Capítulo 20 - Almoço dominical

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Acabei conhecendo o amigo sem noção do G. E eu não consegui ficar dois minutos no mesmo ambiente, porque o jeito dele lembra todinho o do meu ex, além de claro, reproduzir os mesmos pensamentos de muitas pessoas que estão à minha volta. E a coisa que menos quero é ter que ficar lembrando e remoendo algo que, mesmo que tenha enfrentado, ainda me fragiliza de certa forma.

Pior que Gustavo tentou me alertar, dando a indireta para que eu fosse antes dele chegar. Porém, não conhecia a peça e deu no que deu. Apesar do desconforto, não fiquei com raiva do meu amigo colorido.

Aproveitei o resto da minha semana para adiantar coisas do blog e começar com a preparação do meu livro, que vai ser com alguns contos mesmo, mas serão inéditos só para os leitores, pois boa parte deles vou aproveitar do meu caderno. Como estes contos nunca vieram a público, mesmo alguns sendo bem antigos – eram até pequenas oneshots que eu escrevi quando adolescente – vão ser novidades. Claro que vou ter um trabalhão para poder transferir do manuscrito para o computador. Vou aproveitar esse processo para revisar e quem saber não acabar alterando e reescrevendo alguns.

Confesso que um dos meus sonhos desde que comecei a publicar algumas coisas na internet – sempre usando um pseudônimo, pois a família nem poderia pensar – é poder transformar todas essas coisas em um livro. Mas, o sonho foi sendo minado e destruído por todos ao meu redor. A começar pela família que dizia que isso não dava futuro, depois o namorado, que acabava com tudo o que tentava construir sem ele. Por fim, até fiz uma faculdade relacionada ao que gostava de fazer, que foi Jornalismo, e segui para um emprego que não tinha nada a ver comigo, mas não o odiava completamente. A hora do meu trabalho era quando podia descansar a minha cabeça dos meus problemas e ainda ser paga por isso. Sei que é esquisito falar isso, mas é a verdade.

Eu estava afundada numa vida triste, vivendo uma merda de relacionamento, sobrevivendo um dia de cada vez. Eu e o Pedro estávamos perto de casar e eu sabia que dali só iria pior, só não tinha ideia de como sair desse fundo do poço em que estava. Quem me ajudou muito foram as minhas amigas de trabalho – que sim eram uns anjos e tenho contato até hoje - me dando a força que eu precisava para sair daquilo tudo.

Primeiro terminei meu relacionamento e saí da casa dos meus pais, já que ainda morava com eles. Arrumei minhas coisas o mais depressa que deu e só sai, explicando para minha família toda a situação, que foi a briga feia com o Pedro e que eu não aguentava mais e eu sabia que ele iria me procurar ali. As mesmas amigas me ofereceram abrigo em suas casas, num revezamento, por um tempo, enquanto eu arrumava um lugar para ficar e comprava as coisas para poder morar sozinha. Foi nessa época em que a Contemporânea Erótica nasceu, como um escape para a minha virada na vida e deu muito certo. Em pouco mais de dois anos, a minha vida melhorou muito e eu agora vivo daquilo que eu gosto de fazer.

Acho que vou acabar escrever tudo isso no prefácio do meu livro. Fica com um ótimo tom de abertura para tal. Eu estou ansiosa para isso!

***

Logo o domingo do almoço da família do Gustavo chegou, tanto eu quanto ele ficamos trabalhando muito e precisávamos de um descanso. Eu espero que a família dele seja legal, porque de embuste já basta na minha.

Combinamos de nos encontrar no estacionamento. Como ele não dirige, fui guiando o carro conforme ele indicava, não reclamo.

É na mesma região em que passei a minha infância, a algumas quadras de distância da casa dos meus pais. Acabei pensando brevemente em como eu e Gustavo não nos conhecemos antes. Provável que frequentamos os mesmos ambientes na adolescência. O mais engraçado é a gente ter se encontrado numa região bem distante de onde nascemos e crescemos, por causa de uma encomenda por engano.

Logo chegamos na rua e ele apontou qual era o portão e dava para ver um casal feliz e animado acenar para nós da calçada. Obviamente os pais de Gustavo. Indicaram que eu deveria estacionar ali na frente mesmo, não tinha problema. O pai de Gustavo foi me guiando durante a baliza e coloquei o carro com as quatro rodas na calçada e descemos do carro em seguida.

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