part two: we don't know where we're going

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Harry,

Nossa, é estranho não começar essa carta com meu amor, sun, ou qualquer outro apelido que eu costumava te chamar. Da última vez que a gente se viu você disse que eu não podia mais te chamar de nada do tipo, eu não tinha mais o direito. E tudo bem, eu sei que é culpa minha.

Faz cinco dias que você terminou comigo. Minha semana foi horrível. E eu cheguei a conclusão que: eu não sei viver sem você. Não sei o que é não passar no estúdio pra te entregar café da manhã, não poder te mandar mensagem com os detalhes do meu dia. Você não gostaria de ouvir sobre eles, de qualquer forma. Todo dia é a mesma coisa, é cinza, sem-graça e sem você. Eu passei dois dias sem sair da cama, pensando em todo o futuro que eu nunca mais terei com você.

Mas eu sei que você vai ter um futuro muito melhor longe de mim. Londres te espera de braços abertos e eu sinto muito que eu te mantive aqui em Doncaster por todo esse tempo, você nem gosta daqui. Você não pertence a essa cidade, você pertence a Londres, na rua Oxford, na vida noturna de Soho, no museu do Sherlock Holmes, no Hyde Park lendo seus livros clássicos e os cults que você gosta, no Regent's Park se exercitando toda manhã. Londres grita seu nome. Você é um garoto londrino por completo e não faz sentido você estar em Doncaster.

Eu sei que você nunca vai ler isso, isso foi só uma ideia do Niall, uma forma de me fazer seguir em frente. E eu topei, porque sei que ele não aguenta me ver sofrendo sem fazer nada. Mas eu sei, no fundo, que eu nunca vou seguir em frente. Você é a melhor coisa que já me aconteceu, que podia passar pela minha vida. Eu agradeço cada segundo que eu passei com você. Você me mostrou o verdadeiro amor e ele é maior e mais puro do que eu jamais podia ter imaginado. Todo o tempo que eu passei te amando, eu me senti mais próximo de Deus.

Eu sei que isso não é uma grande coisa pra você, mas eu me sentia insatisfeito com toda essa ideia de Deus e justo nesse momento, eu te conheci. E eu entendi que não é por ser quem eu sou que Deus me condenaria. Quer dizer, o amor é o sentimento mais puro que existe, como ele poderia ser condenado?

Essa carta também serve como um desabafo, mesmo que para mim mesmo. Eu sinto que vou sufocar com tudo que eu tenho guardado. Mas eu nunca, de fato, sufoco. E acho que isso é pior, porque era o que eu mais queria, eu queria me afogar nas minhas próprias lágrimas e ainda não doeria o tanto que dói saber que eu te magoei.

Me desculpa. Me desculpa mesmo. Eu não quero te magoar, nunca quis. Nunca em um milhão de anos. Eu realmente sou um covarde, mas não pelo motivo que você imagina.

Eu não tenho nenhum problema com falar para o meu pai que a gente namora. Eu não ligo se ele vai me odiar, me condenar, dizer que eu vou para o inferno. Eu sei que eu não vou — não por amar você, talvez por outras coisas.

Você nunca vai ler isso, mas eu preciso colocar para fora o verdadeiro motivo. E eu sinto muito que você nunca vai saber, mas acho que é melhor assim. Pelo menos você pode sentir raiva de mim e aí não vai doer tanto em você. Bom, aqui vai a verdade:

Depois do acidente, eu não consegui parar de pensar que você estava desperdiçando sua vida comigo. Quer dizer, você é... Você. Harry, você faz ideia de como você é extraordinário, singular? Você é tudo. Você merece tudo de melhor que a vida tem, não merece mágoa alguma. Você é um espírito livre, sempre foi, eu não imagino o que esses quatro anos foram para você.

Enquanto foram os melhores quatro anos da minha vida, o paraíso. Meu próprio jardim do Éden. Eu imagino que deve ter sido o purgatório para você, um verdadeiro inferno. Ter que se esconder como um covarde quando tudo que você queria era estufar o peito, empinar o nariz e, bem, ser livre.

epiphany \ l.s.Where stories live. Discover now