Capítulo 11

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Green

O jantar já havia se estendido por tempo de mais, eu não aguentava mais a ansiedade para saber o que Azriel queria dizer, ou talvez eu estivesse apenas apreensiva dada a toda circunstância. Não mais prestava atenção nas conversas, me encontrava desatenta sobre quais flores Elain plantou, a rotina de Feyre e Rhys e até os problemas da corte. A cada tic toc do relógio meu peito se apertava, e meus dedos tamborilando sobre a mesa demonstrava isso, mesmo não sendo intencional.

Rhys então se levanta, dando por finalizada a ceia, então todos os outros o acompanha em direção a sala, enquanto Cassian um tanto quando embriagado, caminhava com sua garrafa em mãos, resmungando coisas nas quais não consegui entender.

Continuo sentada imóvel em minha cadeira.

- Você não vem? – Pergunta Feyre

- Iremos conversar – Diz o encantador de Sombras a Grã-Senhora.

A mesma me olha, confirmando o que o macho havia dito, eu apenas aceno a cabeça, ainda sim amedrontada e insegura. E então ela se vira.

Silêncio.

- Vamos? – Ele me chama, enquanto aguardava para me guiar.

Tremendo confirmo, levantando-me rapidamente, vindo a perder o pouco equilíbrio que tinha dado a fraqueza do momento. Me apoio na mesa e percebo que ele não me encarava, então agarro a taça de vinho na qual ainda estava cheia e a viro de uma vez.

"Pra coragem" - Pontuo mentalmente

Recompondo-me passo a o seguir, sempre atrás, não ousaria andar ao seu lado, não ousaria conversar com o mesmo neste momento e abusar de sua boa vontade em tentar um diálogo. Então apenas o sigo calada e rezando para Deus, Caldeirão, ou seja, lá quem neste momento devo rezar, para que me proteja.

Ele me guia até a grande varanda da casa, e então se apoia com os cotovelos no balaústre, olhando para a cidade logo abaixo, linda, iluminada, perfeita. Paro ao seu lado imitando seu gesto, junto a ele passo a observar Velaris, enquanto o vento de inverno batia contra o meu rosto corando minhas bochechas e a ponta de meu nariz.

- Me desculpa – Ele pronuncia após longos minutos de silencio.

Desvio meu olhar da cidade olhando em seus olhos, e vergonha se passava neles, nunca imaginei o ver desta maneira, e me surpreendi ao ver o quanto o mesmo estava se esforçando para se abrir neste momento, e me pedir desculpa, nunca colocaria Azriel nesta situação, por mim tudo bem se ele apenas ignorasse tudo o que aconteceu, e começasse do zero, tudo bem que não me pedisse desculpa, por que ele sendo quem era, nunca me machucaria por muito tempo, ou me deixaria magoada. Porém eu estava disposta a ter essa conversa com ele, estava disposta em dizer o que sentia, já que ele também se esforçava em dizer o que pensava.

– Eu sei que fui um idiota – Tento dizer algo, mas ele me corta.

"É só que eu e minha família passamos por muito, não quero os ver em perigo, não tão cedo, e não saber nada sobre você me incomoda. Me incomoda saber que temos uma estranha no meio de nós, ou pior, que ela sabe tudo sobre nós, e sabemos tão pouco sobre ela, quer dizer, você. Não quero que se magoem, e depois se quebrem por acreditarem. E apesar de tudo me desculpa por descontar minhas frustações de ser um personagem sobre você, enquanto você só tentava ser educada com todos"

Meus olhos brilhavam com as lágrimas nas quais segurava. Me aproximo dele colocando minhas mãos sobre as suas, as segurando e mantendo meu olhar em seus olhos cor âmbar.

- Azriel, acredite em mim quando digo isso. Eu te juro, que nunca farei mal a sua família. Antes mesmo que vocês soubessem que eu existia, vocês já eram a minha, e eu jamais os machucaria. Vocês me salvaram, me tiraram do escuro, me fizeram acreditar que ele era preciso para podermos enxergamos a luz, e que nunca deveria ter medo dele, porque a escuridão também é abrigo e consolo. Vocês me mostraram um novo mundo, e um novo amor, mesmo que eu o vivesse por folhas, páginas. Foram vocês, eu sou grata por isso, porque me mostraram que apesar dos problemas, quando fazemos parte de algo, ou de alguém, não temos com o que se preocupar.

"E não tenha medo ou se sinta insignificante em saber que você é um personagem, todos somos um na vida de alguém, ou nas mãos do destino, tudo é possível assim como nada, mas suas escolhas e seu caráter, é algo somente seu, no qual ninguém pode mudar. E você tem isso de sobra, não é à toa que muitos te admiram em meu mundo, assim como eu"

Acaricio suas mãos com as pontas dos meus dedos, então as olho. As marcas de alguém que havia sofrido, as marcas de um guerreiro. Ele as retira depressa, notando minha atenção.

- Eu fui um babaca não fui?

- Típico de um Illyriano – Sorrio – Mas um com princípios – Noto a pequena sombra de um sorriso.

Voltamos a observar a cidade, enquanto pequenos flocos de neve caiam sobre nós. O tempo passou, e um silencio agradável entre a gente ficou.

Tudo se torna mais lento em minha volta, o sono me alcança, escoro minha cabeça em seu ombro em busca de apoio ao peso no qual se torna difícil de aguentar sobre meu pescoço.

- Sabe Az, se não fosse cedo demais eu te daria um abraço.

Azriel

Ela dormiu enquanto escorava sua cabeça em meu ombro. A pego no colo encostando-a sobre meu peito. Ando em direção a seu quarto no mesmo ritmo em que seu peito subia e descia.

Como nunca tentei conversar com ela? Ou pelo menos dar a chance de se explicar, se não fosse sobre grave ameaça? agora a vendo em meu colo, aninhada a meu peito, respirando pesadamente, só conseguia ver bondade, e amor. Assim como vi em suas palavras, quando disse sobre mim e minha família.

Ela não é inimiga, e talvez a única inimiga aqui seja minha mente, essa na qual insiste em me tornar um ser inferior e indigno de qualquer afeto, um ser que me torne apenas o assassino frio, e cruel em que sou.

Busco o auxílio de minhas sombras para abrir a porta, enquanto mantinha minhas mãos ocupadas, mãos essas na qual ela acariciou sem nenhum repudio, ou dó, as quais tirei depressa por temer me sentir vulnerável.

A coloco sobre a cama. Penso em como dormiria com aquele vestido, ou se deveria trocá-la, porém evito invadir sua privacidade. A cubro com a coberta. E então ela se aninha junto aos travesseiros. Permaneço por mais alguns momentos em seu quarto a observando e então viro para me retirar.

- Az? – Quando chegava perto a porta ela pronuncia meu nome

- Sim?

- Obrigada! – Diz, e então eu me retiro.

Corte de Chamas e SombrasWhere stories live. Discover now