Capítulo 44 - narração

729 39 5
                                    

   Eu descobri há algum tempo que não sei lidar muito bem com minhas emoções

Oops! Questa immagine non segue le nostre linee guida sui contenuti. Per continuare la pubblicazione, provare a rimuoverlo o caricare un altro.

Eu descobri há algum tempo que não sei lidar muito bem com minhas emoções. É por isso que, quando meu celular toca o ritmo chato que anuncia uma ligação, eu estou jogada no tapete da sala de estar há no mínimo dez minutos, quando eu parei de responder às meninas no grupo.

A tela anuncia 'Rafe meu porto seguro' e eu atendo de uma vez, já que esperei um certo tempo para ver se realmente valia a pena esticar a mão e pegar o celular. Assim que a chamada inicia, a música que tocava na caixinha conectada via Bluetooth é interrompida para dar lugar a voz do meu melhor amigo.

- Estrelinha, tá aí?

Eu aceno com a cabeça. Demora uns três segundos até que eu perceba que ele não pode ver, então respondo:

- Tava tocando Adele e você interrompeu.

Rafe solta uma risada que ecoa pela casa como se ele estivesse aqui. E eu queria que estivesse, porque ele sempre soube lidar comigo nos momentos em que eu estou insuportável. Não sei como, porque normalmente eu quero fugir de mim mesma.

- Bom, vai ter que superar - ele se interrompe - Adele, huh? Tá no fundo do poço mesmo.

Eu não consigo evitar a risada, mas reviro os olhos sozinha.

- Não fala mal da Adele. 'My little love' é incrível, e todas as antigas também.

Ele quase não me deixa terminar graças a gargalhada.

- Entendi, você tá muito triste. Mas me deixe falar uma coisa antes de se atirar da sacada.

Posso ouvir, do outro lado da ligação, o barulho irritante que a cama de Rafe faz quando alguém deita e imagino que seja exatamente o que ele está fazendo agora.

- Sou toda ouvidos.

Rafael respira fundo e, mesmo antes de sua primeira palavra, acho que já sei sobre o que se trata. Então espero pacientemente até que comece a falar:

- Falei com meu pai. Vou amanhã cedo e ficar na casa dele até o ano novo.

Eu franzo as sobrancelhas, olhando para o celular como se fosse me dar alguma ideia de sua expressão no momento. Como não funciona, eu balanço a cabeça e volto a encarar o teto.

- Pensei que fosse voltar dia 25.

- Eu ia - ele não demora a responder - Mas você conhece os poderes de persuasão de Ward. Ele disse que sentia minha falta e que a família não fica completa sem mim. E eu sou um idiota que cai fácil nesse lance sentimental, aparentemente.

Eu controlo minha língua para não responder que isso só acontece quando está relacionado a família. Fiz isso porque Rafe respira fundo, e parece prestes a continuar a falar:

- Você acredita que ele usou você e a Sarah?

Dessa vez, eu pergunto:

- Ué, como assim?

Rafe parece carregar um sorriso na voz quando me responde.

- Ele disse que você e minha irmã passariam as duas datas juntas e que tinha certeza que eu ia querer estar aqui. Disse que não ia falar de nada que eu não quisesse e - ele solta uma exclamação como se estivesse surpreso - que eu nem precisava ficar na casa Cameron se não quisesse.

Agora até eu estou surpresa. Não que só espere coisas ruins do pai de dois dos meus melhores amigos, mas Ward sempre teve essa mão controladora onde tudo que seus filhos - até mesmo Rafe, que costumava ser o preterido - faziam, tinha que ser do seu jeito.

Ao longo dos dois ou três anos que Rafe deixou Outer Banks para morar no continente, eu vi de perto, por algum tempo, o jeito que o patriarca ficou sem seu primogênito. E, quando me mudei para o apartamento de Rafe, pude acompanhar como o mais novo se sentia.

Eu sempre os achei idiotas por prolongar uma situação que poderia ser facilmente resolvida com conversa. Completamente hipócrita, admito.

- E o que você disse? - finalmente respondo.

Rafe demora algum tempo antes de responder.

- Disse que sentia falta dele. E que podia tentar ficar em Tannyhill mesmo. Ele ficou tão feliz que... - posso escutar seu suspiro antes do outro lado da chamada - Sobre o que a gente conversou hoje cedo... acha mesmo que poderia dar certo?

Pera. O que?

Estou tão surpresa que momentaneamente não tenho respostas. Sei que fui eu quem sugeriu e tudo mais, mas Rafe é a pessoa que se recusou a vir comigo no início da semana. E agora está realmente considerando voltar.

Ele deve sentir que estou chocada demais para falar, porque solta uma risada nervosa.

- A gente pode ver um apartamento, sei lá. Continuar morando juntos, estudar na Universidade de Chapel Hill, talvez. É só atravessar uma ponte, não deve ser difícil fazer isso todas as manhãs.

Dentre todas as coisas que eu poderia ter dito, eu só sorrio e escolho o que é provavelmente a pior.

- Eu posso dirigir a Shirley às vezes e nos levar para lá.

Rafe não parece incomodado com minha resposta. Na verdade, parece gostar. Posso escutar sua gargalhada baixa.

- Estrelinha, você não vai dirigir a porra da minha Range Rover.

Christmas wishes and Mistletoe kissesDove le storie prendono vita. Scoprilo ora