Capítulo 17

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 Após tomarmos café da manhã, nos reunimos em volta da pick-up de Otis e Maggie abriu um mapa que ela tinha da região para realizarmos melhores buscas.

Todos combinaram suas funções e como já previsto fui barrada de ir procurar Sophia, mas como Daryl disse que iria sozinho, ali estava a minha chance de seguí-lo sem a permissão de ninguém. Fomos orientados a deixar nossas armas de fogo guardadas, mas alguns entraram em discordância, principalmente Shane, mas todos obedecemos papai.

Avisei somente à Glenn que disse que iria até a cidade e me perguntou se eu não precisaria de nada. Eu disse que não e que era para ele voltar vivo. O coreano apenas sorri e bagunça meus cabelos.

Passo no quarto onde meu irmão descansa e dou um beijo em sua cabeça, velando seu sono por alguns segundos e agradecendo mentalmente por ele estar melhorando.

Ao chegar na sala, vejo o papai pela janela e o mesmo chama Daryl que caminha longe. Tenho que despistar os dois e seguir Daryl até que estejamos longe da fazenda.

-Daryl - papai se levanta e vai em sua direção - Vai ficar bem sozinho?

-Prefiro ir sozinho. Volto antes do anoitecer. - diz se distanciando.

-Ei! - papai chama apressando o passo e o caçador se vira novamente - Temos uma base. Podemos organizar essa busca do jeito certo agora.

Aproveito que os dois estão conversando e saio pelos fundos contornando a casa. Espreito pela lateral da mesma Daryl se distanciando e escuto papai conversar com Hershel.

-... é melhor ficarem perto da casa. O que direi não será fácil, Rick. Nós normalmente aceitamos estranhos, mas espero que saiba que isso não é permanente. Quando acharem essa garota e seu filho estiver bem para viajar, espero que sigam viagem. Precisamos deixar isso claro. - meu coração acelera ao ouvir o senhorzinho falar e saio com passos apressados.

Fico pensando no que o dono da fazenda farala. Eu achei que ali estaríamos seguros por um bom tempo, mas o homem não nos queria em suas terras... Caminho apressada por onde vi Daryl entrar na mata. Não era do meu feitio desobedecer meus pais, mas não sei o que estava havendo comigo. A situação mudou. Temos uma criança perdida e eu só pensava: "E se fosse o Carl?".

Caminho por cerca de 1km na direção em que o caçador tinha ido. Não fazia ideia se estava seguindo seus passos, mas ainda assim eu tinha a chance de procurar por Sophia. Chamava seu nome sussurrando por entre os arbustos até que ouvi algo atrás de mim, pensei ser Daryl querendo me dar um susto, mas ao me virar um errante veio para cima de mim e com um golpe rápido o acertei entre os olhos com a minha faca. O mesmo despencou por cima de mim. Enquanto o empurrava para o lado e retirava minha faca, a voz grossa, rouca e conhecida dele soou atrás de mim.

-Não era para você estar aqui... - estendeu a mão para me puxar para cima.

-Bom, mas já que estou aqui, eu posso ajudar. - digo limpando a terra de trás da minha calça.

-Se sentir mal me avisa e a gente volta. Me falaram que você doou muito sangue essa noite... - em um gesto que não pensei que ele faria, chegou próximo a mim e deu um beijo no topo da minha cabeça.

Seguimos por alguns quilômetros enquanto Daryl me ensinava a rastrear para que eu pudesse ajudar também. Andamos atrás de um rastro que nos levou até uma casa em uma campina. Olhei entusiasmada para Daryl que continuou sem demonstrar emoções, mas percebi que sua respiração acelerou. Ele também estava com esperança de a encontrar ali.

A casa por dentro parecia inabitada a muito tempo, mas qual lugar não parecia assim agora? Daryl foi na frente procurando por qualquer indício de Sophia por ali. Subiu as escadas após verificar se a cozinha estava vazia, mas continuei ali olhando cada detalhe. Reparei que no pequeno cesto de lixo ao lado da pia, tinha uma lata de sardinha vazia. Parecia se destacar entre o resto de embrulhos e papéis empoeirados.

-Sophia... - minha voz soou chamando a menina em um sussurro. Olhei ao redor e uma porta entreaberta da dispensa me chamou atenção. Ela está ali. Só não saiu ainda porquê não me viu. A pequena estava aqui esperando o tempo todo. Minha mão já está prestes a abrir e com um único movimento escancaro a entrada para o cômodo.

Vazio. Ou quase isso. No chão, no espaço em que caberia perfeitamente uma criança, havia um cobertor e um travesseiro preenchendo o local. Não parecia ter sido colocado ali há muito tempo. Ela esteve tão perto de ser encontrada... Nesse momento meu coração palpita. Um sentimento ruim me invade e sinto a bile subir pela minha garganta. Engulo em seco e me apoio com as mãos nos joelhos segurando as lágrimas.

-Daryl, vem cá! - consigo gritar e escuto o homem descendo as escadas e aparecendo na porta da cozinha correndo. - Ela esteve aqui, olha. - apontei para o cômodo atrás de mim.

O homem olhou o local e me puxou cuidadosamente dali. Saímos pela porta e começamos à gritar pela menina, mas sem resposta. Daryl encara algo e semicerra os olhos. Caminha em direção a um arbusto e arranca uma flor branca.

-Uma flor... - digo surpresa e encantada por algo tão delicado estar se contrastando na mão rude e áspera dele.

-É uma Rosa Cherokee... - começa avaliando as brancas pétalas que rodeavam o lindo centro amarelo. - A história é que quando soldados americanos estavam tirando os índios da suas terras, nas Trilhas das Lágrimas, as mães Cherokee ficaram de luto, chorando tanto por estarem perdendo seus filhos ao longo do caminho com a exposição, doenças, a fome... - pigarreou. - Muitos desapareceram. Então os anciãos fizeram uma oração. Pediram um sinal. Para elevar o espírito das mães. Para dar força. Esperança. - seus olhos deixaram a flor e encontraram os meus. - No dia seguinte, essa rosa cresceu bem no lugar onde as lágrimas das mães caíram. Vou levá-la para dar força à Carol. Ela está acabada... E eu não sou tolo de pensar que uma flor desabroche pelo meu irmão, mas eu acredito que essa floresceu pela Sophia.

O homem termina de falar e eu fungo limpando as lágrimas que finalmente escaparam. Ele morde levemente o lábio inferior segurando minha mão e me levando de volta para o acampamento. No caminho, imagino onde a menina deve ter ido. Penso em insistir que procuremos um pouco mais, mas algo me faz apenas acompanhar o caçador de ombros largos pela floresta.

Love Keep Us SafeOnde histórias criam vida. Descubra agora