Capítulo 14

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27 de novembro de2021

Durante esses dois dias, Carlos resolveu ficar distante de tudo isso, até mesmo do serviço. Diferente de mim que hoje resolvi sair de casa, como já havia acontecido antes, porém, não seria para comprar coisas desta vez. Eu fui para o mesmo local em que encontrei Gabriela das outras vezes, parei um pouco à frente do mercado On-li e esperei. Não estava carregando nada desta vez, mas confiei que ela pararia novamente.

Então, após alguns minutos, avistei uma senhora se aproximando e foi aí que me lembrei o que viria a seguir. O que eu deveria fazer para impedir? Pensa rápido! A senhora estava bem próxima quando no impulso, falei:

— Desculpa incomodar a senhora. Mas eu estou precisando ganhar alguns trocados e queria saber se aceitaria a minha ajuda para carregar as suas coisas.

Ela me olhou desconfiada, provavelmente percebeu a tensão em mim, mas deve ter interpretado errado. Pois deu um passo para trás e olhou para os lados, como se fosse gritar por socorro.

— Desculpa. Eu não quis assustar a senhora — suspirei. — É que estou muito preocupado com algumas coisas da minha vida e eu queria ser útil de alguma forma.

A velhinha ia dizer algo quando...

— Vinícius?

Era ela. Não só reconheci novamente a sua voz, como os meus olhos foram em sua direção.

— Oi, Gabriela. — Não pude evitar o sorriso. No entanto, percebi que algo estava errado.

Era para essa senhora ter passado por aqui depois da Gabriela. Porque essa mudança gigantesca?

— Está tudo bem? — Gabriela perguntou. — Eu te vi e resolvi falar com você, já que não nos reconhecemos naquele dia.

— Toma alguns trocados, meu filho. Mas não precisa me ajudar, vou encontrar meu esposo logo a frente.

Eu estendi a mão sem pensar e peguei aquelas moedas. E antes de seguir o seu caminho, a idosa olhou para mim e disse:

— Podemos refazer nossos passos quantas vezes quisermos, mas o passado realmente fica para trás. Contudo, no amor temos uma vantagem... Há sempre uma chance — ela finalizou a frase e olhou para Gabriela. — Cuidem-se.

Eu fiquei sem entender o motivo daquelas palavras. Era como se ela soubesse de algo.

— Isso foi realmente estranho — disse Gabriela.

— Sim. — Reparei no pulso dela e percebi que não estava com o relógio que era do meu avô. Isso significa que...

— Está tudo bem, amor?

Era ele. Meu coração acelerou e não pude evitar que a tensão em mim ficasse ainda mais visível. Não posso tomar nenhuma atitude impulsiva. Mas a minha vontade era de agarra-lo pelo pescoço. Só de imaginar o que Gabriela passaria logo menos, me dava muita raiva. Contudo, era exatamente por isso que eu deveria agir com sensatez.

***

Depois que Bruno e Gabriela foram embora, eu os segui. Precisava saber onde ela morava para tentar encontrar alguma pista, alguma prova que ajudasse a evitar aquele final.

Eu caminhei por pouco tempo, parei em frente a uma confeitaria e os observei de longe. Esperei eles passarem do AMA, Assistência Médica Ambulatorial, e voltei a caminhar; a cada passo eu tentava encontrar um motivo que justificasse a falha na união entre Gabriela e eu. Sempre gostei dela e lembro de ser correspondido muitas vezes, mas o que deu errado de verdade, não sei.

Parei pouco antes da Assistência Médica, pois eles entraram numa casa toda azulejada; com três janelas de vidro no único andar acima da garagem. Era um bonito lar, mas bem fechado. Dei mais alguns passos e resolvi sentar num banco de concreto em frente ao AMA, fiquei ali alguns minutos, sem saber o que fazer na sequência. O tempo passou, até que... Merda! Ele vai me ver.

Me levantei rapidamente e entrei no AMA, pois Bruno estava saindo com um carro e talvez notasse a minha presença quando passasse. Ao ter a certeza de que ele havia se afastado dali, caminhei de volta à rua me sentido mal pelo o que eu estava fazendo. Era por amor? Eu não poderia me deixar levar por questionamentos agora, pois a vida dela estava em jogo e independemente dos meus sentimentos, eu deveria ajudá-la.

E enquanto eu me afastava dali, pensando na melhor atitude para se tomar, ouvi aquela voz que a minha alma reconheceria até mesmo em outra vida.

— Vinicius. Espera. — Ela vinha rapidamente em minha direção. Meus lábios quiseram expressar a emoção que eu sentia através de um sorriso e eu não pude evitar. — O que faz por aqui?

Laço Entre Almas: A chamada que nos uniuWhere stories live. Discover now