Capítulo 16 - Um mostro em comum.

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Um pequeno garotinho de lindos cabelos acastanhados, com bochechas cheinhas e coradas demonstrava tristeza em sua face, seus olhos azuis como o céu que exalavam a mais pura inocência, agora brilhavam com as lágrimas acumuladas, ele balançava em um balanço em um parquinho de aparência abandonada.

Solitário.

Ele, pelo visto, não possuía mais amigos do que sua própria sombra, sua fiel companhia, até por que não havia como se livrar dela. O menininho já cogitara a hipótese da mesma ser costurada sobre sua pele, porém aquilo não era verdade. Ele só não sabia disso, era algo complicado demais para explicar à uma criancinha que ainda não conhecia o mundo direito.

Não do jeito certo. Já que para ele tudo era bom, todas as pessoas eram boazinhas e alegres. Pobre garoto que não conhecia a maldade que o mundo transbordava. Ele não sabia que a exatamente três quadras dali duas garotas eram espancadas até seus corpos serem cobertos de sangue, para então, o bandido pegar suas bolsas e sumir com o dinheiro e documentos, deixando as duas garotas desacordadas sobre o cimento gelado.

Ou então, a mulher que segurava uma arma e apontava para a cabeça de seu marido que soava frio, mas ele... Ele tinha culpa no cartório, havia traído a própria mulher que se encontrava grávida e agora em um lapso de loucura a única coisa que ela queria fazer era explodir os miolos daquele vagabundo.

Mas, também havia o garoto que havia sido expulso de casa e agora fumava um baseado enquanto lágrimas escorriam sobre sua face, deixando um rastro doloroso. Ele não queria que fosse daquele jeito. Não pôde impedir. Iria ser preso... No final, ele era apenas um tolo que achava que a luz a sua frente poderia salvá-lo. Não havia salvação. Ela simplesmente não existia.

O garotinho estava tão concentrado em observar sua sombra enquanto balançava para frente e para trás, que nem notou o homem que se aproximava vestindo uma longa capa preta. Seus cabelos de coloração preta, fios brilhantes e grossos que faziam uma franja sobre sua testa, os lábios vermelhos como sangue e seus olhos tão profundos como o céu noturno. Ele possuía uma beleza estonteante. Em sua mão segurava um pirulito colorido e assim que se aproximou do garotinho fez a diversão do mesmo obter uma pequena pausa, enquanto segurava a corrente do brinquedo, levando o mesmo a parar bruscamente. O menininho levantou o rosto na direção do homem bonito e sorriu, quando o mesmo acariciou seu rosto.

- O que você faz aqui sozinho, doce? - perguntou, se agachando para ficar na altura da criança, que rapidamente notou o pirulito que ele carregava em sua mão.

- Eu... Eu não tenho amigos. Só tenho ele. - disse o menininho fazendo um biquinho e apontando para sua própria sombra. - Mas, ele é chato e só sabe me imitar. - o homem riu com a confissão do garotinho.

- Se esse é o único problema, então serei seu novo amigo, doce. - sussurrou o homem e naquele momento o pequeno Charles soube que agora, talvez não ficasse sozinho sempre.

- Sim, você quer balançar? - murmurou o garotinho apontando para o balanço vago ao seu lado. O homem direcionou seus olhos negros para o balanço e afirmou com cabeça, mas antes entregou o pirulito para o garotinho que abriu um grande sorriso, estendendo suas mãozinhas para pegá-lo. - Como é seu nome, amigo? - indagou com curiosidade enquanto levava o doce aos seus lábios róseos, degustando o mesmo, fazendo uma bagunça com o pirulito, melando sua boca e tingindo ela com as diversas cores que o decoravam.

- Como você quer que seja meu nome? - perguntou o homem e por um pequeno lampejo o garotinho pensou ter visto seus olhos mudarem do preto total para o cinza. Qualquer outra criança teria ficado com medo desde o primeiro momento que botara os olhos naquele homem, notando que seu olhar era diferente dos outros. Totalmente escurecidos, mas aquilo apenas chamou mais ainda a atenção do garotinho que agora balançava suas perninhas enquanto segurava o doce colorido.

il appartient au diableWhere stories live. Discover now