Capítulo 9

24 3 0
                                    

Gabriela

31 de dezembro de 2021

Seguimos para o centro de Parelheiros, onde a festa de fim ano acontecia. Havia tantas pessoas reunidas que nem parecia que estávamos numa pandemia, mas graças a Deus, acho que no fim dela. O centro era um lugar pequeno, comparado a outros, porém muito bonito: havia uma grande avenida com ruas conectadas a ela e nas pequenas calçadas, comércios de todos os tipos, desde uma loja do real a uma grande loja de diversidades; também havia muitos supermercados e açougues. Mas, ainda no centro, próximo à avenida principal, havia uma praça; bancos, mesas de concreto, gramados e um restaurante; no seio da praça localizava-se uma igreja católica de cores branca e azul. E tudo era composto por uma decoração aparentemente combinada, as cores ao redor eram agradáveis aos olhos, como se parelheiros tivesse sido finalizado a um dia. E como era a última noite do ano, estava tudo ainda mais belo.

Assim que chegamos, encontramos alguns conhecidos. Logo estávamos bebendo e dançando, porém, aos poucos parei, deixei o copo de canto e contemplei a torre do relógio. Ela ficava a pouca distância, próximo ao terminal de ônibus.

— É lindo, você não concorda, Bruno? — Olhei para os lados. — Bruno? Não acredito!

Eu caminhei entre as pessoas tentando encontrá-lo, mas não via nem mesmo aqueles que estavam conosco. Onde eles se meteram? Fiquei bem chateada, pois mesmo cercada por tantas pessoas, eu estava sozinha.

— Gabriela?

Escutei alguém me chamar. E claro, eu conhecia aquela voz; senti o meu coração bater mais forte, um frio na barriga e uma vontade de sorrir. Então virei-me para vê-lo.

— Vinícius. — Não pude esconder o quão contente fiquei, minhas mãos estavam trêmulas. — Não sabia que estaria aqui. — Me apressei em abraçá-lo.

— Acho que passei tempo demais no meu mundo — ele sorria. Ah... Aquele sorriso me fez viajar pelo passado, as lembranças de quando estudávamos pairaram em minha mente. Éramos tão bobos, mas bem maduros para a nossa idade. Como o tempo passou e eu não percebi?

— [...] ele veio?

Vinícius estava fazendo alguma pergunta, mas eu não escutei. Olhei para ele sem graça e retribuindo o sorriso, respondi:

— Ah, o Bruno veio sim. Ele está por aí com alguns conhecidos. — Desviei o olhar. Espero ter respondido certo.

— Que bom. — Foi inevitável não notar a mudança repentina em sua expressão. — Bem — Vinícius olhou de um lado para o outro —, então vou indo.

No mesmo instante, senti os meus olhos lacrimejarem. Tive medo de não o ver novamente, mesmo que algo me dizia o contrário, então...

— Não se acanhe. — O segurei pelo braço. — Logo chegaremos à casa dos 30. Estamos ficando velhos para não aproveitar a vida.

— É verdade. — Ele olhou outra vez para os lados. — Tudo bem, aonde vamos?

— Animar as coisas!

Vinícius e eu compramos algumas bebidas e deixamos a música nos envolver.

— Solta esse corpo. — Elevei o tom de voz para que ele me ouvisse melhor.

— Estou tentando, juro — ele sorriu, enquanto agitava o corpo conforme a música eletrônica. No entanto, de repente, trocaram o som. — Música lenta? — Os olhos dele me fitaram, pareciam receosos.

— Não gosta? — perguntei, percebendo uma agitação em meu corpo. Me senti como uma adolescente de novo.

— Eu gosto — Vinícius respondeu num tom suave. E eu não soube o que dizer, enquanto o silencio entre nós, respeitava o encontro dos nossos olhos. — Vamos a torre do relógio? — Ele sugeriu, rompendo a quietude.

Então foi o que fizemos. Caminhamos até a torre, entramos no elevador e chegamos ao topo. Haviam poucas pessoas, mas o clima estava agradável.

— Quem diria que estaríamos aqui, juntos na torre do relógio — Vinícius falou, enquanto contemplava a multidão lá embaixo.

— Fico feliz que tenha sido assim — disse, olhando sua fisionomia. Ele continuava atraente, mas não digo pelo físico exatamente, mas era como se uma luz brilhasse por todo o seu corpo.

Estávamos com os braços apoiados no parapeito, enquanto sentia o passado me invadir.

— Se continuar me olhando desse jeito eu vou me apaixo... — ele respirou fundo e me olhou assustado. — Desculpa. Eu... — Preciso ir!

— Não vai. Não está feliz aqui? — Soltei a pergunta sem pensar.

— Não é isso. É que... — Ele estava realmente tenso. — Foi ótimo conversar e até dançar, juro. Estar com você me fez muito bem — suspirou. — Na verdade... — Olhou para os lados. — Sempre me fez bem. — Neste momento, os olhos dele brilharam. Provavelmente, assim como eu, ele queria chorar.

— Se estar comigo te faz tão bem, porque quer ir embora? — Eu não sabia se estava agindo certo, porém eu sentia vontade de tê-lo por perto.

— Só posso dizer que foi bom, mesmo que eu tenha passado vergonha dançando — disse, sorrindo de canto.

— Se passou, com certeza não foi o pior — falei num tom descontraído, tentando quebrar o clima desagradável. — Tinha gente dançando realmente mal.

— Claro — ele sorriu e concordou com a cabeça. — É melhor eu ir, não quero criar problemas.

— Que problemas? — Fixei a atenção nele.

— O que está fazendo aqui, Gabriela? — Um tom de voz alterado ecoou. E neste instante, me esforcei para segurar as lágrimas que tentavam pular dos meus olhos.

— E ae. Tudo bem? — Vinícius estendeu a mão quando Bruno se aproximou, mas ele o encarou, respirando fundo.

— Estou bem — respondeu, apertando a mão dele. Pude sentir a tensão entre os dois.

Laço Entre Almas: A chamada que nos uniuWhere stories live. Discover now