Capítulo 24

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(POV LEXIE)

Eles dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Mas é um mito. É uma coisa muito rara. Quando se é atingido por 30 mil ampères de eletricidade pela primeira vez, você sente. Essa descarga elétrica pode fazê-lo esquecer de quem você é. Pode queima-lo, cega-lo, parar seu coração e causar graves danos internos. A partir do momento que um raio te atinge, são apenas milissegundos, mas eles podem mudar sua vida para sempre.

Após os gritos e os disparos que vinham diretamente do saguão, senti minhas pernas ficarem bambas; de relance, olhei para Owen e pude observar sua silhueta pálida. Ele mordeu os lábios, certamente se culpando por não poder estar com todos os outros lá embaixo.

O homem de barba malfeita olhava fascinado para a cena que ocorria no saguão. Um sorriso cínico se escondia no canto de seus lábios. A cada novo tiro disparado, ele apresentava mais satisfação com tudo o que vinha ocorrendo. Subitamente, se virou e sentou na cadeira defronte à nós, trazendo a arma de volta em nossa direção e comecei a rir.


(POV MARK)

Se você perguntar a um cirurgião por que ele escolheu esta carreira, existe a grande possibilidade de ele responder que foi pela sensação, pela agitação, pela adrenalina de abrir alguém e salvar sua vida. Se você fizer a mesma pergunta para outro cirurgião completamente aleatório ao primeiro, existe uma grande chance dele responder a mesma coisa.

O que acontece é que esse conjunto de emoções e sentimentos é extraordinariamente viciante.

A sensação.

A agitação.

A adrenalina do corte.

Nós, cirurgiões, somos viciados em adrenalina. Sinceramente, são poucas coisas que possam ser comparadas ao efeito que esse hormônio produz quando liberado na corrente sanguínea; o corpo passa a se manter alerta a fim de enfrentar situações de fortes emoções ou estresse como luta, fuga, excitação e medo.

Conceitualmente falando, o medo é um estado emocional que surge em resposta a consciência perante uma situação de eventual perigo. A ideia de que algo ou alguma coisa possa ameaçar a segurança ou a vida de alguém, faz com que o cérebro ative, involuntariamente, uma série de compostos químicos que provocam reações que caracterizam o medo. O aumento do batimento cardíaco, a aceleração da respiração e a contração muscular são algumas das características físicas desencadeadas pelo medo.

A adrenalina é o hormônio que nos prepara para enfrentar o medo; eu, particularmente, sempre fui muito orgulhoso para admitir que estava com medo. Foram raras as ocasiões.

O acidente de avião.

O nascimento de Sofia.

O tiroteio.

Eles dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar; isso é um mito. É uma coisa muito rara de se acontecer, mas não impossível. Quando você é acertado por 30 mil ampères de eletricidade pela primeira vez, você sente. Logo, ninguém que já foi atingido por um raio uma vez, imagina que será atingido pela segunda vez; isso é quase como ganhar na loteria. Ser atingido pela segunda vez é pior do que a primeira, porque você não está preparado e quando aquele 30 mil ampères de eletricidade percorrem seu corpo novamente... é bem pior.

Quando os alarmes começaram a soar por todo o hospital, os pelos de meu braço se eriçaram. Mas que diabos estava acontecendo agora? Não demorou muito para surgirem os primeiros gritos ecoando dos andares inferiores. Seria um incêndio? Um terremoto? Não.

"Mark!!!" – Kepner passou apressada por mim – "corra, eles estão atirando!!" – ela gritou.

As portas dos corredores começavam a se fechar e, em breve, eu ficaria preso num espaço de quinze metros. Rapidamente, corri na mesma direção que April, sem olhar para trás. Quando as portas entre os corredores se fecharam, conseguimos chegar até a sala dos residentes. Havia cerca de 15 pessoas ali e estavam tão assustadas quanto eu. Depois de alguns minutos, me dei conta de que faltava algo: Lexie. Ao perceber a sua ausência, uma dose de adrenalina me atingiu em cheio.

"Lexie?" – eu gritei em meio a todas as pessoas que se aglomeravam naquele lugar. Ela não respondeu – "Lex???" – tentei novamente, sem sucesso. Minhas mãos começavam a suar e a minha respiração tornou-se ofegante.

No canto avistei Meredith pálida.

"Grey?"

Ela me olhou conturbada.

"Onde está Lexie?"

Essa pergunta serviu-lhe como um soco na boca do estômago. Até aquele momento, Meredith não havia se dado conta de que sua irmã não estava ali entre nós. Uma fina linha de suor começou a percorrer seu rosto enquanto sua respiração começava a pesar.

"Eu... eu não sei." – ela gaguejou – "nós tínhamos marcado uma cirurgia, mas... mas ela não... não apareceu e logo depois começaram os tiros e..." – Meredith parou e tentou retomar o fôlego.

"Kepner!" – eu gritei. Poucos segundos depois, April apareceu ao nosso lado – "fique aqui com a Grey."

Ela assentiu.

"Eu vou tentar nos tirar daqui."


(POV LEXIE)

Com o passar dos minutos, os gritos iam cessando e os tiros ficavam mais abafados, afastando-se de nós. Após vários minutos brincando com a arma apontada em nossa direção, o sequestrador nos encurralou num canto permitindo que Owen e eu nos sentássemos no chão.

Sentia meu coração acelerar a cada vez que ele mirava com a arma em nós. Tentei disfarçar minha respiração pesada, enquanto Owen tentava me acalmar apertando minha mão o mais forte possível. Sentia as lágrimas brotarem em meus olhos e tentei contê-las, com sucesso.

Na minha barriga, eu pude sentir meu bebê agitado. Eu sabia que ele podia sentir todo o stress e todas as emoções que eu estava passando. Por ele, eu tentei me manter calma e pensar em coisas positivas.

Funcionou por algum tempo. E depois... parou de funcionar. As coisas simplesmente começaram a dar errado quando comecei a sentir uma dor insuportável percorrendo meu corpo inteiro. Comecei a sentir gotículas de suor descendo por meu rosto enquanto tentava esconder a dor que eu sentia.

Tudo daria certo. Eu repetia mentalmente.

Tudo vai acabar bem.

Aquilo era só um efeito colateral de se estar grávida e ser mantida refém. Eu tinha que pensar positivo.

Com um desespero evidente, Owen começou a me encarar sem palavras. Olhei para o chão e percebi que nós dois estávamos sentados em uma poça d'água. Apenas naquele momento eu me dei conta do que nós estávamos prestes a encarar.

"Lexie." – ele falou tentava ficar calmo – "sua bolsa acabou de estourar."

Meant to be | Slexie [FINALIZADA]Where stories live. Discover now