Capítulo 15

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Gabriela

27 de novembro de 2021 - 14h:10m

Encontrar Vinícius outra vez me deixou contente. Eu não sabia bem o motivo, mas talvez fosse a nostalgia da época de escola.

— Bem, eu... Ah... — Vinícius suspirou, após desviar o olhar algumas vezes. — Isso vai soar esquisito. — Ele me olhou nos olhos, mas parecia querer desvia-los a todo instante.

— Não se preocupe — sorri para ele. Eu imaginava o que ele diria, mas preferi não ouvir e impedir que um clima estranho surgisse.

Ele deu um meio sorriso e perguntou:

— E você, aonde vai?

— Resolvi sair para dar uma volta — Minha voz embargou ao falar. — E aí... — respirei fundo —, aceita me fazer companhia?

— Mas é claro.

***

Então demos a volta por trás do AMA e seguimos conversando. Falamos sobre nossa vida atual e atualizamos as informações sobre cada um.

— Sério, Vinícius?

— Sim, raramente mantenho contato com minha família. Não são pessoas que você gostaria de estar sempre por perto, mas dá para aturar, no entanto, como a maioria, eles também não gostam quando eu começo a pensar muito nos assuntos e a fazer questionamentos. Isso soa como uma afronta para os seus ouvidos, mas enfim, faz parte. — Ele virou o rosto para o lado oposto a mim e ergueu a mão até os olhos. — E você, tem contato frequente com a sua família?

Fiquei de coração partido ao ouvir a situação dele, estava realmente mal. Porém, fiquei muito mais surpresa em como ele teve a facilidade em desabafar comigo, mesmo depois de anos sem nos encontrarmos.

— Converso mais com a minha irmã, mas as vezes visito a família sim. Eles também não são o melhor exemplo de família, mas dá para aturar — falei, sorrindo de canto.

— Desculpa por tornar esse momento tão... Pesado. — Vinícius olhou para o céu. Parecia pensativo.

— Fica tranquilo. — Coloquei a mão sobre o ombro dele. — Eu fico contente que confie em me contar. Guardar muitas emoções e sentimentos pode não ser bom.

— É verdade - falou, fixando os olhos em mim. E eu não pensei em nada, apenas inspirei e expirei.

Por um momento o silencio reinou.

— Vou te confessar algo — falei enquanto caminhávamos. — Eu saí para andar porque tive uma discussão com o bruno. — Vinícius apenas me encarou, sem dizer uma palavra. — Resolvi tornar recíproco a confiança. Na verdade, eu sinto como se ainda tivéssemos a mesma ligação da época de escola.

— Sério?

Paramos bruscamente.

— Eu quis dizer... — Meu coração acelerou. Eu não sei porque falei aquilo. — Desculpa por falar isso do nada. — Envergonhada, levei as mãos ao rosto.

— Não foi nada demais. Eu me sinto aliviado em ouvir isso — ele me encarou outra vez e me senti diferente. Eu realmente estava bem.

Então, voltamos a caminhar e depois paramos numa pequena praça onde haviam crianças brincando. Sentados num dos bancos, ficamos conversando e vendo os pequenos se divertirem.

— Às vezes você sente vontade de voltar a ser criança?

— Eu não sei Gabriela, há momentos que sim e outros que não.

— Ah, sério? Olha essas crianças brincando e pensa direito.

— Ok. Sim, se fosse para decidir agora, com certeza eu voltaria.

— Desejo realizado. — Me levantei e peguei na mão dele. — Vamos ser criança por um momento.

— Não acredito nisso. — O rosto dele corou.

— Vem. — Puxei Vinícius até um balanço. — Vamos tirar toda a tensão de ser adulto por instante.

— Que vergonha — disse Vinícius ao sentar no balanço. Então eu o empurrei. — Imagine que você possa voar e veja o mundo com outros olhos. Com bons olhos.

Aquele momento estava sendo muito bom. Eu estava alegre. A presença de Vinícius realmente me motivava a ser a melhor de mim mesma.

— Está sentindo a sensação de liberdade? — perguntei a ele.

— Você tinha razão. O ir e vir do balanço nos faz enxergar o profundo dos nossos corações. — Eu parei de empurra-lo e fui para frente. Seus olhos estavam fechados e o seu rosto expressava a tranquilidade de quem estava se encontrando. E por algum motivo, aquilo me fazia completa.

— Quer ir agora? — Ele me perguntou, mas preferi deixa-lo aproveitar mais.

— Fica tranquilo aí. Deixe que a pureza da sua alma respire.

Enquanto o admirava se balançar, senti como se eu não estivesse vivendo com quem eu realmente queria. Isso é um desrespeito com o Bruno? Eu não sei, mas é como se houvesse algo, alguma coisa que eu ainda não me dei conta da existência. De repente, gostas de chuva caíram sobre mim.

— Eita. Melhor sair... — Não deu tempo. A chuva caiu tão rápido que todos que estavam ao redor correram apressados para se protegerem.

— Agora sim ficou completo — Vinícius ria.

— Como assim? Sai daí.

— Como seremos crianças por um momento, se não nos molharmos na chuva? — Ele ainda estava lá, indo e vindo no balanço.

— Estamos encharcados Vinícius. — Eu queria sair da chuva, mas uma sensação enérgica tomava conta de mim.

— Vamos nos esconder então. — Ele desceu do balanço e veio em minha direção, sem tirar o sorrido do rosto.

Quando ele se aproximou, segurei em suas mãos e comecei a girar. Vinícius não falou nada, apenas se permitiu viver o momento, enquanto olhávamos para o céu e deixávamos a chuva cair sobre os nossos rostos.

— Obrigado — ele falou, parando de girar.

— Pelo o que? — O olhei, esperando que não notasse a tensão em mim.

— Por me proporcionar esse momento tão único. — Nossos olhos se encontraram de maneira diferente. Eu pude notar que ele sentia o mesmo que eu, mas... Meu corpo está trêmulo. Porque estou sentido isso com o Vinícius?

— Gabriela, você se lembra de algum momento no passado em que fomos passar um dia numa piscina?

— Eu não tenho certeza, mas acho que isso nunca aconteceu. — Aproveitei o momento e soltei as mãos dele. — Melhor irmos, se não ficaremos resfriados.

— Você tem razão.

Percebi que Vinícius ficou triste, isso estava claro. No entanto, eu não poderia simplesmente deixar isso seguir adiante. Minha cabeça está uma bagunça. O que eu estou fazendo?

— Eu voltarei pelo caminho que viemos — falei. — Obrigado por esse momento. Foi muito bom estar com você após tanto tempo.

— Certo — ele respondeu. — Eu vou seguir reto, em direção ao terminal.

Nesse instante, nossos olhos se encontraram mais uma vez. Como se falassem profundamente um com outro, eles expressaram a tristeza do momento, seus desejos, medos e... Eu não compreendi, minha mente parecia bloqueada. Mas eu tenho a certeza de que aquela não foi a primeira vez que falavam entre si.

— Então, tchau — ele acenou com a mão, ao dar alguns passos para trás.

— Tchau.

Respirei fundo e virei-me, partindo em direção ao meu destino. E um pouco distante dali, olhei para trás, na esperança de que Vinícius estivesse olhando, contudo, ele ainda estava parado no mesmo lugar, mas de costas. Nem sequer ameaçou virar.

Laço Entre Almas: A chamada que nos uniuWhere stories live. Discover now