Capítulo 22

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(POV CRISTINA)

Tem uma coisa que dizemos quando alguém morre. Nós dizemos para a família: "Sinto muito pela sua perda." É uma frase horrível e vazia. Nem começa a cobrir o que está realmente acontecendo com eles, porém, é uma frase nos deixa ter empatia sem nos permitir a sentir devastados.

Nos protege de sentir dor. Aquela dor. Dor sufocante e implacável. Dizemos isso na esperança que ofereça algo; algum tipo de conforto ou algum tipo de paz.

Algo bom.

Algum pedacinho da beleza no meio de um lugar escuro.

Mas e quando o paciente é alguém que você conheça? Seu amigo ou colega de trabalho? Como é possível não deixar que a devastação te consuma?

Morrer muda tudo. Há a queda emocional, claro. Mas também há a parte prática. Quem vai fazer o seu trabalho? Quem vai tomar conta da sua família? A única coisa boa é que não precisa se preocupar. Pessoas que você nunca viu, vão morar na sua casa, fazer o seu trabalho, a vida continua...sem você.

Dizem que morrer é mais difícil para os vivos. É difícil dizer adeus. Às vezes, é impossível. Você nunca deixa de sentir a perda.


(POV LEXIE)

"Cadê a mamãe?" – Sofia perguntou emburrada enquanto eu terminava de colocar seu vestido.

Pisquei três vezes esperando que ela parasse de perguntar. Era a quarta vez nas últimas horas que ela fazia essa pergunta. Estávamos apenas eu e ela em casa; àquela altura, Mark já havia ido para a igreja certificar-se que estava tudo certo.

"Vamos, Sof." – peguei-a pela mão e fui.

Na igreja, centenas de rostos cobertos de lágrimas e tristeza. Centenas de semblantes tão devastados quanto eu estivera nos últimos dias; no entanto, eu tinha que me manter forte, por Mark e por Sofia. Mordi meus lábios e segui em frente. Eu ainda não havia criado coragem de olhar o corpo de Callie. Não conseguia imaginar aquela pessoa tão cheia de vida deitada num caixão dormindo para sempre.

"Sofia!" – ouvi a voz de Derek – "vem, vou levar você e Zola para brincarem lá fora."

Minha enteada olhou pra mim procurando minha aprovação e quando assenti com a cabeça, vi-a sair correndo juntamente de Zola. Rapidamente, Meredith se juntou a mim.

"Como você está?"

"Tentando me manter firme." – respirei fundo – "Mark e Sofia precisam disso."

Ela concordou.

"E Arizona? Alguma notícia?"

Dei de ombros.

"Ela simplesmente fugiu?" – Meredith não pareceu surpresa.

"Tenho tentado ver o lado dela da situação... imagino como tem sido difícil, porém..."

"Porém, ela ainda é mãe da Sofia e tem que assumir as responsabilidades dela." – Meredith completou – "você passou por situação semelhante e não fugiu pra Austrália, merece um crédito por isso." – ela deu uma risadinha – "como Mark tem reagido à tudo isso?"

Respirei fundo.

"Não temos conversado muito, ele estava muito ocupado preparando as coisas para o funeral e eu tive que cuidar de Sofia." – ela assentiu tentando assimilar tudo que eu dizia.

"E quanto ao meu sobrinho?"

Eu dei de ombros.

"Lexie..." – Meredith começou a falar, mas foi interrompida pelo sino da igreja que começou a tocar revelando que a cerimônia fúnebre começaria.


(POV MARK)

Lexie sentou ao meu lado e entrelaçou seus dedos nos meus. Sofia estava ao seu lado. Acredito que, em sua inocência, minha filha não fazia ideia do que estava acontecendo ali.

O pastor começou a falar da pessoa incrível que Callie foi e das vidas que ela milagrosamente salvou. Em seguida, muitas pessoas dirigiram-se ao púlpito para falar o quanto a Dra. Calliope Torres havia mudado suas vidas. Palavras lindas e cheias de verdade e que me deixavam com o estômago ligeiramente embrulhado.

Por fim, quando April terminou seu discurso, respirei fundo e soltei a mão de Lexie, que me olhou confusa, e encaminhei-me para o púlpito ficando frente a frente de todos. Tirei do meu bolso um papel abarrotado e senti uma pequena gota de suor escorrendo pela minha testa.

"Muitas pessoas me pediram porque Arizona não está conosco hoje." – notei minha voz vacilar – "e aquelas pessoas que não perguntaram à mim, certamente imaginaram ou fizeram comentários maldosos sobre a ausência dela. Há dois dias, eu estava no hospital quando recebi a notícia de que minha melhor amiga e mãe de minha filha havia sofrido um acidente."

Olhei para o rosto das pessoas que me encaravam silenciosamente e retomei meu discurso.

"Após a notícia da morte de Callie, tivemos que decidir quem contaria para Arizona, visto que ela estava na Suíça. Eu o fiz. Liguei para ela e tentei, na maior calmaria, contar à ela que sua esposa estava morta. Imaginei choro e gritos descontrolados, mas ela simplesmente desligou o telefone; horas depois recebi uma mensagem dela dizendo que estava indo, por tempo indeterminado, para a Austrália. Eu xinguei ela mentalmente em todas as línguas que vocês podem imaginar, pensei em mil coisas mal-educadas para lhe falar, porém, respirei firme e tentei ver o lado dela da história" – fiz uma pausa – "algumas horas depois, ela me ligou e com a voz embargada pediu para eu ler algo que ela havia preparado para hoje. Então, é em nome dela que estou aqui." – engoli em seco e fechei os olhos começando a ler aquele papel cujas palavras eu quase havia decorado.

"Uma vez alguém me disse que se você ama alguém, deve falar a verdade. Não importa se não for a coisa certa ou que isso lhe cause problemas. Diga: eu não quero viver sem você, você mudou a minha vida. Diga, e diga alto! Aproveite a oportunidade, porque é isso. Tudo pode acabar amanhã." – eu podia ouvir a voz de Arizona enquanto declarava aquelas palavras – "Todos vamos morrer e não podemos escolher como ou quando, por isso, passamos toda a vida nos preocupando com o futuro. Fazendo planos para o futuro e tentando prever o futuro. Como se desvendá-lo fosse aliviar o impacto! A questão é: o futuro está sempre mudando. É ridículo, porque quando o futuro finalmente se revela, ele nunca é como imaginamos. Eu imaginei um futuro com Callie. Eu planejei toda uma vida ao lado de Callie e por esse motivo, é que dói tanto. Dói tanto que mal posso respirar... mas a dor... nós temos que dar um jeito de resistir à ela. Esperar que ela vá embora sozinha e esperar que a ferida que a causou, sare. Mesmo quando temos certeza que jamais sarará." – fiz uma pausa – "A vida foi injusta conosco, Calliope; e eu te peço perdão por não estar contigo pela última vez, mas meu coração não aguenta uma última despedida. Você sempre foi a melhor para lidar com situações complicadas. Você sempre foi a melhor e eu não consigo imaginar uma vida sem você. Espero que aonde quer que você esteja, continue esperando por mim. Eu sempre levarei uma parte de você no meu coração."

Meant to be | Slexie [FINALIZADA]Where stories live. Discover now