Capítulo 5

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Me permito mais uma vez me olhar no espelho, e tudo me impressiona, em que momento da minha vida imaginei que isso um dia aconteceria de fato? Não me lembro de ter me sentido tão feliz assim. Ao contrário de Nestha e Elain, eu estava feliz com o caldeirão, estava grata por ter me tirado de lá, estava grata por estar perto das pessoas, nas quais mais admirei durante esse meu tempo sendo humana, pessoas nas quais não existiam de verdade, mas me tornava mais feliz, todas as vezes em que tocava em seus livros, me incluindo na história, me sentindo fazer parte de algo, e agora eu fazia, eu estava aqui, e dividia o mesmo espaço que elas, os mesmo ar, e neste instante os mesmos problemas.

Porém me olho mais uma vez e me lembro, lembro que não era sozinha no meu mundo, lembro de minha mãe, de minha vó, do meu pai, de minha cachorra e de minha família, o que seria deles sem mim? será que estão preocupados? Por quanto tempo eu sumi? O tempo aqui passa diferente do de lá? Então percebo uma lágrima escorrendo por meu rosto, lhe seco rapidamente, e sigo para o grande banheiro. Não seria agora que me preocuparia com isso.

...

Afasto mais uma vez meus pensamento de minha mente enuviada, levantando-me daquela banheira, a água quente relaxava cada musculo do meu corpo, corpo esse no qual ganhou curvas, mas meu peso? Ah ele continuou lá, não deixei de me sentir linda, eu poderia moldar meus próprios padrões nesse novo mundo. E nesse eu me permitia ser aceita da forma que sou.

Caminho até o quarto, e encontro em minha cama um vestido azul escuro, como a noite, em um tecido no qual me acaricia com um simples toque, simples, com suas mangas longas, porém aberto as costas. O coloco, em seguida prendendo meus cabelos parcialmente, deixando que caia sobre minha coluna deixando o que antes o que era a mostra, escondido por fios castanhos. Maquiagem não era preciso, o rubor em minhas bochechas dava o simples toque de vida, e então me pus a andar até aquela porta.

- Meu Deus! – exclamo colocando as mãos em meu peito.

- Quem é seu Deus? – Diz a mulher, com os cabelos presos em coque, na qual diria ser Feyre, se não fosse pela seriedade em seu rosto. Nestha.

- Deus! Quer dizer, ninguém. Você não conhece.

Ela estava escorada na parede apoiando um de seus pés, segurando um livro entre os dedos, de forma graciosa, na qual manteve a postura me olhando apenas de canto. O susto foi certeiro, dado de que ela estava ao lado de minha porta.

- Tanto Faz! – Abaixou o livro e passou a andar, a vi indo, e então ela me olhou suavemente, por cima dos ombros – Você não vem?

Corri desengonçadamente para alcançá-la. Deus, seria uma tortura me acostumar com essas pernas, porém ao chegar ao seu lado, recompus minha postura.

- Nestha, né? – Acenou.

- O vestido ficou bom em você, pode pegá-lo. – Seu rosto não me passava nenhuma outra expressão além de desdém, porém continuei a conversa.

- Era seu? – Esperei uma resposta, esperei – Obrigada! – Sussurrei envergonhada. – Para onde estamos indo?

- Você fala demais, não é?

- Desculpe. – Fiquei quieta. Após alguns longos segundos andando, ela disse.

- Aqui é o escritório de Rhysand. – E se retirou.

Aguardei, ainda processando o que havia acontecido. Respirei fundo ajeitando o vestido em meu corpo e secando as mãos soadas no mesmo. Dei três passos até a porta, respirando mais algumas vezes para me recompor e me preparar para o que vinha. Levantei meu braço vagarosamente e então bati, bati por três vezes naquela enorme porta de carvalho negra. Quando que por uma pequena gavinha de poder a senti ser aberta, e lá dentro estava a Grãa Senhora da Corte Noturna e seu Grão Senhor.

- Pode se sentar se quiser Green – Disse Feyre a mim, me guiando com seu olhar até a poltrona de estofado preto, com a mesma madeira que deve ter sido feita aquela porta.

- Obrigada, acho que precisarei mesmo. – Me sentei.

Rhysand imponente, adotando uma nova postura, deu a volta em sua mesa e se escorou nela, cruzando os tornozelos um em cima do outro, colocando suas mãos dentro de seus bolsos. Eu conhecia essa postura. E a feérica na qual dividia espaço conosco também, quando o olhou por cima dos olhos.

- Acho que não será necessário isso. – Apontei para ele, indicando as mãos no bolso, e todo o resto. – Sério, eu sei o isso significa, e tudo bem, gosto quando é com os outros, mas comigo – pausei, engolindo seco. – Meio que me intima, sabe. – Vi uma sombra de sorriso em seu rosto, quando ele se desencostou.

- Tudo bem. Por onde vamos começar então. – Cantarolou, se sentando ao braço da poltrona em que Feyre estava.

- Que tal pelo começo, novamente – disse Feyre - E depois você nos conta o que sabe, sobre os livros?

Então eu contei, contei sobretudo, minha vida na terra, o meu planeta, como era. Contei sobre o quanto essa nova realidade era meu refúgio, sobre o quanto eu desejava estar nela, sobre o medo no qual agora eu tinha de nunca mais ver minha família. E eu chorei, por cada emoção, medo ou alegria, desabei diante deles, para que vissem o meu ponto mais fraco, e o mais forte, porque eu desejava e esperava do fundo do meu coração que acreditassem em mim, e que me ajudassem.

- Então quer dizer que você sabe sobre Helion e Lucien? – Gargalhou Rhys, enquanto Feyre tentava esconder a diversão em seu rosto tampando sua boca.

- Confesso que o peso de uma coroa só não é tão grande quanto de um galho, Beron deve possuir fortes dores nas costas – Gargalhei, minha barriga doía.

- Com toda certeza – Rhys se levantou - Foi um prazer ter essa conversa com você Green, irei agendar uma reunião com Cass e Az, Amren certamente poderá ajudar também.

- Precisamos resolver isso, se o caldeirão nos enviou você, não deve ser atoa, ainda mais se você possui profundos conhecimentos – Feyre tossiu – sobre nós e nossa história. Sei que não pode nos contar sobre o futuro, e que também não possui grandes ideias sobre ele, mas creio que sua presença aqui será o melhor que teremos agora. Não sabemos de nada sobre as rainhas humanas, tudo anda muito quieto do outro lado. E você pode ser nossa solução. Mas fique tranquila, isso é uma via de mão dupla. Também iremos lhe ajudar a rever sua família, e voltar para seu mundo.

- Enquanto isso você poderá ficar aqui, o seu quarto e a casa, é todo seu, Cass e Azriel costumam dormir aqui também de vez enquanto, mas fique tranquila, eles não irão lhe incomodar. Quando quiser conhecer Velaris, é só nos avisar, ou chamá-los, que eles irão lhe levar lá para baixo. Acredito que 10 mil degraus não seja uma opção para você. – Sorriu, divertidamente.

- Não mesmo – Minha barriga roncou.

- A querida – Feyre me abraçou, me guiando até a porta - o jantar será daqui 1 hora, caso queira se juntar a nós. Enquanto isso podemos dar uma volta por aí, e assaltar alguma coisa na cozinha, o que acha? – piscou para mim, cruzando nossos braços. Pude ouvir a risada de Rhys a nossas costas.

- Se divirtam garotas!!!


Corte de Chamas e SombrasWhere stories live. Discover now