Capítulo 15 - narração

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 Eu agradeço mentalmente quando consigo entrar na casa de John B de boa, sem precisar pular nenhuma janela ou quebrar a maçaneta e fingir que foi algum guaxinim de noite

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 Eu agradeço mentalmente quando consigo entrar na casa de John B de boa, sem precisar pular nenhuma janela ou quebrar a maçaneta e fingir que foi algum guaxinim de noite. Sim, isso já aconteceu.

Só quando eu entro e me jogo no sofá cama que percebo o porquê a porta estava destrancada - John B está sentado na poltrona, me encarando com a sobrancelha arqueada como os pais fazem quando os filhos adolescentes fogem para uma festa que eles o proibiram de ir.

— Fala aí, mano. Tá acordado até agora por quê?

John B parece com sono e, mesmo sem ele me responder, sei que estava me esperando chegar. Eu entendo, provavelmente estava preocupado e blá, blá, blá. Ele não costumava ser tão responsável assim antes.

Ele dá de ombros e pega o celular para digitar alguma coisa.

— Tava falando com a Sarah. E tu, cara? Se enfiou onde durante o dia.

Eu respiro fundo antes mesmo de responder, e talvez enrole um pouco enquanto tiro o sapato e me deito de qualquer jeito no sofá. É óbvio que ele está se fazendo de sonso para conseguir as informações que quer e tenho certeza que John B vai odiar minha resposta, mesmo que não tenha nada demais nela.

— Fui pra casa.

Dessa vez, ele não finge que está mais interessado no celular do que em falar comigo.

— Pensei que aqui fosse sua casa.

E é, tenho vontade de responder. Pelo menos a casa decente e minimamente segura que eu tenho para me esconder, mas aquela é a casa de verdade, onde eu constantemente tenho medo do humor do meu pai.

Não que eu deva sentir medo dele, sou bem mais forte e ele está sempre drogado, mas, ainda assim, eu sinto.

— Não começa, JB.

O garoto revira os olhos e se ajeita na poltrona o suficiente para me encarar exatamente como um adulto preocupado, o que é ridículo porque nós temos basicamente a mesma idade e, de novo, ele não é um exemplo de responsabilidade.

Eu já sei do que ele vai falar antes mesmo que fale.

— Foi por isso que não te falei, tá ligado? Não queria que surtasse.

Eu reviro os olhos e respiro fundo de forma dramática antes de responder.

— Eu não surtei, mano. Só fui pra casa porque sabia que meu pai não ia estar e queria ficar um tempo em paz.

John B arqueia a sobrancelha e eu passo a mão no cabelo e bagunço os fios. Sei que não deveria estar tenso por conversar com ele, mas não consigo impedir minha mandíbula de travar.

— Não tem nada a ver com Kie?

Só a menção do nome dela faz a boca do meu estômago pesar, principalmente porque sei que eles se divertiram juntos hoje. Aparentemente todos estão felizes com a volta dela - exceto eu.

— Não chama ela assim.

Ele é rápido na resposta.

— Você começou a chamar ela assim.

Eu sei. Eu que dei o apelido depois que ela reclamou que odiava seu nome porque não dava para chamá-la de algum jeito fofo. Ela gostou tanto que começou a assinar esse nome nos desenhos que fazia. Mas isso já tem tempo para caralho, não importa mais.

Jogo minha cabeça para trás até encostar nas costas do sofá.

— Foda-se, JB, não quero falar dela.

O garoto levanta as mãos em rendição, mas eu apostaria dois dedos que ele não tem a mínima pretensão de parar esse assunto antes de conseguir o que quer. E eu não tenho a mínima ideia do que é.

Posso sentir seu olhar sobre mim por mais alguns segundos antes de finalmente tomar coragem para o encarar com a sobrancelha arqueada. Então eu suspiro.

— Tá bom, pergunta de uma vez.

John B não perde a chance fingindo que não sabe do que eu estou falando.

— Não quer mesmo encontrar ela? Tipo, ver como ela tá e essas porras.

Eu não preciso pensar na resposta - ela é "sim". Eu quero para caralho saber como ela está e ouvir a voz dela, porque eu sinto sua falta como se ela tivesse ido embora ontem, e não há mais de um ano.

Como se não bastasse, eu queria procurar algum sinal nela de que ela se arrependeu de ir embora, e que sente minha falta também.

Mas ao invés de falar isso, eu só dou de ombros.

— Sei lá, JB. Ela deve continuar a mesma, linda pra caralho e ainda com a mesma mania de morder os lábios quando tá nervosa, apoiar a mão no rosto quando está cansada de falar e mexer no cordão o tempo todo.

O garoto na minha frente não consegue evitar o sorriso ao me ver falando e só por causa disso eu percebo que falei demais. Merda demais e agora ele nunca vai me deixar esquecer isso.

— Então sente a falta dela?

Eu reviro os olhos.

— Ainda é a garota que me deixou. Não sinto falta dela e definitivamente não quero vê-la de novo. Tá bom pra você?

Ele assente com a cabeça mas, no fundo, acho que nós dois sabemos que não é verdade.

O que é uma merda, porque eu sempre fui péssimo com essa porra de sentimentos e eu tenho tanto deles agora que mal consigo entender. 

Christmas wishes and Mistletoe kissesWhere stories live. Discover now