Capítulo quatro: Zelar por ele.

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— Está pronta? — pergunta Conrado ainda de costas pra mim. Engoli em seco, ele parecia ser do tipo centrado, calmo e que sabia o que queria. Uma coisa percebi em meu marido, ele não demonstrava sentimentos nem emoções. 

— Sim, estou. — agradeci aos céus por ter conseguido dizer alguma coisa. Conrado se vira  em minha direção, a sala enorme nos separava. Um em cada extremidade, e o silêncio gritante se fez presente. Conrado me olhou atentamente e naquele momento temi, será que ele iria perceber que quem está ali a sua frente não era sua verdadeira esposa?

— Então vamos. — disse ele e logo em seguida andei alguns passos em direção a porta.

Conrado abriu a porta e me estendeu a mão. Peguei em sua mão suavemente e senti um leve choque me dominar. Estranhamente, Conrado me fazia ficar cada vez mais sem jeito perto dele. Seguimos de volta para o elevador em total silêncio novamente. Ainda bem que meu marido não era de conversar, o que me  aliviava e muito. As portas do elevador se abriram novamente na cobertura, e todos ao nos verem, aplaudiram a  nós, reconhecendo que éramos finalmente um casal. Parados de mãos dadas ainda na frente de todos, observei todos que ali estavam na esperança de ver meu pai entre a multidão, e o vi. Meu pai estava mais afastado, ao canto, com um copo de bebida na mão, ele acenou com a cabeça em sinal de positivo, um modo silencioso de dizer que eu  tinha cumprido com meu papel e que fiz tudo certo. Algumas pessoas vinheram nos cumprimentar e nos dar os parabéns e a festa continuou. Após alguns minutos, meu marido diz que é hora de partimos, e novamente o nervosismo tomou conta de mim. Como será minha vida dali para frente? Como eu vou conseguir lidar com tudo aquilo e me passar por uma pessoa que claramente não sou? Ainda com essas dúvidas em minha mente, acompanhei meu marido e então saímos dali.

Entramos em seu carro de luxo e o motorista seguiu viagem.

Enquanto andávamos pelas ruas da cidade no começo daquela tarde, observei tudo a minha volta pela janela do carro. As pessoas lá fora pareciam felizes e radiantes, todos viviam as suas vidas como queriam, apenas eu, tive que viver uma vida que não era minha. Uma vida que eu não queria para mim.

Eu e Isabella sempre fomos muito parecidas fisicamente. Éramos gêmeas idênticas. O mesmo tipo de corpo magro e com algumas curvas, o mesmo tom de pele clara, os mesmos olhos azuis, o mesmo cabelo ruivo alaranjado liso, e as mesmas sardas no rosto. Só havia uma coisa que nos diferenciava, um pequeno sinal em forma de uma pequena bolinha preto, na coxa esquerda, era quase imperceptível, mas era o que nos distingui, eu tinha esse sinal, Isabella não.

***
— É simples Isadora,  você finge ser Isabella,
Casa com Conrado e garantimos nosso futuro. — disse meu pai seriamente. O olhei surpresa e em choque ao ouvir suas palavras.
— Eu não vou fazer isso. — falei  com lágrimas nos olhos. Eu sempre odiei a forma como meu pai passava por cima de tudo e todos para conseguir ter sucesso em seus planos. Nesse quesito, ele e Isabella eram parecidos.
— Pense em uma coisa. Você não vai estar fazendo nada de errado, o casamento é para a neta da família, foi o que o velho estabeleceu no testamento, você é da família, é neta, não está fazendo nada errado. — tentou argumentar ele.
— O acordo foi firmado com a Isabella, não comigo. Eu não sou ela, parecemos fisicamente mas não sou ela, somos duas pessoas completamente diferentes. — deixei claro.
— Eu sei disso Isadora, mas entenda bem, não temos outra solução. A empresa está falida, não temos mais dinheiro. Esse acordo veio em boa hora, vai ajudar a levantar a fábrica novamente, pense nas famílias de trabalhadores que poderão se beneficiar disso, você sabe que temos muita gente trabalhando para nós, muitas famílias dependem de nós. E agora, tem a sua irmã também. Depois que ela sofreu esse acidente, só Deus sabe o quanto venho gastando com remédios e equipamentos pra manter ela em casa, se não fosse a mesada que Conrado dar todo mês, nem sei o que seria da sua irmã. — disse ele com pesar. — Eu sei que parece ser uma proposta discabivel e louca, mas, foi a única forma que encontrei de tentar salvar a empresa e o tratamento de sua irmã. Não é por mim, mas é por nós. — concluiu ele.
— Papai, eu não sei... — tentei argumentar.
— Não precisa decidir agora, pense a respeito, me dê uma resposta até amanhã. Como eu já lhe disse, Conrado ligou avisando que volta ao país em três semanas. Preciso resolver isso o quanto antes. — disse ele seriamente. Fiz que sim. — Isadora, somos só eu, você e sua irmã. Não sabemos quando ela vai acordar nem se um dia ela vai acordar, então vamos ao menos lhe dar algum conforto, e em relação a fábrica, um dia ela será sua, estou fazendo isso por você, é o único patrimônio que sua mãe deixou, vamos zelar por ele. — disse ele, em seguida saiu da sala me deixando sozinha.

Zelar por ele!

que presunçoso de sua parte dizer isso!

Foi meu pai quem deixou rolar por ladeira a baixo a empresa da família da minha mãe, nosso único bem, nosso único patrimônio, e agora ele quer tentar salvar? Não contive o sorriso irônico ao pensar nisso. Aquela empresa era a vida da minha mãe, ela havia herdado de seu pai e sonhava um dia passar para nós, suas filhas, mas antes que ela pudesse cumprir esse desejo, foi vencida pela leucemia e desde então, papai, é quem toma conta de tudo, e deu no que deu. A empresa estava falida, a fábrica de tecidos já não era como antes e minha tristeza a esse respeito só aumentava.

A proposta que meu pai me fez foi horrível, confesso. Mas, ao pensar nisso, em tudo de ruim que poderia acontecer conosco, com a fábrica, e com minha irmã, que dependia desse dinheiro pra ter um conforto melhor em seu leito, me vi perdida em duas direções. Eu não sabia para qual lado seguir. De um lado, estava minha integridade, meus valores e princípios, de outro, estava a empresa, os funcionários que dependiam dela e suas famílias, e minha irmã, o que aconteceria com todos nós quando o dinheiro acabasse e não termos mais a quem recorrer? Conrado não iria aceitar se casar comigo Isadora no lugar de minha irmã. As pessoas mau sabiam de minha existência, sempre me escondi desse mundo que meus pais e Isabella viviam, todos sabiam que os Lions tinha  palavra e eram   coretos, se Conrado havia fechado um acordo com Isabella, era com ela que ele iria firmar esse acordo, não com uma estranha que surgiu do nada. Eram tantas coisas em jogo, que no final eu cedi.

Aceitei fazer a troca e me passar por minha irmã.

A TrocaWhere stories live. Discover now