Capítulo dez: O vestido perfeito

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Desde que mamãe e vovó se foram, haviam dias em que eu sentia a falta delas ainda mais. Parecia que em alguns dias, saber que elas não estariam mais comigo era mais difícil que outros. Apesar de estar trabalhando no restaurante do Pepe e passar boa parte do meu tempo sempre me ocupando para não pensar nisso, quando a noite chegava e eu deitava minha cabeça no travesseiro, era inevitável não pensar nelas.

Papai sempre foi mais achegado a Isabella, desde que éramos muito pequenas, ele deixava bem claro sua preferência. Já mamãe, por ver que papai só dava atenção a Isabella, tentava ao máximo estar presente em minha vida, na tentativa frustrada de não deixar a ausência de papai em minha vida se tornar um enorme vazio. Mais isso já tinha acontecido. Conforme íamos crescendo e as preferências de Isabella e de papai se tornavam as mesmas, cada vez mais me via longe de papai, e com isso, me achegava mais e mais a mamãe.

Depois de mamãe, vovó foi meu referencial, meu porto seguro e minha maior inspiração. Eu não sabia sobre sua história de amor impossível, mais eu sabia sim, que existiu alguém em sua vida que a fez muito feliz, mais que esse alguém já não fazia parte de sua vida há muitos anos. Vovó nunca entrou nesse assunto, mais, nas poucas vezes que conversamos sobre amor e dores do coração, vovó deixava escapar o quanto o amor podia ser forte e intenso, mais também podia ser fraco e inexistente. Agora consigo entender suas palavras enigmáticas e profundas, vovó sabia muito bem o que dizia.

E com isso, peguei os ensinamentos de vovó e os guardei com muito carinho. Não me envolvi com ninguém. Claro que tive alguns namorados na época da escola mais não era nada sério. Eu sempre me lembrava que o amor era uma caixinha de surpresas, e que, nem sempre saia coisa boa de lá.

Mais ao ouvir as palavras de Pepe, confesso que algo em mim mudou.

Era como se, outro mundo tivesse sendo aberto para mim. Um mundo novo onde eu poderia explorar livremente seu interior. Era como se, minha mente tivesse sido aberta e com isso, meu coração tivesse se permitido experimentar coisas novas. Eu sabia que amor e desilusão andam lado a lado, mais eu me sentia pronta para descobrir em qual lado cada um estava.

Eu nunca pedi pra entrar nessa situação, nem fazer parte dessa história, mais se eu estava lá, era porque algo bom estava para  acontecer, e eu queria descobrir.

A semana passou voando. Logo o sábado chegou, e com ele, o tal evento, em que eu iria acompanhar meu marido.

Meu marido.

Ao pensar em Conrado como meu marido, sentia minhas pernas tremerem. Nossa primeira semana de casados não foi tão ruim como eu imaginei. Nos víamos pouco já que quando Conrado saia pra trabalhar eu ainda estava dormindo, e quando eu chegava em casa, ele estava dormindo. As vezes, tombavamos nos corredores da casa no meio da noite, mais era algo muito raro. E parecia que aquela distância, estava acabando comigo. Não sei como explicar, mais, eu sentia a necessidade de estar perto dele, nem que fosse por breves  instantes. O que estava acontecendo comigo?

— Pepe disse que você vai sair mais cedo hoje. — disse Carmem, garçonete do restaurante enquanto organizavamos as mesas.
— Sim, vou acompanhar meu marido num evento. — digo sem pensar. Ao notar que a frase saiu livre, sem nenhum tropeço, me pego em total surpresa.
— O que foi? Que cara é essa?
— Nada, é que, é tudo tão novo pra mim. — desabafo. Ela sorri.
— Isabella, eu sei que vocês só tem uma semana de casados, mas, aos poucos vocês vão se acostumando.
— É, acho que sim. — concordo sem graça.
— E o que vai vestir para a ocasião especial? — pergunta ela.
— Eu ainda não sei. Tenho muitas roupas, acho que vou com o que já tenho. — digo arrumando as taças na bandeja.
— Ah não Isabella. — diz ela seriamente. A olho confusa. — Você é casado com o homem mais rico do país, um dos mais poderosos do mundo. E está me dizendo que vai num evento importante pra seu marido com uma roupa qualquer? — pergunta ela parecendo brava.
— Não é uma roupa qualquer... — tento argumentar. Ela cruza os braços me encarando. Carmem era uma negra de pele macia e traços fortes. Seus cabelos eram crespos e muito bonitos, ela o prendia num coque alto que lhe dava uma certa elegância, era também um pouco alta e magra,  passaria por modelo muito fácil.
— No nosso horário de almoço, vamos as comprar senhora Lions. — diz ela seriamente.
— Carmem, não precisa, sério.
— Não discuta mocinha. Agora vamos terminar isso logo. — diz ela voltando a separar os talheres. Sorriu em resposta. Essa era a primeira vez que eu tinha feito uma amiga assim, tão naturalmente. Era como se meu mundo, estivesse expandindo.

E como Carmem havia dito se fez. Almoçamos rapidamente e seguimos para uma rua próxima onde havia muitas lojas e comércios. Carmem estava bem mais animada que eu, mais confesso que foi divertido ver sua empolgação, acredito que Carmem era a alegria que eu precisava ter na minha vida. Andamos por algumas lojas e "Carmem" não achava o vestido que dizendo ela, era o vestido perfeito para a ocasião.

Nunca fui de me preocupar com esse tipo de coisa. Não que eu não me importasse em estar apresentável, más, Isabella era a style da família.

— Ele não deu nenhuma dica de como vai ser esse evento? — perguntou Carmem enquanto olhava os vestidos nas araras da sei lá, décima loja que entramos.
— Não, só falou que é um evento da empresa. — digo.
— Ah, isso não ajuda em nada.
— Por quê?
— Precisamos saber como vai ser o estilo do evento para escolhermos a roupa. — fico sem entender. — Isabella, o "tema" do evento diz muito sobre qual tipo de roupa podemos usar. Se é muito formal, ou mais esportivo. Essas coisas. — faço que sim com a cabeça e ela volta a se concentrar na arara. — Achei! — diz como se estivesse encontrado ouro. A olho curiosamente, pois estamos ali há muito tempo, e a vejo tirar um lindo vestido, confesso, da arara.

Carmem tinha bom gosto, tenho que admitir. E valeu a pena a procura pelo vestido ideal. Era um vestido longo com uma longa fenda lateral. Justo até a cintura e conforme ia descendo até os pés, ia se abrindo numa saia leve e com bastante tecido. Havia um decote V profundo, e na sua parte de cima, era brilhoso, em cor mude com brilhos em prata. O vestido era perfeito.

— Eu não sei Carmem, é muito escandaloso

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— Eu não sei Carmem, é muito escandaloso. — digo me olhando no espelho. O vestido mostrava demais.
— Não é não, é perfeito. Combinou com você.
— Não sei...
— Você não tem costume de usar essas roupas não é? — pergunta ela, faço que não. — Percebi. Isabella, você vai arrasar, não se preocupe. Confie em mim. — faço que sim e então volto ao provador para tirar o vestido.

Saio da loja com o vestido em mãos e sinto como se minha missão estivesse cumprida. Carmem me aconselha a usar o vestido com um salto prata e maquiagem leve. Poucas jóias para que o centro das atenções seja somente o vestido. Me aconselha também, a fazer um penteado solto, já que vivo com meus cabelos presos por causa do serviço. E sei bem qual penteado vou fazer. Cachos soltos e meio bagunçados. Pra ficar diferente já que meu cabelo é liso.

E assim, nesse clima de cumplicidade, voltamos a trabalhar. Ainda teria uma longa tarde pela frente.

A TrocaWhere stories live. Discover now