PARTE 2 - Capítulo 6

34 5 4
                                    

24 de novembro de 2021 

— AAHH! Que sonho foi esse? — suspirei.

Gotas de suor escorriam em meu rosto. Passei a mão na testa e olhei pensativo para o teto. Mais um dia como qualquer outro... E o clima está chuvoso, posso escutar os pingos da chuva do lado de fora.

Então, após alguns minutos, levantei da cama, calcei o chinelo e caminhei até o banheiro. Na volta, liguei o interruptor e sentei numa cadeira do meu quarto... Preciso mudar a minha vida. Isso está um saco! Enquanto eu me perdia nos pensamentos, observei por um momento as coisas ao meu redor: minha cama de casal realmente estava velha, o branco da madeira aos poucos era tomado por uma tonalidade da cor preta. Minha pequena estante de livros era usada, ganhei de uma mulher que eu ajudei quando ela mudou de casa. Eu estava mesmo precisando comprar coisas novas, tudo aqui está velho, era só olhar as paredes; o bege está tão desbotado que parece que a casa nunca foi pintada mais de uma vez.

Talvez mais tarde eu saia para comprar algumas coisas, assim aliviando brevemente essa sensação. Porém, eu não estava muito afim, pois tenho optado por ficar em casa, não só devido à pandemia, mas porque não tenho sentido prazer de ir a muitos lugares, conversar com algumas pessoas se tornou cansativo e tóxico. Até mesmo pelas redes sociais tem sido assim. E pensando nisso, devo ter recebido algumas mensagens.

Então peguei o celular, mas havia uma mensagem estranha:

09:45 - Ele enlouqueceu e

Eu li a mensagem daquele número desconhecido e fiquei sem entender. Será que era alguma pegadinha? Resolvi não responder e esperar, já que a pessoa estava online.

09:47 - Vem me ajudar, antes que...

Com certeza era engano, então comecei a digitar para responder, mas a pessoa me ligou. Isto só pode ser brincadeira!

— Alô?

— Ele vai me matar! Me ajuda! — sussurrou a mulher do outro lado. — Estou no Parque Linear, na... — Apesar do tom baixo, pude notar a tensão em sua voz.

A ligação caiu ou ela desligou, não sei. Fiquei sem saber como reagir, nem deu tempo de perguntar quem era, mas com certeza deve ter sido algum trote. Então deixei o celular de canto e fui comer alguma coisa, ainda pensando naquilo. Contudo, como uma folha ao vento, me distrai.

Peguei o meu copo com chá e tomei um pouco, reparando em minha pequena cozinha, que também necessitava de uma atualização. O armário estava cheio de furos minúsculos, malditos cupins, mesmo que eu envernizasse aquele marrom esmaecido, ele jamais voltaria a viver. Olhei para a cadeira vazia na outra ponta da mesa de mármore cinza e, neste instante, a solidão aproximou-se e ficou ali comigo.

***

Como voltei a pensar naquela ligação, resolvi ir à delegacia depois que a chuva parou. Mostrei as mensagens e contei sobre a chamada, após os procedimentos me retirei.

Espero que descubram, pois eu fiz a minha parte.

— Vinícius — alguém me gritou.

Eu parei de andar e olhei para trás.

— Ah, Carlos — sorri, enquanto ele se aproximava. — Não sabia que estava trabalhando hoje.

— Estou cobrindo um colega que ficou doente — Ele deu de ombros. — Mas o que você faz aqui?

— Bem... — Olhei para as nuvens escuras que cobriam o azul do céu.

— Vamos a minha sala — Carlos virou e caminhou até a entrada. Ele provavelmente percebeu a minha preocupação com o clima.

Carlos era um antigo amigo e uma das poucas pessoas que eu ainda gostava de conversar. Após entrar na sala, contei o que aconteceu e ele pareceu intrigado, mas qualquer um ficaria.

— No que está pensando? Você sabe de alguma coisa? — O encarei desconfiado, enquanto me ajeitava na cadeira.

— Eu tive um sonho estranho... — Hesitou. — Enfim. É bobagem — ele levantou da cadeira. — Vamos? Eu vou almoçar.

— Ok. — Passei a mão no cabelo e levantei. Neste momento, reparei que numa das paredes brancas havia um quadro com algumas fotos de pessoas.

— Que fotos são essas?

— São retratos falados de possíveis criminosos — Carlos respondeu, após abrir a porta. Neste instante, senti meu corpo tremer levemente da cabeça aos pés.

Saímos da delegacia e quando pisamos na rua, um dos funcionários gritou:

— Ei! Carlos.

— Espera aí — ele pediu, antes de correr de volta.

— Eu vou indo — elevei o tom de voz. — Depois nos falamos. — Acenei me despedindo e quando virei, esbarrei em uma mulher.

— Cuidado! — ela esbravejou, após um envelope cair de suas mãos.

Neste momento, paralisei. Era como se eu a conhecesse de algum lugar.

— O senhor está bem? — Nos encaramos por um instante, antes que ela baixasse para pegar o envelope.

— Ah! Desculpa. Eu estava distraído — falei sem jeito, enquanto reparava em seus olhos azuis.

— Sem problema. — Ela respirou fundo. — Eu peço desculpa também — disse, ao passar a mão na lateral da cabeça. Neste momento, notei que seu cabelo ia até a cintura; o loiro combinava com a tonalidade de sua pele clara. Ela realmente era muito familiar.

— Obrigada — sorriu e seguiu o seu caminho. Parecia preocupada, mas claro, dificilmente alguém que vem a delegacia não está.

Laço Entre Almas: A chamada que nos uniuWhere stories live. Discover now