Capítulo 10

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-Ei, você vai ficar bem? - a voz grossa do caçador me faz recuperar minha atenção que estava perdida enquanto corríamos até o acampamento tentando chegar antes de escurecer.

-Eu... vou ficar bem... - digo ofegante.

Ok, mesmo tendo praticado escotismo, jiu jitsu, natação e outros esportes quando era criança, devo confessar que passei minha adolescência inteira no sedentarismo e que correr uma maratona de volta para o acampamento não era a melhor forma de começar novamente a me exercitar, mas não tínhamos escolha. Tínhamos que voltar para o acampamento, mesmo eu sentindo minhas pernas queimarem, e meus braços também por carregar uma das armas para dividir o peso da bolsa do papai.

O caçador me olha por mais alguns instantes e continuamos subindo a estrada até a pedreira.

O sol a essa altura já sumira, enxergávamos apenas com o restante do seu reflexo no horizonte. Papai havia diminuído um pouco a velocidade, mas então, começamos a ouvir gritos, havia alguma coisa errada no acampamento. Voltamos a nos apressar e agora eu não sentia mais nada, minhas pernas apenas se moviam, assim como no dia em que eu e papai fomos baleados.

Glenn, Daryl e papai chegaram primeiro já dando alguns tiros, eu e T chegamos depois e pude ver o local infestado de errantes. Destravei a arma e comecei a atirar também. Em alguns minutos já tínhamos acabado com todos, porém, com algumas perdas. O marido babaca da Carol havia sido mordido e estava praticamente todo devorado. Amy, a irmã de Andrea estava no chão enquanto a irmã chorava em cima da mesma.

É... A noite ia ser muito longa.

......

Passamos o resto da noite e a manhã inteira terminando de "matar" os mortos. Todos já estavam exaustos e estressados e pude ver isso. Para tentar amenizar as coisas, comecei a entregar barras de cereal que Glenn havia cedido para mim e papai. Pareceu animar um pouco o pessoal. Doce sempre anima as pessoas.

Ia me aproximando de uma discussão que eu já sabia que iria acontecer. Desde de madrugada, Daryl estava falando que deveríamos acabar de vez com Amy, que poderia voltar e morder Andrea que ainda estava velando seu corpo.

-Tão falando sério? Aquela garota morta é uma bomba relógio.

-O que você sugere? - papai pergunta com a sua famosa pose com as mãos na cintura e segurando o topo do nariz.

-Dá um tiro. - o caçador diz brevemente. - Limpo. Na cabeça. Daqui. Olha, eu acerto um peru entre os olhos dessa distância.

-Não, pelo amor de Deus, deixa ela em paz. - mamãe diz me puxando para perto dela assim que cheguei com a cestinha de barrinhas de cereal.

Papai, Shane e Dale se entreolharam e negaram todos com a cabeça para Daryl que saiu com raiva arrumando confusão com os outros que estavam recolhendo os corpos mais adiante, mas logo se recolheu em sua barraca.

-Eu vou lá ver se ele quer uma barrinha de cereal. - digo. - Esse mau humor deve ser fome...

Me levanto e sinto os olhos de Shane me secando. "Até quando isso vai me acompanhar?", me pergunto parando na frente da entrada da barraca do caçador e tomando alguns segundos de fôlego para entrar. Abaixo e puxo o zíper lentamente, revelando aos poucos as costas nuas de Daryl. Ele havia tirado a camisa e estava se limpando. Olhou brevemente para mim, o que me fez paralisar (se é que tinha como acontecer duplamente, depois da cena que acabei de ver).

-O que você quer? - disse seco.

-Vim ver se você quer comer uma barrinha. - digo já entrando e me sentando ao seu lado com a cestinha estendida em sua direção.

-Raspa de lápis de cor não vão me sustentar, garota. - diz me olhando irritado.

-Só experimenta. - estendo mais a cestinha e com má vontade ele pega um pacotinho e começa a abrir me encarando enquanto eu dou um sorrisinho satisfeita.

Depois de um tempo que vejo o caçador mudando o semblante de puto da vida para apenas bolado, resolvo cortar o silêncio.

-Daryl. - ele me olha parando de mastigar. - Eu sinto muito pelo Merle... Sabe, eu sei que você não quer ouvir desculpas e lamentações, mas eu me sinto culpada pelo que aconteceu. Se não fosse eu... Se seu irmão não tivesse tentado me... Ele ainda estaria aqui...

-Ei... Isso não é culpa sua. Eu posso estar puto, mas sei que não é culpa sua. O Merle costumava ser um cuzão mesmo... - o caçador me interrompe e tenta me acalmar.

-Ele ainda é. Ele está vivo. E ainda vou te ajudar a encontrar ele, seu pessimista. - digo dando um empurrão em seu ombro.

-Com essa sua falta de ar e sedentarismo não vai mesmo. - o homem ri me empurrando de volta.

Espero Daryl terminar sua barrinha e me levanto para ir embora, jogando outra barra em seu colo.

-Sabe, Daryl. Eu gostei de você. - digo sem malícia, recebendo um meio sorriso do caçador que agora estava com o humor bem melhor.

Ao sair da cabana escuto um tiro. Andrea finalmente havia atirado em Amy quando a mesma começara a se mexer. Daryl aparece atrás de mim, ele estava tão perto que podia sentir o calor que emanava de seu corpo atrás de mim. Em um segundo volto para mim e começo a ir em direção ao pessoal que estava em volta da loira.

Finalmente podíamos liberar as pessoas que ficaram fazendo ronda para impedir a loira de ser devorada para ajudarem também.

Enterramos todos o pessoal do nosso acampamento e queimamos os zumbis. Papai decidiu que iríamos sair de onde estávamos e levaríamos Jim, que havia sido mordido para o CCD para ver se ele tinha alguma salvação. No outro dia de manhã já estávamos nos preparando para ir embora. Todos os carros estavam lotados, menos o de Shane e a garupa de Daryl que iria de moto. Sem pensar duas vezes, me direciono até ao caçador que arrumava suas coisas nas bolsas de bagagem laterais da moto.

-Hm... Daryl, será que eu posso ir com você? - pergunto baixo próxima a ele.

-Não. Eu não carrego ninguém na moto do Merle. - diz me olhando.

Respiro fundo e olho para Shane que me encarava ao lado de seu carro. Seu olhar me dizia que não seria uma viagem muito confortável. Começo a andar relutante até o policial, mas sinto uma mão forte e áspera segurar meu braço.

-Tá, pode vir comigo dessa vez. O cara ali não parece ter boas intenções com você. - diz encarando Shane que percebe e entra em seu carro.

Vou até mamãe, papai e Carl e aviso que vou com Daryl. Eles relutaram um pouco, mas no fim cederam. Nos despedimos da família Morales que decidiu tomar um caminho diferente e começamos a sair da pedreira. Na garupa do caçador, entrelaço meus braços em sua barriga para me segurar e sinto o mesmo suspirar profundamente.

Acho que ele já se arrepende de ter me deixado vir com ele.

Love Keep Us SafeWhere stories live. Discover now