Capítulo 21 - Fogo contra fogo.

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O garoto de rosto pálido continuava estático sobre o corpo sem vida, temendo que quaisquer barulho pudesse fazer aquele momento mais real. A garota, antes morena e sorridente se encontrava pálida e gelada sobre o chão de madeira velha, coberta de objetos cortantes que anteriormente haviam atravessado seu corpo com velocidade Impressionante.

O sangue cobria as rachaduras no chão com maestria, como um quadro branco jorrado de tinta recém fabricada, real o suficiente para deixar qualquer pessoa paralisada o suficiente para abafar um grito certeiro. O menino por outro lado, diferente da maioria, não temia pelo que fizerá, mas pelo que aconteceria de agora em diante.

"Você fez uma bela sujeira."

Comenta a voz com cautela, observando o líquido se espalhar entre um canto a outro com Impressionante admiração, como se o objetivo do assassino fosse justamente esse. Charles se vira pra trás anciosso, vendo o homem olhar sem qualquer expressão para a carne morta jogada sobre o chão, se perguntando o que ele estaria pensando.

- Eu não fiz de propósito. - diz baixinho, temendo irritar o mais velho.

"Bom, isso é uma pena... Estava quase te elogiando."

- Era verdade? O que ela disse, sobre você me levar em bora. - pergunta nervoso, vendo os olhos dourados se virarem em sua direção.

"Talvez... Achei que fosse gostar."

- Eu não quero ir em bora! - grita assustado, tentando parecer corajoso.

"O que já conversamos sobre isso Charles? Sentir afeto por essas pessoas é um erro, no seu lugar elas não pensariam duas vezes antes de deixarem você morrer!"

- Isso não é verdade! - exclama contrariado, temendo estar errado. - Tia Félicité é muito boa comigo e sempre me traz presentes, Tia Lott sempre brinca comigo e Lewis sempre me ajuda no dever de casa, Tia Georgia sempre faz biscoitos pra mim e Phoebe e Dayse sempre assistem desenho animado comigo!

"Acha que isso significa alguma coisa? Pessoas são animais não domesticados, não importa o quanto eles tentem esconder, no final das contas eles são todos egoístas e mesquinhos."

- Mas...

"Eu não faço nada no final das contas, sabia? Eu só boto a ideia lá, mas quem escolhe o que fazer são eles. Todos eles se escondem atrás de cercas brancas, mas só eu sei o que eles fazem de verdade..."

- Não, não, não, não!

"Titia Charlotte é tão boazinha... O que será que ela está fazendo agora?"

- Não quero saber!

"E o que será que a doce noiva Félicité faz nas viagens a negócios?"

- Não quero ouvir!

"Lewis gosta tanto de crianças, mas nunca vai conhecer o próprio filho."

- Fica quieto!

"Tia Georgia é tão carinhosa... Então porque será que ela deixou o papai morrer?"

- Para de falar comigo! - grita assustado, caindo de joelhos no chão ensanguentado.

"Você sabe que tudo isso pode parar... É só você vir comigo."

- Mas e o papai? E o Freddie? - o garoto que antes parecia tão seguro de si agora se derramava em lágrimas, desejando calor humano em sua pele fria.

"Não precisa se preocupar, sua irmã já está de olho no Freddie, e eu vou cuidar do seu pai."

- Como?

"Não se preocupe, você só precisa confiar no papai."

O homem sorri gentil, se abaixando até a altura do menino e tirando os fios de cabelo dos olhos azuis. Ainda acanhado, Charles se aproxima lentamente do mais velho e passa os braços pelos ombros fortes, enterrando o rosto na curva de seu pescoço e sendo erguido do chão pelo mesmo, recebendo um singelo carrinho em seus cabelos macios.

il appartient au diableWhere stories live. Discover now