Capítulo 9

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Seguimos por outra porta até a sala da manutenção, continuamos a descer as escadas que nos levaram à cozinha industrial do local. Um dos fogões estavam ligados e em cima dele uma ferramenta que Merle deve ter usado para cauterizar o ferimento.

Por um breve momento, Daryl se irrita e tenta tomar decisões que no momento não são as melhores. Papai finalmente o acalma e nos sentamos enquanto Glenn desenha algo em uma lousa que encontrou no escritório em que paramos. Logo, nos chamou para perto. O mesmo propôs que iria buscar a bolsa de armas sozinho.

-Não vai fazer isso sozinho. - digo indignada.

-Até eu acho que é uma péssima idéia e eu nem gosto tanto de você. - o caçador diz e eu o olho incrédula e o mesmo me olha rapidamente de rabo de olho.

-Olha, é uma boa ideia, tá bom? Se vocês me ouvirem! Se a gente for lá fora em grupo, vai ser lento e vai chamar atenção. Se eu for sozinho, eu posso me mover rápido! Olha... - disse colocando um prendedor de papéis e um post-it amassado na lousa na qual desenhara os quarteirões. - Esse é o tanque a cinco quarteirões daqui. Essa é a bolsa de armas. Esse é o beco por onde eu trouxe vocês, lembra? - o coreano olhou para mim e meu pai. - É para lá que eu, Daryl e Ellie vamos.

-Por que eu? - o caçador retruca.

-A sua besta e a faca dela são mais silenciosas que a arma do Rick. Enquanto Daryl e Ellie esperam aqui no beco eu pego a bolsa. - continua gesticulando pelo quadro.

Papai nega com a cabeça por um instante e olha para mim cogitando interromper o plano de Glenn, mas eu assinto para ele dizendo que está tudo bem.

-E onde nós vamos ficar? - o xerife pergunta.

-Tá, você e o T-Dog vão ficar aqui - diz colocando uma borracha no quadro.

-A dois quarteirões por quê?

-Eu posso não voltar pelo mesmo caminho, os zumbis podem me bloquear. Se isso acontecer, eu não vou voltar para os dois, ao invés disso eu vou pra frente. Eu vou pela rua até o beco onde vocês estão. Qualquer direção que eu for, eu tenho vocês dois me dando cobertura. Depois disso a gente se encontra aqui. - Glenn finaliza olhando para todos.

-Aí, garoto. - o caçador interrompe o silêncio. - Que que cê fazia antes disso?

O coreano o encara de cenho franzido e responde:

-Entregava pizza, por que?

Daryl apenas dá de ombros e saímos para a nossa operação. Recebo um abraço apertado do papai e recebendo um beijo no topo da cabeça.

Descemos a longa escada lateral e chegamos ao beco.

-Fica atrás de mim, garota. - Daryl diz sem olhar para mim. Apenas o obedeço e tento não me atrapalhar com o nervosismo que sinto sempre que estou perto do homem.

Glenn sai em rumo da rua e o perco de vista. Daryl me puxa para trás de uma lixeira com ele e prepara sua besta ao mesmo tempo que eu empunho minha faca tática.

-Faca legal. - diz o caçador me surpreendendo, pois achei que não diria uma palavra até Glenn voltar.

-Obrigada, ganhei lá no acampamento. - respondo concentrada na entrada do beco.

Ouvimos um barulho e Daryl se levanta já mirando sua besta.

-Não atira em mim! - um garoto magrelo do estilo que veste camisa branca cavada e corrente estava parado à nossa frente com semblante assustado. - O que você quer?

-Tô procurando meu irmão, ele tá ferido, viu ele por aí?

-Ayuda-me! - o menino grita.

Antes que Daryl atirasse nele, saio de trás da lixeira e vou para cima do garoto o derrubando com uma rasteira. Devia me lembrar de agradecer papai por me colocar na aula de jiu-jitsu quando criança.

-Cala a boca ou vai atrair os mortos! - digo apontando a faca para o seu pescoço.

O garoto continuou gritando, então Daryl me empurra para trás acertando o rapaz no rosto com a besta.

Vejo dois homens entrarem e começarem a espancar o besteiro. Me levanto para ajudá-lo enquanto vejo Glenn entrar pelo beco. Levo um chute na boca do estômago e os homens mudam o foco para o coreano que tenta dar meia volta, mas é pego e jogado ao chão.

Daryl ainda no chão mira sua besta para os homens e acerta a flecha bem nas nádegas de um dos caras que grita de dor e pega Glenn como escudo. Foi tudo muito rápido e a dor junto com a falta de respiração não me deixava assimilar as coisas direto.

Um carro chegou e levou os dois homens e Glenn que gritava por socorro. Papai chegou correndo pelo beco e conseguiu impedir Daryl de espancar o garoto.

-Levaram o Glenn, esse cara estava com eles. -Daryl gritava enquanto T segurava o menino com força contra a parede.

-Pessoal, olha pra garota! - T grita.

Todos voltam seus olhos para mim e Daryl para de tentar se soltar do meu pai imediatamente que vem até mim na mesma hora me levantando do chão.

Não conseguia puxar nem um pouquinho que fosse de ar. Sentia tudo fechado da garganta para baixo. Alguns anos atrás eu tive minha última crise de asma, que se desencadeou no pior momento possível. Agora. Papai me segura firme eu seu colo enquanto olha para a grade que fechava o beco e a mesma estava lotada de zumbis.

-Pro laboratório, vai! - o xerife apontou para a outra saída do beco.

Daryl abaixa e pega a bolsa de armas e vamos para onde papai havia indicado. Ao chegarmos na sala, papai me coloca no chão enquanto algumas lágrimas começam a cair do meu rosto. Podia sentir minhas mãos e pés começaram a formigar. Sensação que pensei que nunca mais iria sentir na minha vida.

-Ei... Ellie. - papai segura meu rosto firmemente. - Olha pro papai. Você tem que se acalmar. - fito seus olhos azuis desesperada enquanto o mesmo com o polegar limpa as lágrimas que caem. - Lembra, dá pra controlar. Lembra quanto o aconteceu isso no acampamento de escotismo? Fala pra mim.

-Sim... - digo lembrando que não posso me desesperar.

-Vamos, conta com o papai, até dez, puxando o ar. - conto junto com papai com dificuldade sentindo aos poucos meu pulmão começar a abrir. Aos poucos minhas mãos e pés que estavam frios começaram a esquentar. Meus olhos fixos apenas nos do papai que se aliviavam a cada vez que eu conseguia expirar.

Por fim, ao chegar no dez eu já estava respirando normalmente, porém, agora estava com uma tosse incômoda. Sentia meu peito chiar, mas dava para aguentar até melhorar aos poucos.

-Ela tá bem? - escuto a voz grossa do caçador falar atrás do papai.

-É.. Eu acho que tá agora. - papai responde.

Papai começa então uma série de questionamentos ao garoto que T segurava sentado em uma cadeira. Daryl ouvia calado, mas eu podia ver sua irritação pois sua mão segurava a besta com força. Às vezes ele olhava para trás e me encarava por alguns segundos com aquela expressão indecifrável. Ao perder a paciência, o caçador ameaçou o rapaz dizendo que havia decepado a mão do último cara que mexeu com ele, mostrando a mão que havia guardado de Merle. Em instantes o menino já conta onde seus amigos ficam. Papai prefere me deixar com T em segurança enquanto leva o jovem e Daryl consigo.

Depois de algumas horas em cima de um prédio próximo, T avista papai saindo com Glenn e Daryl do local. Descemos ao encontro deles. Papai sorriu ao me ver e tirou algo do bolso. Era uma caixa de bombinha para minha asma. Eu segundos eu já a estava sacudindo e aspirando, sentindo meu pulmão finalmente abrir por completo. No mesmo instante minha tosse se fora e ri comigo mesma me apoiando com as mãos nos joelhos.

Voltamos pelo mesmo caminho que fomos e Daryl reclamou o caminho inteiro que ficamos com apenas metade das armas, pois papai deixou com os rapazes mexicanos que sequestraram Glenn pois o mesmo estava tomando conta de um asilo. Fiquei feliz pela decisão de papai. Aquelas pessoas mereciam ter um pouquinho de paz antes de falecerem.

Ao nos encaminharmos para a saída da cidade paramos subitamente.

-Ai, meu Deus! -Glenn exclama.

-Cadê nosso caminhão. - digo olhando a estrada vazia onde haviamos estacionado o veículo.

-A gente deixou aqui, quem iria pegar? - o coreano continua.

-Merle. - papai responde.

Love Keep Us SafeOnde histórias criam vida. Descubra agora