Propostas que machucam

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Jimin dormiu escorado em meu ombro noite passada.

Não foi premeditado por mim, provavelmente nem por ele.

Nós ficamos de mãos dadas por um bom tempo, separando nossos dedos entrelaçados apenas quando as pizzas chegaram e resolvemos comer enquanto estavam quentes. Após isso, nós nos sentamos mais próximos um do outro e eu tomei a liberdade de ser o responsável por grudar nossas palmas quentinhas enquanto Jimin colocava o segundo filme escolhido.

Acho que ele não aguentou nem uma hora do longa, porque foi mais ou menos esse o tempo que levou até que eu sentisse sua cabeça batendo contra meu ombro. E então eu o mantive o mais confortável que pude grudado a mim e acariciei seu cabelo com a mão livre logo depois de diminuir o volume da televisão para não o acordar.

E foi um pouco estranho, porque senti uma forte vontade de chorar enquanto estava ali, vivendo aquele momento, junto ao alfa por quem me apaixonei quando ainda era adolescente. Aquele que em tantos aspectos era igual a mim, fosse em gênero ou em classe. Aquele que era meu amigo de infância, que me protegia dos meus pesadelos e cuidava dos meus joelhos ralados. Foi a primeira vez que senti vontade de chorar por entender que aquilo tudo era inalcançável. Ele podia sentir algo por mim, podia mesmo, mas de nada adiantava. O medo era nítido em seu olhar, assim como a tensão provida pelo receio de decepcionar alguém — que eu sequer sabia quem.

E isso me machucou como o inferno.

Eu o coloquei na cama, também, na noite passada. O peguei no colo com todo jeitinho que consegui e o carreguei até seu quarto, onde seu cheiro era ainda mais forte e evidente. Jimin não era leve. Apesar da nossa diferença de altura, ele conseguia ser mais pesado que Taehyung, que é praticamente da minha altura. O corpo de um alfa é feito para proteger, seja a si mesmo ou aquele que se ama — de modo fraternal ou romântico —, porque é o nosso instinto natural. Um instinto que, ao menos em mim, aflora com extrema frequência. Então, carregar Jimin não pode ser considerado algo difícil, mas também não foi fácil.

Quando o deitei na cama, tirei apenas os seus calçados e o assisti abraçar um travesseiro grosso. A sensação em meu peito foi tão gostosa, que tirou aquele desejo de chorar. Jimin é adorável em qualquer momento, mas constatei que ele possui ainda mais beleza quando está dormindo, tão sereno e envolvido em seu descanso que parecia estar flutuando.

E essa imagem que ainda está em minha mente, porque foi a última que vi ontem à noite. Passei bons minutos o observando adormecido, acariciando seus cabelos, mas deixei um beijo em sua bochecha e fui embora antes que seus pais retornassem, porque sabia que talvez eles fossem os responsáveis por todo o receio que Jimin possui.

Momentos bons são tão momentâneos, que acordei hoje já com a sensação de que alguma coisa ruim está se aproximando de mim. Não sei se é diretamente ligado a mim, meus amigos ou minha família, mas há algo estranho. É como um aperto no peito, um pressentimento de que algo vai dar errado.

No final de semana, contudo, nada de emocionante acontece. Taehyung passou o sábado inteiro comigo, falando sobre seu encontro e me questionando sobre o meu. No domingo, fui ao cinema com Seokjin e Namjoon, seu namorado. Os dois dias foram bons e até divertidos.

Exceto que não tive notícias que viessem de Jimin e isso, de alguma maneira, me deixou agoniado. Meu lobo não conseguiu ficar em paz um segundo sequer.

Isso é algo estranho. Tudo bem que eu possa me apaixonar por outro alfa, mas é estranho quando até meu lobo sente a conexão com o lobo de Jimin, como se eles tivessem alguma junção que vai além do que nossas carnes conseguem se juntar. E isso jamais me assustou, até esse final de semana.

Talvez porque só agora eu tenha me dado conta disso.

Na segunda-feira é quando finalmente entendo o porquê de estar tão alvoroçado com tudo que está em minha mente e com esse sentimento estranho que corrompe meu peito a cada segundo mais.

Alfas Não Podem Amar Alfas | jjk + pjmWhere stories live. Discover now