Capítulo 3

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Green

Quando já não mais me havia esperança, sou puxada para fora, para fora de toda tormenta, e então me encontrei agachada, molhada, e com frio. Eu escutava vozes me chamando, pessoas falando comigo, mas o desespero ainda me afligia, quando algo gelado e afiado se posicionou contra meu pescoço

- Me diga quem você é, ou melhor, oque! – Disse o homem de olhos âmbar e sem expressão no qual apontava uma adaga em meu pescoço.

Assustada andei para traz com o apoio de minhas mãos e então me choquei contra algo quente, olhei para cima e vi um caldeirão, um enorme caldeirão. Desespero me atingiu novamente assim que desci meu olhar para as pessoas que estavam em minha volta. O homem no qual me ameaçou possuía asas, asas com garras, ele era lindo, perigosamente lindo, assim como todos os outros seres que estavam naquela sala. E então minha cabeça doeu, coloquei minha mão sobre ela, emitindo um chiado de dor, quando o macho avançou sobre mim novamente.

- Eu perguntei quem é você – repetiu. E então desabei em chorar

- Deixe que eu fale, ela está assustada Azriel – Minha mente despertou.

"Azriel?" - arregalei os olhos percebendo onde eu estava, se é que fosse possível.

E então aquela mulher, na qual deveria ter minha idade se aproximou, a passos de mim levantou a mão em gesto de paz, e me perguntou se poderia se aproximar e me tocar, assenti balançando minha cabeça levemente, mas olhando em minha volta temendo cada gesto, de qualquer um que lá estava.

Então ela se aproximou, ficando sobre os joelhos, se curvou para se aproximar de mim, e retirou uma mecha de cabelo dos meus olhos.

- Seus olhos são lindos – disse ela com doçura.

- O-obrigada – gaguejei ainda nervosa.

- Meu nome é Feyre. E o seu?

- Eu sei quem você é – Afirmei. E então ela se afastou minimamente levantando uma de suas sobrancelhas em surpresa e hesitação. Quando aquele mestre espião avançou um passo, assim como todos os outros se preparam para algo – Meu nome é Green e me desculpe, não queria os assustar não sei o que estou fazendo aqui – disse, contudo, abaixando a cabeça com o olhar pesado sobre todos em cima de mim.

- Você não é daqui né menina? – disse uma voz feminina e severa por trás de todos. Amren

- Acredito que não – Respondi, com toda sinceridade que pude transmitir, pois era a única coisa que eu sabia, eu não era daquele lugar.

Uma dor de cabeça novamente me atingiu e então apaguei.

...

Despertei, minha cabeça estava pesada, abri os olhos e luz penetrou minha íris, os cocei tentando focar minha visão, quando tudo se tornou nítido.

"Onde estou?"

Lampejos em minha mente me atacam, lembro do lago, lembro daquele livro velho e esquisito, e por fim me lembro de estar cercada por pessoas nas quais nunca imaginei que existissem.

Olho mais uma vez ao meu redor e vejo um quarto claro, de cores suaves, uma cama dossel na qual estou deitada, um guarda roupa branco, entalhado com fases da lua e ramos de espinho, uma porta entre aberta, na qual me guiaria até o banheiro se bem me ousasse em levantar de lá. Olho em outra direção e vejo, aquele homem dos meus sonhos, no qual colocou uma adaga em meu pescoço, sentado, a segurando, apoiado com os cotovelos em seu joelho e acariciando as lâminas daquele objeto como se fosse um de seus bens mais precisos, foco então em seus olhos, me encarando.

Levanto em um susto da cama me pondo contra o encosto dela, me cobrindo com o lençol macio no qual acaricia minha pele, o apertando contra mim, deixando os nós de meus dedos brancos, grito.

De repente, um homem adentra o quarto rapidamente.

- Falei para não a assustar irmão – diz ao macho sentado em minha poltrona.

- Não a assustei – O moreno reclama, não desviando seu olhar de mim.

- Vou chamar Feyre, se é que ela não escutou esse grito lá da sala.

"Feyre?"

Continuo posicionada da forma em que estava, não ouso o olhar. Foco meus pensamentos mais uma vez, em como vim parar aqui, foco naquele livro e o que ele seria, foco no caldeirão e por fim em todas as pessoas nas quais conheci. Seria um sonho? E se sim, por que estou com tanto medo se sempre sonhei estar aqui?

Sou tirada de meus devaneios por uma doce voz me chamando.

- Green?

- Como sabe meu nome? – tento falar, mas minha garganta arranha. Acho que ela entende, pois me estende um copo, contendo um líquido no qual acredito que seja água. Olho para o mesmo hesitando em pegá-lo - Nem mesmo sei o que colocaram nele, por que deveria aceitar? – Digo.

- Acho que deveria mesmo pegá-lo - ela caminha até a cama se sentando perto de mim, percebo que os machos naquele ambiente se enrijecem, como se o único dever naquele momento é de protegê-la. E então ela me estende o copo novamente, me dando um pequeno sorriso e piscando em minha direção.

Eu deveria acreditar nela? Se ela for quem eu penso ser, eu realmente deveria, pois só ela naquele momento poderia me tirar de lá. Não pelos seus poderes "A quebradora de feitiços" e sim por sua determinação, e sua devoção em sempre ajudar as pessoas. E eu nesse momento realmente preciso de ajuda.

Estico minha mão para pegá-lo e então pela primeira vez, e única permito olhar para mim mesma.

Meus dedos estão mais cumpridos, meus braços mais finos. Arrega-lo meus olhos, pulo da cama e todos se posicionam de modo que poderiam me atacar, corro desengonçada até a frente daquele espelho pendurado ao lado da grande porta que se dá para o banheiro, e então passo a me olhar. Estou lindamente, e perigosamente diferente, algumas curvas acentuadas, outras não, as maçãs de meu rosto mais avermelhadas, as olheiras nas quais eu possuía devido a uma vida corrida já não existiam mais, meus olhos brilhavam em um castanho cintilante, igual a meu cabelo, no qual transmitia vida e saúde, com aquela ondulação até o fim de minha coluna. Arrasto-o para trás da orelha e as vejo, lindas, elas estavam cumpridas, pontudas, como as da mulher que estava posicionada atrás de mim. Então me viro, para olhá-la, ainda com minhas mãos tocando naquela nova parte de meu corpo.

- Eu sou feérica? – Ela me olha com aceitação. Também já havia passado por isso.

- Graã-Feérica. – Afirma. E então sorrio.

- Eu sempre sonhei com isso – Digo chorando, caminhando até a cama e me sentando.

E então me passou uma cena da cabeça, de quantas vezes eu desejei aquilo, de quantas vezes eu desejei estar lá. De não ter problemas como um emprego em uma grande indústria, um cargo merecido, uma posição de alta classe perante a sociedade, ou de pelo menos receber o suficiente para sobreviver até o dia de minha morte. De não ter que me preocupar com meu futuro, meus estudos ou um amor. Mas estando lá agora, me parecia que isso não era problema o suficiente, perto daquilo que teria que presenciar. 

Corte de Chamas e SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora