.
- Vamos, também vou pegar uma remédios pra você. - Ele disse e eu estiquei meus braços pedindo que ele me carregasse, vi um vislumbre rápido de um pequeno sorriso, e o mesmo me pegou no colo. - Sua preguiçosa.

Me aconcheguei ao seu pescoço e senti seu perfume.

- Pode me colocar pra dormir, papai? - Pedi em seu ouvido.
- Sim, querida, posso colocar você pra dormir. - Sua voz soou doce como poucas vezes ele falava comigo.
~~~

Meus olhos se abrem e vejo o teto escuro de meu quarto, sinto uma lágrima escorrer por meus olhos e caírem sobre meus ouvidos. Meu coração se aperta com após sonhar com mais uma lembrança de minha infância, faz tantos anos que não sonho com meus anos com minha mãe, e essa lembrança em especial eu nunca havia me lembrado. Talvez, por ter só uns 4 anos na época, meu cérebro entendeu que quando Paul disse para mim esquecer de Dorgles, era para deletar toda aquela noite em si.
Mas algo em si destroçou meu coração: Paul se importava comigo, minha mãe era agressiva e preferia ficar com Dorgles do que cuidar de mim.
Engulo seco e me viro em minha cama, vendo o outro lado da cama vazio sobre a noite fria que caiu, me encolho sentindo meu coração se apertar ao tocar o lado frio e vazio do lençol. A falta do calor de Anna Kariênina faz aquela chama de nosso dentro de mim sangrar de dor, queria tanto que ela estivesse aqui para me ajudar com essa confusão que está minha cabeça.
Mas uma coisa eu entendi bem dessa minha lembrança, Paul estava certo quando disse que eu não tenho culpa alguma, só sou uma criança em meio a uma história que não me pertence.
Não, Elis Regina, você está errada. Eu não serei como meus pais.
[...]

{POV. Anna Kariênina}

Apesar do colchonete terrivelmente desconfortável, eu havia conseguido dormido um pouco. Entretanto, houve um aperto em meio peito em meio ao sono, mesmo não sonhando com nada e acordei ofegante de repente. Bem no momento que o carcereiro estava abrindo minha sala.

- Visita pra você.

Levantei da cama, calçando rapidamente meus chinelos e então já estava saindo da cela com ele, fiquei muito preocupada pois já havia visto Anna Elis e meu advogado hoje, quem viria me ver essa hora? Será que é Elis novamente? Aconteceu algo sério? Meu coração se apertou novamente.
Alguns minutos rápidos se passaram e logo o carcereiro estava tirando minhas algemas, entrei com uma certa urgência na sala e me assustei quando Alana se jogou em meus braços, com tanta força que gemi baixo por causa de meu machucado.

- Calma, calma, Alana. Meu corte. - Tentei dizer enquanto ela praticamente me estrangulava com um abraço.
- Oh meu Deus, desculpa, esqueci. - Ela se afastou e eu senti um alívio. - Então, como isso está? Quer que eu dê uma olhada? - Ela se refere aos cortes enquanto limpa lágrimas do rosto.
- Está tudo, os médico viram para cuidar de mim, mas obrigada. - Falei enquanto nos sentavamos. - Mas por que está aqui? Ainda mais essa hora da noite. - Pergunto ainda estranhando sua vinda.
- Esse é o melhor horário de visita clandestina, e eu precisava te ver e saber como você está. - Ela explicou com um leve sorriso.
- Bom, eu estou bem, como pode ver. - Dou de ombros.
- Não me conformo que você quem foi presa, aquela garota que devia ter sido presa, ela só atrapalhou tudo. - Alana começou.
- Para, Alana. Eu não vou ter essa briga de novo com você, já disse para parar de falar assim de Elis. - Rebati. - E eu nem deveria está aqui, ou Elis. Não deveríamos ser presas, o delegado me disse que houve uma denúncia anônima. Temos que encontrar esse traidor que nos delatou, ele pode saber demais e... - Alana interrompeu.
- Eu delatei vocês, Anna Kariênina. - Alana soltou engolindo seco e eu fiquei sem palavras.
- Você o que? - Minha voz saiu em um sussurro em uma mistura de surpresa e decepção.

Estava acreditar que aquilo que poderia ter verdade, que Alana havia me denunciado.

Continua...

Corpos em Chamas: A vingança de Anna Kariênina (Romance Lésbico)Where stories live. Discover now