il appartient au diable

Capítulo 20 - Olhos de carvão.

Aquela semana estava mais agitada que o normal para Charlotte, que ficava cada vez mais cansada e inchada. Louis parecia cada vez mais distante, só passando seu tempo com Freddie, até mesmo se distanciando de seu marido, Harry. Ela se preocupava com seu irmão, e tinha medo que essa distância entre ele e seu cunhado poderia prejudicar as crianças.

Félicité e Georgia pareciam envoltas em suas próprias bolhas, não vendo nada a sua volta a não ser elas mesmas. Mas ela sabia que tinha algo muito estranho acontecendo com as pessoas naquela casa. As gêmeas pareciam diferentes, principalmente Phoebe, que parecia estar mais estranha que o normal, embora Charlotte gostasse de pensar que fosse a puberdade.

Charles estava sempre sumindo e Freddie estava com uma nova fase de falar sozinho. Harry parecia preocupado o tempo todo, e sendo sincera, ela também estava. Seu marido, Lewis agia estranho e ela tinha medo que isso tivesse a ver com o que os dois tinham descoberto semanas atrás.

Pensamentos estranhos passavam por sua mente como uma névoa densa de fumaça, inebriando seus sentidos e sufocando seus pensamentos. Uma voz sibilante sussurrava em seus ouvidos durante a noite, como uma cobra se esgueirando através de sua mente, como se a forçasse a ter ideias que não eram suas realmente, coisas como "Você tem que fazer alguma coisa, não pode deixar isso acontecer." Ou "Ele vai esquecer você, vai ficar sozinha e triste..." Entre outras coisas que faziam Charlotte se sentir culpada por pensar.

Afinal, ela lembrava claramente de como havia conhecido Lewis, eram jovens e sonhadores e só queriam fugir do que quer que achassem que os prendia. Como era irmã mais velha junto de Félicité e Louis sempre estava muito ocupado com a faculdade e trabalhos extras, ela e a irmã tinham de cuidar das irmãs mais novas e os bebês, nunca podendo ir pra festas ou saindo de casa para fazer o que gostavam. Quando conheceu o garoto bonito com uma lábia fácil nem pensou nas consequências ou se importou se ele era o garoto certo, só queria ser uma garota normal, fazer o que as garotas da sua idade faziam.

Não se importou que ele tivesse a levado pra comer um hambúrguer barato em uma lanchonete meia-boca, não se importou com o que as outras garotas diriam de si, não se importou se sua primeira vez fosse com um garoto que acabará de conhecer. Depois que ele terminará o serviço, a deixando com uma dor horrível e latejante e a sensação agonizante de queimação, ela se sentiu pequena e insignificante, enquanto aquele estranho líquido escorria pela perna e o garoto se vestia rapidamente, sem se importar de verificar se a garota estava bem, Charlotte Tomlinson chorou, chorou como uma garotinha assustada que tinha fugido de casa em um falso ato de rebeldia.

Porque uma parte dela, uma pequena parte escondida sobre camadas de insegurança e insuficiência, acreditava que Louis e Félicité viriam a buscar e dizer que tudo ia ficar bem, que ela era única e especial e eles sempre estariam alí por sua irmãzinha. Parte dela se sentiu mal, como se uma estranha força invisível a sufocasse a ponto de a deixar tonta, mas outra parte, uma obscura e tampada sobre falso pretexto de bondade, pedia arduamente para que tudo voltasse a ser como antes, quando sua mãe ainda estava viva e seus irmãos a protegiam dos meninos mal-intencionados, porque ela era a mais nova, a favorita.

"Tudo teria sido diferente se seus irmãos não tivessem nascido."

Pela primeira vez em muito tempo, ela concordou com a voz sibilante que sussurrava profanidades em seu ouvido. Charlotte desejou que as gêmeas nunca tivessem nascido, implorou para que tudo voltasse a ser como antigamente, suplicou a quem quer que fosse para que sua mãe voltasse, e almejou para que fosse a filha mais nova novamente. Só ela, Félicité e Louis.

"Posso te ajudar... Você só precisa fazer o que eu disser, e vai ter sua família perfeita de volta!"

- O que eu tenho que fazer? - sua voz saiu rouca, quase como se não tomasse água a muito tempo. Anciossa.