Capítulo 6

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- Tem certeza de que deveríamos fazer isso? – Digo olhando por cima de Feyre, na meia fresta da porta em que mantínhamos minimamente aberta. Para espiarmos se alguém passava pelo lado de fora daquela sala.

- A por favor, Rhysand não vai ligar, se bebermos 1 ou 2 vinhos de seu estoque.

- Mas Feyre, deve custar meu rim – Ela olhou avaliando a garrafa na qual segurava em sua mão.

- Dois, talvez. Última chance, é pegar ou largar – Ela chacoalhou a garrafa.

- Foda-se - Peguei as outras duas nas quais havíamos deixado em cima da mesa, saindo correndo de dentro daquela adega.

Corremos por diversos daqueles corredores, desviando de qualquer barulho que nos alarmasse e nos enfiando em uma biblioteca, na qual era só eu, Feyre, os Livros e uma boa garrafa de vinho. A tempos não me sentia tão feliz assim. Mesmo estando a apenas 2 dias naquele mundo, já me sentia mais livre que em qualquer lugar que eu estivesse antes disso, era como se fosse uma sensação de Lar, e família, em uma reunião de Natal.

Sentadas naquelas poltronas de frente a lareira ouvi desabafos da Grã-Senhora, na qual queria fazer mais por sua corte, por seu parceiro e por seu círculo, mas que não sabia o que fazer pois estava afogada pelos pensamentos e pela culpa. Nunca me senti tão solidária a alguém quanto me senti por ela, a sensação de querer, porém não ter forças para tal era o que me corroía também.

Quase uma hora de conversa, e duas garrafas já haviam ido. Olhei para o relógio de pedra na qual adornava a parede.

- Céus, está na hora do jantar – levantei-me, cambaleando. A feérica sorriu.

- Vejo que, ic, você não está acostumada a beber, ic – Disse soluçando, tampando a boca envergonhada – Pelo jeito nem eu.

- Isso foi a melhor coisa que eu já tomei – disse apontando para a taça de forma atrapalhada.

- Espere só para ver a comida – Ela me olhou, encarou a porta, e disse novamente – 1, 2, 3, quem chegar por último é a mulher de Beron – Eu a olhei incrédula, e quando ela pensou que eu não iria, eu disparei em sua frente.

- Mas nem a pau – Corri gargalhando, enquanto essa vinha a meu encalço.

Feyre em algum momento do percurso no qual eu havia passado direto por uma entrada, conseguiu passar a minha frente. Quando finalmente consegui a alcançá-la essa para subitamente.

- Droga, podemos fazer uma nova disputa? Nem a pau eu me caso com... – As palavras se perderam em minha boca quando vi o que ela olhava.

"Merda"

Rhysand sentado à mesa junto a todos do círculo íntimo, quando ele nos olha como se fossemos crianças nas quais havia acabado de aprontar e deveríamos ser punidas. Sigo seu olhar até minha mão, e então me desespero escondendo a garrafa atras do meu corpo. Quando a Grã Feérica soluça mais uma vez.

- Ic – Eu a cutuco com o cotovelo, falando pelo canto da boca.

- Estamos ferradas, não é? – E ela apenas balança a cabeça como se fosse um bebê arrependido.

Começo a brincar com os pés enquanto fico vermelha escarlate, com toda a atenção voltada para nós. Abaixo a cabeça querendo me enfiar em um buraco. Quando ouço uma gargalhada.

- Eu realmente gosto dela – diz Cassian. Feyre levanta a cabeça junto a mim, e perdendo o pouco da vergonha que ela ainda tinha na cara, caminha até Rhys de forma graciosa, parando ao lado do mesmo, mergulhando seu dedo em seu prato e o chupando.

- Hum, deliciosa! – Vejo minimamente ele se ajeitar em sua cadeira, e estrelas dançar em seus olhos.

- Não pense que me esquecerei disso Feyre Querida! – Ele fala de modo a tentar repreendê-la. Sem êxito.

- Tenho certeza de que não – Ela pisca em sua direção.

- A pelo amor da mãe, prefiro comer junto Bryaxis do que ver isso – Cassian exclama. E então eu solto uma risada na qual não consigo me conter.

Toda a atenção se volta para mim mais uma vez. E eu travo na hora.

- Vamos menina, sente-se, todos precisamos comer. – Então balanço a cabeça incansavelmente em concordância, porém paro quando vejo o único lugar disponível a mesa.

"Merda de novo"

Caminho até o local de forma lenta, tentando a todo modo me equilibrar para não pagar mais um mico ali. Quando chego ao lado do encantador de sombras.

- hurrum, com licença – Digo me sentando. e Feyre ri levemente. Ele me ignora, como se eu não estivesse lá. Relevo, afinal, ele é o espinhão da corte noturna, e não tem o costume de falar muito, não é?!

Delicadamente, pego de tudo um pouco do que estava na mesa, com toda certeza iria me deliciar com esse banquete. Iria devorá-lo, e se me sobrasse uns potinhos levaria para meu quarto para mais tarde. E então uma dúvida em minha cabeça. Será que aqui eles têm potes? Certamente minha vó ficaria bem triste se viesse para um outro mundo e não encontrasse potinhos por aí. Me pego rindo sozinha.

- Mais uma louca – Nestha na qual me encarava o tempo todo disse balançando a cabeça. Coro levemente e encho minha boca com um pedaço de frango para poder esconder a vergonha.

...

Já estava no final do jantar, minha barriga se encontrava cheia e minha boca seca, olho pela mesa a procura de algo para beber. Quando vejo ao lado de Azriel, uma jarra d'água.

"Inferno" – Os xingamentos estão se tornando constante em minha cabeça.

Mais uma vez coço minha garganta para lhe chamar a atenção, ele me ignora, mesmo eu tendo a certeza de que ele sabia que era para ele. Coço mais uma vez.

-Hurrum, licença, poderia pegar a água para mim. – Nem um movimento.

"Troglodita, desgraçado, idiota, arrogante"

Vejo que Azriel não se mexeria, e me ignoraria por mais um longo período, e então me levanto, e por entre o mesmo e o garfo em que esse levava a boca, passo meus braços tentando alcançar a garrafa. A Seguro trazendo-a para mim, quando esbarro em seu copo no qual vira com todo seu vinho sobre seu prato. Juro que não foi por querer, mas é inevitável não querer rir.

- Ops, desculpa! – Todo os olha de maneira receosa, enquanto ele só observava seu prato, o líquido escorria, até seu colo. Pego meu guardanapo na tentativa de secá-lo, porém acabo só espalhando mais a sujeira. Quando de maneira repentina ele se levanta em explosão.

- Já chega, inferno! – Seus olhos estavam escuros e suas sombras dançava em sua volta – Eu disse irmão, essa menina foi um erro, deveríamos tela matado assim que a encontramos. Deveria ter feito assim que os sugeri. Olha para isso, não consegue nem se equilibrar direito, além do que em um dia aqui já veio a te dar gastos gigantes bebendo seu vinho, comendo de sua comida e ocupando de nosso tempo. Isso é ridículo, ela é ridícula.

Nestha se levanta para dizer algo quando a corto levantando minha mão.

- Já chega digo eu, seu idiota – ando em sua direção – Você acha que eu queria estar aqui? – Grito – Você acha que eu queria estar longe da minha família? – O empurro com o dedo – Você acha que eu não sei que eu sou um tormento na vida de todos? – Empurro-o de novo – Ou você não acha que eu já tentei acabar com minha vida antes mesma de você ter a sugerido?

Seu maxilar trava, e seus lábios se tornam uma linha fina.

- Foi o que eu pensei, babaca! – E então me retiro do local, a paços firmes até meu quarto.

Ao trancar a porta atrás de mim, não me permito chorar, não iria continuar me machucando. Aqui eu seria quem eu quero ser, sem nenhum arrependimento ou desconforto. Aqui eu pisaria em pessoas como ele, e faria de tudo para poder me permitir ser feliz, só por essa vez, nem que seja pelo meu pouco tempo.

Me deito em minha cama, sem me trocar e adormeço.

Corte de Chamas e SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora