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Martín

Observo os itens que Julieta me entregou com certa surpresa. Será que realmente estamos em perigo? Quem seria um suspeito? Ela confia em todos…

Saio do elevador e caminho para o setor de produção artística e procuro Francesco, o chefe do setor. Aproveito que ele está um pouco ocupado e observo o local.

É um ambiente claro, com as persianas totalmente abertas, com bastante luz natural, tem mesas grandes e apetrechos para desenhos por todo lado, moldes e até carvão.

Parece ser um ambiente onde eles criam a parte do papel, os estilos de roupas e agora o pendrive disfarçado faz todo sentido.

— Sr. Martín? — Escuto uma voz mais grossa do que eu esperava e volto meus olhos para Francesco. — Estava à minha procura?

— Sim. Como vai? — Aceno.

— Bem, eu acho...— O homem barbudo com cabelos longos e soltos diz em tom desconfiado.

— Que bom, vou ser direto. — Digo firme querendo acabar com a ansiedade do homem. — Acredito que você saiba o que ocorreu na apresentação de Carlos.

— Sim, estamos surpresos e ele não sabe em quem confiar.

— Sim, eu imagino. — suspiro olhando ao redor. — A senhorita Delvecchio quer que tudo seja garantido, por isso preciso que você se atente a tudo. Não confie em todos e cuidado com as informações importantes. — Sussurro. - Mantenha seus ouvidos bem atentos também. Nós confiamos em vocês e queremos que todo esse trabalho que estamos tendo seja valorizado.

— Oh, Claro! Pode deixar, vou me manter atento.

— Ótimo. — Tiro a caneta do bolso. — Por isso, vim até aqui lhe entregar isso. — Mostro a caneta. — Isso é um pendrive, disfarçado é claro. — Mostro lhe as funções. — Julieta é muito esperta, para não haver desconfianças, você assina todos os desenhos, escaneia e salva nesse pendrive. Depois nos devolve, não passe para ninguém e não deixe que ninguém saiba que isso é a cópia de segurança.

— Certo, farei isso. — Entrego a caneta ao homem que a olha com uma sinistra surpresa, acho que assim como eu, ele não esperava estarmos nesse nível.

— Obrigado, não se esqueça, confiamos em você! — Digo chamando o elevador que rapidamente abre no andar e eu entro da cabine apertando o botão para o andar da produção.

Do mesmo modo, assim que eu entro no andar da produção, o chefe também está bastante ocupado e me faz esperar um bom tempo. Eles são um tanto excêntricos!

Olho ao redor e desta vez mesas grandes, máquinas de costuras e manequins estão por todo lado, diferente do outro andar, muitas pessoas se movendo, se ajudando.  Deve ser um trabalhão.

— Sr. Martín? — Um sotaque francês me assusta e eu o miro. Um homem baixinho, tipicamente francês, com um monóculo me olha de modo ácido.

— Olá...sr? — Pergunto ao notar que esqueci seu nome.

— Pichón. Charles Pichón. — Ele arranha a garganta se apresentando.

— Certo, sr. Pichón, a senhorita Delvecchio está aguardando o senhor na sala dela.

— A senhorita Delvecchio? — O homem empalidece de tal modo que até me assusto.

— Sim, eu irei lhe acompanhar. Podemos ir? — indico o elevador e ele me acompanha.

Entramos na cabine metálica e o homem me fita de modo tão nervoso, que me constrange.

— O senhor, poderia me adiantar o assunto? — Ele decide perguntar.

— Ah, Claro. Ahn...Algo sobre o que ocorreu com Carlos.

— Oh, Céus! — O homem de repente, abre um leque e começa a se abanar.

Seguro o riso de sua reação dramática e tento me manter firme até chegarmos ao andar da presidência.

Na sala de Julieta, eu o acompanho e aguardo enquanto ela explica a questão da tesoura e pede encarecidamente que ele avise a todos os setores da têxtil que produza duas peças de cada item que vamos apresentar. Seja de roupas, sapatos e acessórios. Tudo tem que haver uma cópia de segurança.

Será que ela não está exagerando? Me pergunto. Mas às vezes a prevenção é  melhor do que o desastre acontecendo.

Depois que Pichón sai da sala, ela respira fundo e fica uns minutos de olhos fechados.

— Juli? — Me aproximo com cuidado. — Tudo bem?

— Acho que agora sim...— Ela sussurra, ajeitando as coisas em sua mesa.

— Encerramos tudo por hoje?  — Pergunto abraçando-a de lado.

— Ah...preciso comprar um presente para a Celina, o casamento é nesse fim de semana. — ela faz uma careta fofa que me tira um sorriso.

— Quer companhia? — Me ofereço.

— Ahn... é que eu queria aproveitar o final de semana e ir com as meninas, seria um momento irmãs, sabe?

— Sei sim...— Digo enquanto a acompanho entrando dentro da cabine do elevador. — Depois marcamos algo então.

— Claro, pode ser...— Julieta sorri enquanto arruma algo em sua bolsa.

O elevador para no quinto andar e suas portas abrem revelando Angelina toda descabelada.

— Sonhei que fui carregada por um príncipe de longos cabelos...— Ela boceja. — O que aconteceu?

— Você dormiu o dia todo! — Aponto rindo ao ver seu espanto.

— É sério isso?

— Sim...— Juli dá risada. — E você foi carregada por Maurizio, o segurança cabeludo.

— Ah! Mas gente! Cadê ele? — Ela aperta o andar da segurança frenética. — Precisamos bater um papo eu e ele

A garota sai a todo vapor, assim que o elevador abre as portas e depois Julieta e eu nos mantemos em silêncio, apenas nos olhando.

Saímos e seguimos para nossos carros no mesmo silêncio. Julieta acena para mim e entra em seu carro.

Enquanto eu aguardo ela sair, eu repenso tudo o que aconteceu hoje e um alerta ecoa em minha mente ... porque estamos tão estranhos um com o outro? Será que eu fiz alguma coisa? Ou toda a situação a deixou confusa?

— Tem coisas que nem sempre têm respostas, Martín! — Dou partida no carro e sigo para casa.


Uma CEO inalcançável.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora