Capítulo sete: Ela é minha mulher.

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Na manhã seguinte, decidi que era hora de dar um rumo a minha vida, ou tentar. Acordei cedo e me arrumei, saí em seguida. A casa parecia vazia e estava silenciosa, então segui.

Enquanto o táxi seguia para o local indicado por mim, segui certa de que esse seria um dia promissor.

Eu tinha rejeitado a mesada, não iria ficar dependendo do dinheiro de Conrado, por mais que tinha uma profissão, eu estava vivendo a vida de minha irmã, que nunca se importou em estudar e muito menos trabalhar. Eu precisava conseguir um emprego. Mas onde? Na empresa da minha família, eu não poderia recorrer, meu pai não aceitaria que eu trabalhasse lá. E nem consigo imaginar como ele iria reagir ao descobrir que rejeitei a mesada. Isabella não tinha uma profissão, nunca trabalhou na vida, então decidi tentar algo que o seu perfil se encaixasse. Me lembrei que nos anos em que eu estava estudando na faculdade, trabalhei algum tempo como maître em um restaurante italiano, sei que será difícil conseguir emprego nessa área, pois Isabella nunca trabalhou na vida, mas não custaria nada tentar.

Depois do jantar, na noite anterior, pesquisei alguns restaurantes que estavam contratando maître, e por coincidência, havia um restaurante italiano no centro da cidade, num bairro nobre, que estava precisando para esta função, e era para lá que eu estava indo.

— Buon  giorno signore.  — digo ao senhor que me recebe no restaurante. Ele sorri.
— Buon giorno, senhorita. — diz ele alegre.
— Vim para a entrevista, vi no site que vocês estão precisando de um maître. — digo. Ele me olha atentamente.
— Tem experiência? — pergunta curioso.
— Si, mas não na carteira. Trabalhei algum tempo num restaurante italiano como este, era maître, por isso busco essa vaga. — digo confiante.
— Entendo... — ele parece pensar. — Fala italiano?
— Um pouco, aprendi um pouco trabalhando, mas me saio bem. — digo.
— Facciamo Il test, se funziona, Lavoro e suo.( Faremos um teste, se der certo, o emprego é seu) — diz ele me olhando. Sorriu.
— Ottimo, secondo.(está bem, de acordo).— digo com um sorriso de animação.

O simpático senhor que me diz ser neto de italiano, me mostra o restaurante que herdou de seu pai, e que esta na sua família há três gerações. Orgulhoso, ele me mostra cada canto do lugar, e eu me esforço para conhecer e aprender tudo o que preciso já que em breve, o restaurante irá ser aberto para mais um dia de movimento.

A manhã passou rápido, conheci todos os funcionários que foram chegando para mais um dia de trabalho, e logo o restaurante foi aberto para o público.

Sorrindo, vestida num vestido tubinho preto de alças finas e cabelo preso, com uma leve maquiagem e scarpin preto, atendo os primeiros clientes e posso garantir, estava indo bem. Os olhos atentos do Sr. Guiuseppe, me observam, mas não me deixo abater pelo nervosismo, dou o melhor e vejo que ele se agradou de mim na medida que se afastava cada vez mais do meu campo de visão, era um sinal que ele confiava em mim, e eu estava orgulhosa disso.

Já era duas horas da tarde, quando alguns homens vestidos com ternos bem alinhados chegaram ao restaurante.

— Buon pomeriggio, Benvenuto. ( Boa tarde, bem-vindos) — digo sorrindo.
— buon pomerrigio signorina. ( Boa tarde, senhorita) — diz um deles sorrindo. Fico sem graça, percebi que este senhor está sorrindo além do esperado.
— Mesa para quatro. — diz outro olhando a situação atentamente e desconfiado, ele parecia ter percebido algo com seu colega sorridente. — Estamos esperando um amigo. — diz e faço que sim.
— Me acompanhem por favor. — os conduzo até uma mesa mais afastada e lhes entrego o cardápio, me afasto um pouco para deixá-los a vontade mais percebi que além do senhor que falou comigo em italiano, o outro senhor que deu um fim aos olhares de seu amigo, me olha curiosamente, e tenho a leve impressão que já o vi, mas não sabia de onde.

O garçom anota os pedidos e sigo pelo restaurante verificando se está tudo em ordem. Há poucos clientes, já que o horário de maior movimento percebi ser ao meio-dia, como já passava das duas da tarde, percebi que era o horário de menor movimento.

— Isabella. — ouço a voz do senhor Guiseppe me chamar, me aproximo dele e ele me diz. — Atenda aqueles clientes da melhor maneira que você conseguir, são clientes importantes que sempre vêm aqui e consomem muito. — faço que sim e então o senhor volta para a cozinha.

Como o senhor Guiseppe havia dito, sigo em direção da mesa do único grupo de clientes que ali estão, e vejo que o quarto homem já se juntaram a eles.

— Olá, está tudo do agrado de vocês? — pergunto com um leve sorriso. Aquela altura, minhas bochechas já doíam de tanto forçar o sorriso. O último homem que chegou se vira para mim, pois estava de costas ao meu lado, e ao vê-lo, meu coração quase salta pela boca.

Era Conrado.

Ele me olha atentamente, como se estivesse surpreso mas contido. Eu o olho surpresa, realmente não esperava vê-lo ali, mas me contenho, estou no meu local de trabalho. Olho para o homem que antes me olhava atentamente e logo a ficha caí. Lembro dele no dia do meu casamento, foi ele quem anunciou e deu as boas vindas a Conrado, ele era seu sócio. O mundo naquele momento não ficou pequeno, ficou do tamanho de um ovo.

— Sim senhorita, está tudo do nosso agrado. — diz o sócio de Conrado quebrando o silêncio gritante que ali se fez. O agradeci mentalmente por isso. Fiz que sim com a cabeça. Quando me virei para sair e me ver livre dos olhos atentos e confusos de Conrado, ouço um dos homens me chamar.
— Senhorita? — me viro novamente com aquele sorriso leve e forçado no rosto e vejo que quem me chamou foi o outro homem, o que me olhou de maneira estranha quando chegou, engoli em seco.
— Sim? — digo da maneira mais educada que consigo. Aquela altura já tinha percebido que aquele homem seria uma pedra em meu caminho. Ele me olha com uma certa malícia e vejo que todos a mesa perceberam isso, inclusive Conrado que já não estava virado pra mim e sim, para o tal homem.
— Tienimi compagnia quando partire da qui?! ( Me faça companhia quando sair daqui?!)— diz ele num tom brando, como se não estivesse falando nada demais. O olho sem reação. Neste momento, todas as atenções se voltam para mim. E pedi a Deus para que Conrado não falasse nem entendesse italiano. Mas pela sua feição de desentendido, percebi que ele não entendeu um só palavra. Olho para seu sócio que faz sinal de não com a cabeça, e percebo que não, eles não falam italiano. Respiro um pouco mais aliviada, mas ainda preciso lidar com o tal homem. Sorriu um pouco mais sério e forçado, mais que o normal, para mostrar minha insatisfação com a pergunta.

— Non ho capito. ( Não entendi) — digo sem graça. O homem me olha atentamente, ele sabia que eu tinha entendido sim sua proposta, só não tinha uma maneira educada de o responder, ele ri deixando claro sua mal intenção.
— O que ele disse? — ouço a voz de Conrado me perguntar. Olho para ele que parecia sério e bravo, todos ali já tinham percebido o clima ruim que estava. Enguli em seco. Como iria dizer isso a ele?
— Não foi nada, — digo o olhando. Olho para todos e falo. — Bom apetite. — me viro para sair, mais antes que eu dê meu primeiro passo, sinto uma mão segurar firme em meu antebraço.

Não, não faça isso, digo mentalmente. Eu precisava daquele emprego, era meu primeiro dia, eu estava sendo testada, estava tudo indo bem, e no entanto, agora tudo estava indo num rumo que não daria mais nada certo.

Me viro e meus olhos vão de encontro aos olhos de Conrado. Ele me olha seriamente, como se estivesse a um ponto de explodir.

— O senhor pode me soltar? — pergunto baixinho. — Estou no meu local de trabalho, não faça isso. Por favor. — suplico. Olho em volta e percebo que o senhor Guiseppe não está por perto, respiro aliviada.
— O que está acontecendo aqui? — pergunta o homem que me fez a proposta indecente olhando para nós. Conrado volta sua atenção para ele e ainda segurando em meu antebraço ergue minha mão onde estava o anel de casamento em meu dedo. Sinto minhas pernas tremerem.
— Ela é minha mulher! — diz ele em alto e bom som encarando o homem. O mesmo fica sem jeito, noto que de tão surpreso fica pálido, e eu ainda estava lá, parada, Conrado segurando firme em meu antebraço. — Diga isso a ele. — diz ele olhando para o homem. — Diga Isabella! — ordena.
— Sono tua moglie, siamo sposati. ( Sou sua mulher, somos casados)— digo seriamente. O homem me olha ainda mais surpreso. Neste momento, sinto meus olhos se encherem de lágrimas, e tento a qualquer custo as segurar.

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