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Martín

- Sim. - Digo um tanto duvidoso olhando para Julieta, duvidoso não comigo, mas com ela. Ela parece um tanto incerta e isso me acende a luzinha da preocupação.

- Maravilha! Parabéns aos novos sócios, Delvecchio e Pallavicini! - Enrico se levanta empolgado, puxando meus pais que se empolgam também.

Meus pais abraçam Enrico e Julieta e eu me aproximo, abraçando-os também. Primeiro abraço o patriarca da família Delvecchio e me aproximo da Julieta.

Não sei por quê ela me desconcerta tanto! Foram anos sem nos ver e assim que a vejo, tão bonita, tão pequeninha, como sempre foi, hajo como um adolescente, provocando-a, chamando sua atenção, tentando de tudo.

Um tanto tímida, ela ergue os braços em minha direção e eu a puxo delicadamente, a abraçando levemente...ela é tão perfumada. O abraço não dura nem cinco segundos, mas parece que foi tudo em câmera lenta.

- Vamos brindar! - Meu pai diz animado puxando minha mãe.

- Ah, Domênico vamos escolher um vinho. Um momento como esse merece um vinho! - Ela diz animada.

- Sim! Muito bem, vamos, Enrico? Confio nas suas escolhas! - Ele diz se referindo a adega subterrânea.

- Vamos! - O avô de Julieta responde com a mesma empolgação - os jovens não vão? - Ele direciona o olhar para mim e Julieta que negamos com a cabeça. - Pois bem! - Ele diz se afastando com meus pais.

Olho de lado, observando a ruiva, pensando em algum meio de puxar assunto ,quando percebo o leve franzir de cenho de Julieta, e sorrio quando ela aproveita a saída de todos e volta a comer sua sobremesa que havia ficado de lado com toda a importância do assunto.

- Julieta e sua sobremesa...- Digo para provocá-la, sorrindo com sua careta em resposta - Julieta, deixe-me fazer uma pergunta, você realmente está confortável com essa parceria? - Miro os olhos da ruiva em minha frente, buscando a verdade.

- Sim - Ela diz firme, mas os olhos estão hesitantes, não sei se posso confiar cem por cento nisso.

- Certo, e quando podemos marcar um encontro para falar do projeto? - Digo pensativo em relação a minha agenda.

- Uma reunião para falarmos do projeto? - Julieta corrige em tom irônico que me faz rir. - Conhece o Turim Ristorante? - Afirmo com a cabeça - Podemos marcar uma reunião na hora do almoço, na...- Ela faz uma carinha de pensativa. - Terça-feira?

- Pode ser, mas eu preferia que fosse na empresa, para ver documentos e essas coisas, porque não dá pra saber tudo da empresa. - Digo de modo pensativo.

- Eu vou levar alguns documentos, mas em todo caso eu sei tudo da empresa. - Ela diz confiante, ajeitando os cabelos rubros,para trás dos ombros.

- Dúvido! - Digo em desafio para a ruiva que fecha a cara em um jeito descrente. - Quantos funcionários tem na empresa?

- Mil, cento e oitenta funcionários em toda a Europa - Julieta sorri confiante.

- Quantos seguranças há em cada filial? - Pergunto gostando do desafio em seus olhos.

- Oito! 4 fixos e 4 em rondas. - Ela diz sem pestanejar.

- Quantas secretárias têm no prédio em que você trabalha?- Incito, buscando outras perguntas mais difíceis.

- Fácil! 15 fixas e 3 de função pessoal. - Caraca! Ela é boa.

- Tudo bem, uma última pergunta, quantos dos seguranças são casados ou possuem família? - Exclamo com um ar confiante.

- Quatro são casados, dois são solteiros e os outros dois são viúvos! - Julieta responde para a minha total surpresa.

- Uau! - Esboço sorrindo, pensando em como ela administra muito bem a empresa.

- Nunca subestime a minha memória, Martín- Ela diz firme e eu sinto que verei mais dessa fantástica memória nos próximos dias.

Meus pais e o avô de julieta voltam e servem nas taças o vinho, brindamos ao sucesso dessa parceria e bebericamos o vinho, percebo que diferente do licor, ela aprecia mais o sabor do vinho, o balançando e degustando devagar em uma conversa amigável com a minha mãe.

A noite vai caindo, ficando cada vez mais tarde e quase às dez da noite, Enrico e a neta levantam-se junto dos meus pais. Ambos abraçam meus pais e Enrico vêm até mim, me abraçando.

Por fim, ela se aproxima, ajeitando a manga da blusa, em um sinal claro de timidez.

- Obrigada por hoje. Terça feira no Turim. Vá de modo formal! - Ela diz em um tom levemente mandão, que me faz sorrir enquanto a puxo para meus braços, abraçando-a rapidamente.

Como eu gostaria de perdurar este abraço...

- Boa noite para você também, Juli! - Digo fazendo careta para ela que mostra a língua, igual quando éramos adolescentes.

- Boa noite, Martín. - Saúda acompanhando o avô, pelo braço em direção a porta.

No meu quarto eu repasso a noite de hoje, detalhe por detalhe

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No meu quarto eu repasso a noite de hoje, detalhe por detalhe. Com os olhos fixos no teto branco, como um adolescente, penso que fiquei igual um bobão procurando chamar sua atenção, não sei, ela me desconcerta e me faz fazer cada coisa.

De onde eu tirei aquele interrogatório sobre a empresa? E o pior! Ela sabia de tudo, só pra me mostrar que ela é atenta a tudo. E aquilo da memória dela? Foi um aviso? Devo me preocupar? Será que já causei algum mal que ela nunca esqueceu?

Viro e reviro na cama, pensando em Julieta. A preocupação sobre ela não estar muito confortável com a parceria me preocupa um pouco, não pelo lado pessoal, Juli e eu crescemos juntos, temos nossas diferenças mas nos damos muito bem.

Mas profissionalmente eu tenho algumas dúvidas, nunca a vi em ação, ela também nunca me viu em ação. Confio nela, mas isso pode mudar nossa relação para o bem ou para o mal. E eu definitivamente não quero obrigá-la a entrar nesse projeto sem estar realmente pronta.

Pensando em Julieta e, em sua fala final "Vá com roupas formais" sorrio enquanto pego no sono.

Esse vai ser um longo ano...

Uma CEO inalcançável.Where stories live. Discover now