Capítulo dezoito: Eu o amo

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Por que? Por que que tudo na minha vida era assim? Parecia que eu estava destinada ao fracasso. Logo agora que as coisas estavam se ajeitando, logo agora que tudo estava dando certo, como eu iria lidar se um dia Isabella acordasse e quisesse tomar seu lugar na vida de Conrado? E ele? Como ele iria reagir ao saber que tudo foi uma farsa, que eu o enganei. Meu peito doía só em pensar em todas essas possibilidades, e um medo me dominou, eu não queria o perder, eu o amava.

Tudo aconteceu tão depressa entre nós que eu simplesmente não acreditava que  estava o amando. Mais Conrado havia despertado em mim, tantos desejos e sentimentos bons, que ama-lo foi inevitável.

- Aconteceu alguma coisa? - ouço sua voz me tirar de meus desvaneios. O olhei atentamente saindo de meu transe, e lá estava ele. Ainda Sentado a minha frente a mesa da sala de jantar, naquele momento eu desejei com todas as minhas forças que Isabella não acordasse, que ela nunca saísse do coma, e com isso me senti ainda pior. Eu estava desejando que minha irmã ficasse naquela cama morta ainda estando viva por puro capricho, simplesmente porque eu não conseguia contar a verdade a Conrado, e mais uma vez eu estava sendo covarde, tentando arrumar um jeito de fugir da situação.
- Sim, quer dizer, não. - digo engolindo o choro. Bebo um pouco de água que estava num copo a minha frente na tentativa de me acalmar, e deu certo. Aos poucos, senti aquela vontade insana de chorar ir embora. - Desculpe, é que, uma parente minha, está se recuperando de um acidente, me emocionei, é isso. - meu coração apertava com cada palavra falsa dita a ele, mais essa foi a única forma que encontrei de não mentir nem me denunciar. Ele me olhou atentamente.
- E essa parente, vocês eram próximas? - perguntou com ar de curioso. Não faça isso, por favor não entre em detalhes, dizia a mim mesma.
- Não tanto como eu gostaria. - falei amargamente, eu e Isabella deveríamos ser mais unidas, amigas talvez, mais tínhamos jeitos tão diferentes que isso era quase impossível. Se não fossemos idênticas, suspeitaria que não éramos irmãs. Não tínhamos nada em comum nem concordavamos com nada. Éramos água e óleo. Não nos misturavamos.
- Eu preciso voltar pra empresa. - disse ele ao se levantar. Agradeci mentalmente por ele já estar de saída ou não conseguiria disfarçar mais. — Me espere a noite, quero te levar a um lugar. — diz ele ao depositar um breve beijo em meus lábios, sorriu e então, Conrado se vai.

****

— Antônio, por favor, me leve a casa de meu pai. Aqui está o endereço. — dou um pedaço de papel com o endereço da minha antiga casa e entro no carro que estava estacionado na frente da mansão. Prontamente, Antônio entra no carro e seguimos.

Meu coração estava em pedaços. Cada vez mais me sentia perdida e confusa. Como eu iria lidar com tudo isso, era uma pergunta que não saia de minha mente. Meu Deus, só em pensar que eu poderei perder Conrado um dia, as lágrimas invadem meus olhos e eu não consigo me controlar mais, choro desesperadamente. Seco minhas lágrimas com a mão mais elas não param de cair. Era uma luta em vão, então desisti. Eu precisava chorar, colocar pra fora e desabafar. E foi o que eu fiz. A dor que eu sentia era enorme, o medo de perder Conrado, a angústia por ter lhe escondido a verdade, a insegurança de que a qualquer momento Isabella acordará, tudo invadiu meu ser de uma vez só, e eu me sentia aquela menina frágil que chorava no colo da mãe depois que caia na rua.

— Senhora? — ouço a voz de Antônio que quase não ouvia me chamar.

Abro os olhos e vejo sua mão erguida em minha direção no banco de trás do carro com um lenço. Pego o lenço com um leve sorriso.

— Obrigada. — digo ao secar minhas lágrimas. Ela faz que s com a cabeça e continua dirigindo. — Antônio, — digo chamando  sua atenção. Ele me olha pelo retrovisor do carro. Não sei como pedir isso a ele, não consigo encontrar palavras, apenas o olho pelo retrovisor também.
— Não se preocupe senhora, não direi nada a ninguém. — diz ele.
— Obrigada. — agradeço aliviada.

Seguimos viagem em totalmente silêncio, e aos poucos, fui me acalmando.

****

Entro no quarto de minha irmã e a vejo da mesma forma que a vi pela última vez no dia do casamento. Ela continuava deitada sob a cama com alguns aparelhos ligados a ela. Parecia estar dormindo, um sono profundo e pesado. As cortinas do quarto estão abertas e as janelas, entreaberta. A olho por alguns instantes e sigo para a janela. Fecho os olhos quando a brisa suave daquele final de tarde invade meu rosto.

— Eu o amo Isabella. O amo com todas as minhas forças. — digo enquanto uma lágrima solitária caí de meu olho direito. Respiro fundo, eu precisava manter a calma. Ainda com os olhos fechados, continuo. — Nós nunca fomos próximas, apesar de termos dividido o mesmo útero, o mesmo saco amniótico por nove meses, sempre tivemos nossas diferenças, sempre fomos o oposto uma da outra... — abri os olhos e enfarto a rua. Lá de cima, as pessoas embaixo parecem formigas. — Eu quero muito que você se recupere, fique boa, saia dessa cama... Más, eu também o quero, não sei se posso mais viver sem ter o amor dele, sem sentir seu cheiro, seu toque, o sabor da sua boca. Sabe, isso nunca me aconteceu antes. Eu nunca senti nem vivi nada parecido. E quando tudo parece que vai ficar bem, a vida me mostra que não, que eu não sou você, que nunca vou ser. Sempre odiei essa comparação que sempre fizeram conosco. Odiava quando mamãe nos confundia. — digo com um leve sorriso. — Mais agora, nunca desejei ser você, como eu desejo agora, e tudo isso pra o ter pra mim. Só pra mim.... — me viro e a olho. — Você nunca sentiu isso não é mesmo?! Nunca amou nem foi amada. Nunca se entregou de corpo e alma a um homem que também havia se entregado a você. Você nunca deu valor a essas coisas. Sempre viveu como se não houvesse o amanhã. E que se dane o amanhã não é? — digo com um certo repúdio. — Mais eu sou diferente, eu quero que ele faça parte do meu amanhã, do meu futuro, quero viver o amor que as mulheres de  nossa família nunca puderem viver. Isso parece um carma. Há três gerações não somos felizes no amor. Vovó, mamãe, e agora eu e você. — digo amargamente.

Encaro Isabella por mais um tempo e então vou embora. O que eu queria comprovar tinha feito, Isabella estava doesmo jeito que antes.

A TrocaWhere stories live. Discover now