Capítulo 8

35 4 6
                                    

27 de novembro de 2021

Eu saí para comprar algumas coisas e no caminho, por diversas vezes, via um casal. Será que vou continuar solteiro por muito tempo? Eu fico me questionando a respeito, mas também acredito que não devo fazer disso um peso, já bastam as outras coisas da vida. Enquanto eu caminhava com as minhas compras, após sair do mercado On-li, uma das sacolas rasgou e caiu no chão... Merda! De repente, senti como se já tivesse vivido aquilo.

— Quer ajuda?

Escutei uma voz feminina atrás de mim e quando me virei, reconheci aquela fisionomia no mesmo instante.

— Oi — sorri. — Não precisa, foi só a alça que rasgou — falei, colocando as sacolas no chão para pegar a outra. — Olha. Me desculpa por aquele dia na frente da delegacia, eu realmente não te vi.

— Sem problema. Eu estava distraída também — ela falou gentilmente. Parecia mais tranquila desta vez. — Você realmente não se lembra de mim, né?

Quando ela perguntou aquilo, eu lembrei de uma cena do meu sonho. O que eu sonhei estava acontecendo?

— Espera! Gabriela? — Olhei bem para ela.

— Sim — ela riu. — Achei que não lembraria que estudamos juntos na época de escola.

Automaticamente direcionei meus olhos ao pulso dela.

— Aah! — sorri admirado, após reconhecer aquele relógio preto das bordas douradas e com as iniciais R&J. — Você ainda usa ele — não pude evitar o sorriso.

— Uso — Gabriela desviou o olhar e colocou a mão sobre o relógio. — Eu percebi que era você só depois que entrei na delegacia. Fico contente por nos encontramos de novo — sorriu.

— Isso me lembra que o pessoal da escola tinha o costume de falar que a gente iria casar — ao pronunciar aquelas palavras o meu coração acelerou e pude perceber que ela ficou sem jeito, pois o seu rosto havia corado. Fiz merda! E senti que não havia sido a primeira vez. O que está acontecendo?

— Você está bem? — Escutei a voz dela.

— Tudo bem? — Um homem com o penteado estranho estava com a mão estendida para mim.

— Desculpa. Estou sim. — Ao cumprimentá-lo, tive a sensação de que ele não gostou de mim; pelo seu olhar e, principalmente, o aperto de mão que quase quebrou os meus dedos.

— Vamos então. — Ele envolveu Gabriela em seu braço.

— Tchau — ela se despediu sem nem me olhar direito.

Nossa! Eu não acredito que me perdi nos pensamentos na frente deles. Ela vai achar que me tornei um esquisito.

— Ei! Sai da frente! — Uma senhora quase esbarrou em mim ao passar. Por sorte, saí antes da frente. Não é fácil ser eu, até os pensamentos me atrapalham.

Então, fiquei sobre os calcanhares, amarrei a alça da sacola rasgada nas outras e as peguei com cuidado, antes de voltar a andar. Mas havia algo estranho, pois além daquela senhora, não passou mais pessoas na calçada desde que comecei a conversar com a Gabriela. No caminho até o terminal de ônibus, vi na vitrine de uma loja um desses relógios digitais de pulso; entrei e resolvi comprar dois. Quando enfim eu saí, notei pessoas aglomeradas; com certeza aconteceu algum acidente; conferi se as sacolas estavam firmes e caminhei até o tumulto. Ao me aproximar, avistei uma senhora caída na rua, deitada de bruços, cercada por uma bolsa e pertences que provavelmente pularam para fora das sacolas que estavam próximas.

— O que aconteceu? — perguntei a uma mulher ao lado, enquanto tentava visualizar com clareza a situação.

— Um carro a atropelou quando ela atravessava a rua. — Eu escutava o que a mulher dizia, enquanto olhava para a idosa. — Se ela tivesse atravessado um pouco depois, acho que estaria viva. Mas as coisas acontecem como tem que acontecer, mesmo sendo triste pensar que esse era o destino dela.

Quando eu ouvi aquelas palavras, me lembrei daquela senhora... Foi ela quem quase esbarrou em mim há pouco tempo. Então virei o rosto para a mulher ao meu lado, mas ela me encarou incomodada; eu não havia reparado antes, porém, sem dúvida está não era a mesma que estava falando comigo agora pouco.

***

Eu segui pensativo para o terminal de ônibus. Teríamos uma hora certa para morrer? É como se o destino tivesse preparado toda aquela situação para que ela tivesse uma chance de permanecer viva, porém... Alguma coisa não está certa. Enquanto minha mente trabalhava nas perguntas e respostas, encostei a cabeça na janela do ônibus e acabei cochilando, quando acordei já estava perto de casa; um alívio não ter passado do ponto. Então, assim que cheguei em casa, fui tomar banho; deixando a água cair sobre meu rosto, eu refletia sobre a minha vida.

Laço Entre Almas: A chamada que nos uniuWhere stories live. Discover now