Capítulo 27

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(POV LEXIE)

Dentre tantas coisas que a convivência no meio médico me ensinou, existem quatro delas as quais julgo serem as mais importantes.

A primeira diz respeito ao fato de que a única certeza que temos na nossa vida é a própria morte. A morte é irreversível, quanto à isso não existe discussão.

A morte não tem volta.

Numa cirurgia, por exemplo, basta você cortar dois milímetros a mais do que o necessário e você pode acabar para sempre com a vida do seu paciente. Acredito que a vida, num contexto geral, é mais ou menos assim: um passo em falso pode ser fatal para você.

A segunda coisa é uma contradição no que diz respeito à primeira: milagres existem. Por mais que nós custemos a acreditar, eles existem e, quando nossa esperança tiver sido completamente despedaçada, é na possibilidade de que aconteça um milagre, que nós devemos nos agarrar.

A terceira coisa que aprendi é sobre como viver uma vida nos corredores de um hospital nos faz ver toda essa coisa que é a morte e a vida com outros olhos. Viver num hospital, aonde pessoas morrem todos os dias, te ensina a valorizar mais as pequenas coisas que você nunca deu muita atenção, como aqueles momentos casuais com sua família e amigos. Sem falar que te transforma numa pessoa muito mais cuidadosa, seja com a sua saúde física, mental ou espiritual.

Por último, a última coisa aprendida é que nós encaramos a morte todos os dias, todas as horas e todos os minutos. Quando você é cirurgião médico, sempre existe a chance da morte estar cruzando, passivamente, o seu caminho e, por isso, a fim de evitar uma quebra emocional, os cirurgiões jamais devem pensar na morte.

Na sua morte, melhor dizendo.

Chega a ser cômico. Sempre levei esse ensinamento muito a sério, ou seja, nunca parei para pensar em como eu morreria, mas agora, parando para pensar, morrer tão tranquilamente quanto pegar no sono, me parece uma boa maneira de partir.

Após mergulhar numa imensidão vazia a qual eu julgava ser o meu fim, de repente me deparei com o familiar som da euforia nos corredores do hospital. Enfermeiras e médicos correndo como se não houvesse um amanhã. Olhares aflitos estampados nos rostos das pessoas em geral.

"Tragam a maca!" – alguém gritou ao mesmo tempo em que Derek veio correndo em minha direção passando diretamente pelo meu corpo.

Por dentro do meu corpo.

Passou por dentro de mim.

Aquilo certamente significava que eu estava morta. Ou ainda não. Talvez eu estivesse num abismo entre a vida e a morte que me permitia estar num segundo plano espiritual, exatamente como aqueles filmes melosos que Mark e eu costumávamos assistir nos sábados à tarde.

Nesses filmes, a única certeza que se pode ter é que o protagonista em sua forma de pós vida e pré-morte geralmente encontra forças para lutar pela sua vida e consegue sobreviver, tendo desse modo, o seu felizes para sempre consagrado. No entanto, nesse filme, eu não tinha certeza que a protagonista era eu.

Caminhei um pouco trêmula até o círculo que se formava no corredor. Pude ver meu corpo imóvel e pálido tombado na cadeira de rodas enquanto Meredith segurava minha mão tentando me fazer acordar com tapas no rosto.

Mais agitação.

Vi meu corpo sendo levado rapidamente para o centro cirúrgico e pela primeira vez, não tive vontade de estar lá dentro. Não havia motivos para eu ir lá e ficar assistindo enquanto eu mesmo estava sendo operada.

Comecei a vagar pelos corredores até chegar ao lugar em que eu deveria estar: a UTI neonatal.

Me aproximei receosa, olhando pelos lados e observando todas aquelas pequenas vidas ali. Alguns eram menores e outros era tão pequenos que eu mal podia acreditar que eles haviam chegado tão longe. Procurei pelo ser o qual eu havia dado a vida: minha Laura. Após alguns segundos, encontrei-a.

Meant to be | Slexie [FINALIZADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora