Capítulo 20

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Vinícius

06 de fevereiro de 2022 – 9h:00

— Finalmente! — Pulei da cadeira cheio de alegria, pois depois de tanto tempo consegui um emprego. Eu estava realmente alegre, já que após tantos acontecimentos, idas e vindas no tempo, eu poderia dar continuidade a minha vida.

Neste instante, tocaram a campainha. Então minimizei as janelas do navegador do meu notebook e caminhei pela sala até a entrada.

— Apesar do meu trabalho, eu não sou tão bom nisso! — Carlos passou às pressas por mim, após eu abrir o portão.

— O que? — Curvei as sobrancelhas como quem realmente estava sem entender.

Antes mesmo de entrarmos, ele virou-se e disse:

— Eu estava em negação, ainda estou na verdade. Mas uma coisa é impossível não ser verdade...

— Carlos, o que está acontecendo? — Comecei a ficar apreensivo.

Os olhos dele se encheram de água, ao mesmo tempo em que expressavam culpa.

— Ele a matou.

Senti meu corpo estremecer; um frio passou dos pés à cabeça e não pude evitar as lágrimas que pularam dos meus olhos.

— Não pode ser verdade!

— Eu deveria ter agido com mais intensidade e rapidez. Porém, além da negligencia do sistema, eu falhei... — ele respirou fundo. — Ficar investigando não a salvou. Aquele Bruno é um monstro.

— Isso é impossível! Depois de tudo? — Engoli a saliva e virei-me em direção ao portão.

— Calma, Vinícius! Agora a polícia irá atrás dele.

— Carlos! — Olhei para ele. — Ainda não acredita nos seus sonhos? Na viagem no tempo?

— Eu sei, mas...

— Nada adiantou! — gritei. — Mesmo sem entender eu tentei, porém, mesmo evitando a torre do relógio, ela se foi. — Caí sobre os meus joelhos e chorei intensamente.

— Me perdoe, amigo. — Carlos me abraçou.

— Eu não entendo... — Eu soluçava, enquanto os meus lábios tremiam e meu rosto ficava cada vez mais encharcado. — Eu pensei que a torre... — Meu peito doía muito e a culpa pesava em minha mente. Então me levantei e corri dali.

— Aonde você vai?

Carlos tentou me parar, mas só percebi que ele havia ficado para trás quando cheguei no centro de parelheiros. Após caminhar sem rumo e de tanto receber olhares, fui para o Parque Linear e lá resolvi subir na torre do relógio pela última vez.

***

Do topo da torre contemplei esse mundo sem sentido, essa sociedade injusta e as pessoas que a compunha.

Se o tempo fosse meu amigo, ele estaria a meu favor...

Expressei meu pensamento, mas o homem de terno prata, ao meu lado, completou:

— Se o tempo fosse seu inimigo, você já não estaria mais aqui. — Ele aproximou-se. — Pode parecer que as coisas não estão mudando e que não adianta nada tentar mudar, já que tudo se repete, mas as coisas estão em constante mudança e quando não parece é porque você está olhando da maneira errada.

Fiquei em silêncio. Aquele homem de aparência juvenil, contudo, que falava como um ancião, chamou a minha atenção.

— Esta tarde irá chover. A previsão diz que haverá um temporal daqueles. — Ele piscou e se retirou.

Eu não sabia de onde aquele homem veio, porém a suas palavras foram como uma luz no fim do túnel. No entanto, agora restava encontrar-me com a coragem.

Eu passei o restante da manhã na torre, sentado num canto, lutando contra mim mesmo e quando avistei as nuvens se unirem no céu e senti o vento soprar, percebi que estava na hora de me decidir. E se der errado? Me perguntei. Respirei fundo e me levantei; o vento estava mais forte e as nuvens ficavam escuras; era hora de me entregar a morte e ter a chance de voltar no tempo ou morrer tentando.

— Senhor, é perigoso ficar aqui. Uma tempestade se aproxima — disse um dos guardas da torre, segurando uma lata de cerveja.

— Eu já vou me retirar.

De repente as primeiras gotas de chuva tocaram em mim e como se fosse lançada, a tempestade começou. Os primeiros sons de trovões puderam ser ouvidos e os fechos de relâmpagos ficavam cada vez mais próximos.

— Chegou a hora.

O guarda já não estava mais por perto, então caminhei calmamente até ficar próximo a parede em que o relógio se encontrava. E num deslumbre, vi riscos luminosos surgirem no céu; logo um clarão me impediu de continuar enxergando e pude ouvir um forte estrondo.

Laço Entre Almas: A chamada que nos uniuWhere stories live. Discover now