PARTE 4 - Capítulo 21

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31 de dezembro de 2021

Eu estava deitado, quando abri os olhos e percebi que as nuvens ainda preenchiam o céu, mas agora era noite. Eu consegui voltar! Me alegrei ao mesmo tempo em que fiquei mais aflito. Então, sem demora, coloquei-me sobre os meus pés e notei que haviam pessoas correndo, provavelmente para se esconder da chuva que viria. Olhei para a torre e me lembrei exatamente em qual momento eu estava; corri apressadamente em direção a entrada, tive dificuldade como das outras vezes, mas percebi que haviam diferenças no número de pessoas que desciam da torre e que se escondiam no salão de entrada.

Rapidamente passei entre elas e subi as escadas, no entanto, mais pessoas começaram a descer as pressas, dificultando minha locomoção. Enfim, quando cheguei ao topo, não visualizei a Gabriela e muito menos o Bruno; caminhei com o coração na mão, enquanto tentava encontrá-los com os olhos; mas antes que eu saísse da cobertura, passei pelo lugar em que eu havia me escondido da outra vez, foi então que senti meu corpo arder de ódio ao ver que Bruno segurava Gabriela pelos braços, enquanto a arrastava.

Corri para impedir que a história se repetisse, mas nesse instante, Bruno soltou a Gabriela e pegou a arma, apontando-a em minha direção.

— Pensou que eu não havia percebido que estava aí? - disse rindo.

— Deixa ela em paz! — gritei.

Gabriela olhou para mim e pude ver através da sua expressão, que o seu sofrimento interno era maior do que o físico poderia mostrar.

— Eu vou te dar a chance de sair daqui. — Bruno mantinha os olhos fitados em mim. — E se chamar a polícia, mato ela!

Antes de responde-lo, notei que um celular estava no chão, próximo aos dois. Provavelmente foi desse momento que ela me ligou, mas não tenho tempo para um quebra-cabeça.

— Você não é um homem de verdade, Bruno! Acredita mesmo que essa seja a atitude de uma pessoa que ama? O amor não é forçado, ele é conquistado, talvez, nem merecido, mas oferecido. — Eu tentava não gesticular enquanto falava. — No entanto, uma coisa é certa, quem ama deseja o bem, independentemente se a pessoa amada esteja ao seu lado, e mais, podemos aprender amar outras pessoas nessa vida, desde que isso não fira a fidelidade [...]

Enquanto eu falava, Gabriela se arrastou lentamente para trás, até conseguir chegar mais perto de uma barra de ferro que estava solta.

— Isso tudo é muito lindo. — Os olhos de Bruno estavam realmente cheios de água. — Porém, é clichê demais para mim! E eu não quero ouvir essas baboseiras outra vez — falou, dando alguns passos à frente.

— Quero ter certeza que vai conseguir atirar olhando bem nos meus olhos — engoli em seco ao proferir essas palavras.

— Que assim se... — Bruno foi interrompido por uma pancada e caiu, mas não antes que a arma disparasse.

Gabriela conseguiu golpeá-lo com a barra de ferro, contudo, fui atingido de raspão no braço direito. E sem entender se foi devido o susto, eu também cai; Gabriela correu até mim, e gritou ao me abraçar, eu não entendi direito, pois além das vistas turvas, parece que os meus ouvidos foram prejudicados de alguma forma.

— Você não viu nenhum dos seguranças da torre? — ela perguntou.

Antes que eu pudesse responde-la, Bruno a surpreendeu, puxando-a pelos cabelos e a arrastando em direção do parapeito, mas não antes de me chutar.

— Eu deveria ter confiado menos em mim mesmo, admito, mas o destino não poderá unir vocês se um dos dois estiver morto — Bruno falava em alto tom. — Eu deveria ter pedido para aquele feiticeiro fazer algo que o impedisse, Vinicius! Você realmente se tornou um incomodo, desde a escola eu via esse potencial em você, mas não acreditei que fosse tanto!

Eu o ouvia com mais facilidade, enquanto me levantava, cheio de dores.

— Do que está falando, seu louco? — perguntou Gabriela, ainda com os cabelos esticados por Bruno, que pressionava uma arma em seu rosto.

— Eu acreditei que após vocês dois se distanciarem no último ano do ensino médio, eu teria alguma chance. — Bruno estava com Gabriela em sua frente, pressionando a cabeça dela em seu peito enquanto puxava o seu cabelo com mais força. — Não grite! — falou a ela, quando a mesma resmungou de dor.

— Onde você quer chegar com esse assunto? Solta ela logo! — Eu pressionava a ferida em meu braço.

— Quero que saibam o quanto me sacrifiquei para conquistar o amor dessa ingrata. — Bruno apontou a arma para mim, antes de pressionar contra o rosto de Gabriela novamente. — Eu sabia que mesmo distantes, poderiam se aproximar novamente, pois você, Vinicius, sempre procurava meios para ajudá-la. E eu pesquisei na internet meios para impedir que ficassem juntos sem cometer um crime, mas nada adiantou, até que um amigo me indicou um feiticeiro, era minha ultima alternativa antes de aceitar a ideia de um crime, e valeu a pena por um bom tempo.

...

Você tem certeza disso?

Sem dúvidas!

Certo. Então quero que saiba que quando se corta o laço entre duas almas, coisas terríveis podem acontecer, até mesmo para quem desejou!

Eu não tenho dúvidas, senhor! Pode cortar o laço entre Vinícius e Gabriela!

Tudo bem, farei. Porém, se o laço entre os dois for um laço de amor que faz a ligação entre as duas almas, mesmo que não tenham desenvolvido isso, saiba que o destino fará de tudo para refazer esse dano. Poderá demorar anos e bagunçar tudo ao redor, mas esse seu desejo talvez seja a causa que fortificará a união entre essas duas almas.

O senhor irá fazer isso ou não?

O meu papel é deixa-lo ciente. Vamos ao seu interesse meu jovem.

...

— Isso é um absurdo! - disse Gabriela. — É como se... — Neste instante, sua expressão deixou a entender como se a sua mente estivesse clareando, mas ainda num emaranhado de informações.

— Isso tudo pode soar como loucura, mas acredito em você, Bruno. — Quando falei, ele me encarou surpreso, talvez esperasse o meu ceticismo. — Eu viajei no tempo varias vezes até este momento, já passamos por isso, apesar das diferenças, mas no geral tudo está seguindo igual. — Senti um aperto, pois era uma verdade que eu precisava alterar. — O feiticeiro acertou quando disse que o destino faria de tudo, agora faz mais sentido para mim toda essa situação.

— Do que você está falando? Acha mesmo que pode me enganar e ganhar tempo? — Furioso ao pensar que eu o estava enrolando, Bruno soltou Gabriela e guardou a arma. — Não resista ao seu destino!

Enquanto Gabriela lutava para impedir que Bruno a segurasse novamente, me aproximei dos dois sem que ele percebesse ou se importasse. E mesmo que a minha visão ainda estivesse voltando ao normal, eu intervi entre os dois no instante em que ele a pegou para jogá-la contra o parapeito, no entanto, irado, Bruno me empurrou e ao me desequilibrar bati as costas na grade de proteção, mas ele não parou ao ver a oportunidade. Bruno aproveitou o meu momento de dor e me jogou para o outro lado do parapeito.

— Vinícius! — Gabriela quis me ajudar, mas foi impedida por ele ao levar um golpe no rosto.

Eu tentei me erguer, mas a ferida em meu braço direito me impedia de fazer mais força. E com a dor causada nas costas quando me choquei com o parapeito, eu provavelmente não aguentaria muito.

— Isso também aconteceu em alguma das suas viagens no tempo? — Bruno zombou de mim.

Laço Entre Almas: A chamada que nos uniuOnde histórias criam vida. Descubra agora