Capítulo três: O casamento

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Tudo estava feito e por incrível que pareça, um peso saiu de minhas costas.

Depois que assinamos o contrato e o casamento civil  foi realizado, pedi para ir ao banheiro, precisava ficar alguns instantes sozinha. Então segui para o fundo da sala onde assinei o contrato e casamos, abri a porta e me tranquei no banheiro. Parada de frente para o espelho na parede, pude enfim soltar toda a angústia que estava acumulada dentro de mim por todas essas horas. E então chorei.

Lágrimas caiam de meus olhos e molharam toda a minha bochecha até pingarem  na pia branca. Eu estava no meu limite.

Ao me olhar no espelho, não consegui me reconhecer. Não era eu mesma ali, parecia ser outra pessoa, talvez, ali eu estivesse mais parecida com Isabella do que eu pensava. Eu nunca faria uma coisa dessas se estivesse no meu juízo perfeito. Isso não era do meu feitio. Mas, tudo em minha vida mudou há poucos meses  quando recebi a notícia de que minha única irmã tinha sofrido um grave acidente de carro.

Isabella estava em outro estado na casa de amigos de farra, e após dirigir em alta velocidade e embriagada, seu carro bateu num caminhão de grande porte e ela sobreviveu por milagre. Nossa mãe já tinha partida há alguns anos,  éramos eu, Isabella e papai nesse mundo, minha avó também já tinha partido, e só me restava eles. Isabella desde então ficou em coma profundo, ninguém sabia... Mas a vida continua. Depois da morte de minha mãe, papai tomou a frente da empresa de nossa família, mas ele não era um bom administrador, levando nossa empresa a falência. Minha mãe já havia partido, minha avó também, nossa empresa estava indo de mal a pior com o passar dos anos, e quando tudo parecia perdido, surgiu Conrado em nossas vidas.

Ele explicou ao meu pai tudo o que seu avô deixou escrito em testamento. E imediatamente meu pai concordou. Nossa empresa sairia do buraco e ainda por cima, Isabella, faria um bom casamento. Tudo parecia perfeito. A única coisa que  Conrado pediu foi um tempo de dois anos antes do casamento, até lá, ele ajudava nossa família financeiramente, Conrado queria passar esses dois  anos longe  como uma forma de curtir seus últimos anos de solteiro. E meu pai claro, concordou. Conrado só havia visto minha irmã uma única vez desde então.

No entanto, quando Isabella se acidentou e ficou em coma, meu pai viu a única chance que tínhamos de sair do buraco ir por água a baixo. Com Isabella assim, Conrado poderia voltar atrás no acordo e tudo iria piorar. Meu pai fez de tudo para que a situação de Isabella não vazasse, subornou médicos, e manteve o tratamento de Isabella em casa, para que ninguém soubesse de seu estado. E o pouco dinheiro que Conrado nos dava, era revertido pra isso, esconder dele a verdade. Quase ninguém sabia de minha existência, por ser mais reservada e morar desde a adolescência no sul do país, meu pai e Isabella nunca fizeram questão de mim. E depois que mamãe se foi, eu era mais como uma estranha. Mas depois que Conrado ligou para meu pai avisando que estava voltando para o país para se casar com Isabella, meu pai bolou esse plano. Enganar Conrado o fazendo pensar que eu era  Isabella para que ele desse  o dinheiro para salvar a fábrica.

Eu nunca concordei com isso, por mim já que a fábrica estava falindo, por mim ficasse como estava. Mas  tinha Isabella no meio de tudo isso. Se Conrado soubesse da verdade, não iria continuar nos ajudando e com isso, Isabella não teria o tratamento que estava tendo. Tínhamos esperanças que um dia ela acordasse, e era em nome dessa esperança, que eu concordei com essa loucura.

Olhei novamente para o espelho e vi uma mulher triste e desolada

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Olhei novamente para o espelho e vi uma mulher triste e desolada. Era eu. Apesar de estar muito bem arrumada, com um vestido sutil  de noiva e pouca maquiagem, me sentia a mulher mais infeliz desse mundo. Meus cabelos estavam amarados num rabo de cavalo alto meio bagunçado, com alguns fios soltos dando um ar mais leve, minha maquiagem era a prova d'água, o que me ajudou a chorar sem me preocupar em borrar. Tentei me recuperar do momento de fraqueza, e, após alguns minutos, abri a porta do banheiro saindo dali.

Olhei a sala e notei que estava vazia. Apenas meu então marido estava lá. De costas para mim observando a vista da cidade que incrivelmente naquele dia estava fazendo um lindo dia de sol naquele outono nublado. Meu marido era um homem lindo, tenho que admitir. Mas, não era meu. Não era comigo, Isadora, que Conrado estava casado, e sim, com minha irmã.

A TrocaWhere stories live. Discover now