Bônus - Dona Josi

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Bônus - Josi.



Ainda me sinto anestesiada com a imagem a minha frente.

A menina ferida que entrou no banheiro era a mesma que coloquei no ônibus em São Paulo.

Medrosa, assustada, com olhar triste, semblante sofrido e postura derrotada.

A mesma que me viu lutar a vida toda para dar o mínimo necessário para ela ter uma vida digna.

A mesma que me viu sofrer com a perda do amor da minha vida e do meu filho querido.

Um dos meus dois tesouros.

O único que ainda estava ao meu lado lutando.

Apesar de jovem ela já passou por mais dificuldades que muitos experientes por aí.

Já caímos muito nesta vida.

Levantamos cambaleantes em cada uma delas.

Mas sempre seguimos em frente.

Minha historia?

É simples, perfeita e tinha tudo para ser feliz.

Conheci o Carlos na escola, e desde que me conheço por gente sempre o admirei.

Vivemos um romance clássico e simples.

Desde a descoberta do primeiro beijo, até a descoberta do amor a dois em nossa noite de núpcias.

Sim, vivi um amor simplesmente romântico e perfeito.

Logo que me tornei a Sr Joseane Chagas, casada com o mais perfeito romântico Carlos Chagas.

Trabalhador, competente e sonhador, sempre quis ser dono do próprio nariz.

Assim, passou a vida tentando erguer a pequena lojinha que herdou de um tio distante e sem filhos.

Um pequeno bazar, mas que continha de tudo, desde simples costura e produtos e tecidos caros e importados.

Foi ai que iniciei meu gosto pela costura.

Durante as tentativas do Carlos em incluir novos produtos ou criar novas opções no bazar; eu me acostumei a pegar as sobras de tecido e de botões e criar novas peças pra complementar nossa renda.

Bolsas, porta livros, carteiras, camisetas e tudo que se poderia customizar e vender eu fazia.

Até que uma cliente elogiou a qualidade das minhas peças e me chamou para trabalhar em seu ateliê.

Com o passar do tempo me tornei uma ótima costureira criativa o suficiente para dar vida aos modelos fantásticos desenhados pela modesta, mas incrível estilista Cecília Carvalho.

Tornamos-nos amigas no dia em que a tragédia tomou conta da minha vida.

Eu em minha vidinha perfeita com meu marido fantástico e batalhador, e meus filhos lindos Emilio e Emily.

De um dia para a noite me vi sozinha após um assalto em que levou meu amor Carlos e meu filho Emilio.

Para completar estava com uma filha pequena e as dividas dos fornecedores batendo na minha porta.

Nunca me atentei aos detalhes administrativos do bazar, nem me preocupei com isso nos primeiros meses da ausência do meu Carlos.

Ate que realidade bateu na mina porta em forma de despejo.

Sim, despejo.

Morávamos nos fundos do bazar.

Enquanto eu estava perdida em minha agonia de cuidar da Emily, manter meu emprego e viver a dor da perda do marido e de um filho; neguei-me a abrir o bazar ou me preocupar com algo que me fizesse lembrar eles.

Uma Chance a FelicidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora