Sai cedo de casa para poder ir ao mercado, precisava comprar os ingredientes para o meu convidado especial da noite: Gustavo, ou só G. Nem eram tantas coisas, mas aproveitei para repor o estoque, porque algumas coisas já estavam em falta. Enquanto estava na fila, recebi uma ligação da minha mãe. Atendi, porque já até pressentia sobre o que seria.
- Alô, mãe. – falei
- Filha, tudo bem? Está em casa?
- Não, eu sai. Vim ao mercado para comprar umas coisas.
- Finalmente saiu daquela caverna que é a sua casa. Filha, você precisa arrumar um emprego. Ainda não entendo porque saiu daquela revista, ganhava tão bem.
- Mas não era feliz trabalhando lá. E alias, estou ganhando bem mais agora.
- Com o quê? Filha, eu não sei com o que você trabalha.
- Eu trabalho como escritora, escritora fantasma. Sabe quando alguém famoso vai lançar um livro e não sabe escrever? Então, eu escrevo fingindo ser essa pessoa.
Bem, parte dessa resposta era verdade e a outra mentira. Eu já fiz antes alguns freelas desse gênero, mas agora não mais. E minha mãe, obviamente, ia ser uma das pessoas que não iam gostar de saber o que eu realmente escrevo. Até porque ela é toda conversadora!
- Por que não escreve suas próprias histórias? Que vergonha é essa que você tem, filha?
- Ai, Rita, - esse é o nome da minha mãe, eu a chamo assim quando me irrito – para com isso. Eu estou feliz assim. Não quero ser super conhecida!
- Mas, escreva o que é só seu. Tenho certeza que irão gostar. – imagina se ela soubesse – Alias, sua prima não para de ler aquela tal da Achi... Ichi... Sei lá que diabo!
- É Echii.
- Isso! Aquela mulher que escreve aquelas coisas sem pudor. Acredita que a última foi com um fotógrafo? Essa garota dá para qualquer um!
- Eu acho os textos dela bem poéticos. – respondi
- É sem-vergonhice. Isso sim! Sua tia sempre pega sua prima lendo essas coisas.
- Ela já é maior de idade, mãe.
- Não importa. Estando na casa da sua tia tem que respeitar as regras.
- Não entendo porque ler contos eróticos seria desrespeito a regras.
- Quando for mãe vai entender. Alias, já arrumou alguém?
- Não, Rita. E eu nem quero. Estou feliz sozinha!
- Mas, precisa dar um jeito na sua vida. Vai ficar sozinha para sempre?
- Se assim tiver de ser... Será!
- Vou ver se acho um pretendente para você. Vou falar com minhas conhecidas!
- Rita, este não é o século 14, é o 21. Eu não preciso de marido para ser completa e feliz, pelo amor da deusa!
- Filha, não insista. Sou sua mãe e sei o que é melhor para você.
- Ai, está bem. – bufei, sem querer discutir mais – Vou desligar. Está chegando a minha vez. Te amo!
- Também te amo, filha. Tchau!
Despedi-me e desliguei, feliz por aquela conversa ter terminado. Eu tento ter a melhor relação possível com a minha mãe, mas eu e ela pensamos bem diferente uma da outra. Ela nunca descobriu sobre as "sem-vergonhices" que escrevo, só chegou a ler as outras coisas, mais romances. Eu fico imaginando o choque caso ela descobrisse. Com certeza, seria julgada pela família inteira, mais do que já sou. Considerada a ovelha desgarrada desde a adolescência.
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Contemporânea Erótica
RomanceDuas entregas que foram ao destinatário errado. Duas caixas trocadas. Gustavo recebe sua encomenda que fez pela internet, mas ao abrir vê que não é nada daquilo que ele pediu. Logo percebeu a troca e foi ao apartamento da vizinha que devia estar c...