Capítulo 18

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Vinícius

31 de dezembro de 2021 - 22h:40

— O que acha de irmos na torre do relógio? — ela propôs. E ao ouvir aquilo, senti um aperto no coração.

— Antes vamos dançar um pouco mais — sugeri, tentando evitar que aquela tragédia que estava por vir, acontecesse.

— Achei que estava com vergonha. Não? — Gabriela semicerrou os olhos.

— Na verdade, achei que você iria me ajudar a ficar mais solto — sorri. — Gabriela... — suspirei em seguida.

— O que foi? — Ela me olhou como se antes disso, já esperasse por algo.

Eu fiquei tenso, mas apesar da situação que eu desejava mudar, senti um clima familiar entre nós. Eu não sei dizer, mas pareceu que os nossos olhos, por um instante, se comunicaram outra vez.

— Isso pertence a você. — Coloquei a mão no bolso da calça e peguei aquilo que simbolizava a ligação entre nós. — Encontrei o seu relógio.

Gabriela olhou espantada para o objeto, e como se não tivesse percebido o sumiço dele até aquele momento, levantou o pulso para conferir.

— Onde você o encontrou? E quando? — Agitada, mexeu nos cabelos.

— Você acredita em viagem no tempo? — perguntei num tom baixo.

Gabriela demorou um instante para responder, só não sei se foi devido a música estar alta ou ela iria surtar como eu.

— Gabriela, está tudo bem?

— Está sim. É que eu realmente não lembro quando foi que perdi o relógio — A sua expressão era de vergonha. — Desculpa por...

— Não se desculpe, acontece. — Cheguei mais perto dela. — Então, você acredita ou não? — Antes que ela respondesse, continuei. — E se eu dissesse que de alguma forma voltei no tempo e que foi assim que consegui o relógio?

Ela ergueu as mãos até as pontas do cabelo e começou as enrolar, depois fez cara de quem estava pensando e sorriu antes de responder.

— Significa que você conhece e sabe de muito mais coisas do que eu. E que o fato de me entregar novamente esse relógio, significa alguma coisa que não estou vendo, mas que já vivemos — falou em tom de brincadeira.

As palavras dela poderiam soar como um fora para quem escutasse, mas estava claro que a causa que nos colocou nesse ciclo no tempo, prejudicou memórias especificas em cada um de nós. É como o Carlos disse: Nem o óbvio estamos vendo.

— Vinícius... — Gabriela fixou em mim. E quando abri a boca para falar, ela colocou a ponta do dedo em meus lábios. — Eu não sei explicar as situações recentes, mas a sua presença em minha vida está sendo libertadora. — Ela baixou a mão. — Eu posso sentir! E mesmo sem entender a situação eu sei... — Ela moveu os lábios um contra o outro. — A sua e a minha alma estão ligadas por algo além do tempo.

Aquelas palavras desencadearam um misto de sensações, então segurei o seu braço e com cuidado, coloquei o relógio no pulso dela. E enquanto nossos olhos contemplavam os traços do rosto um do outro, lentamente movi as mãos até a sua cintura e, sem perceber, fomos guiados pelo ritmo lento da música que havia começado instantes atrás. Logo estávamos dançando corpo a corpo, unidos pelo destino.

— Então, se quiser, podemos ir para a torre agora — sugeri, após alguns minutos.

— Seria ótimo. — Sorrimos.

O clima se tornou tão agradável que o problema anterior nem parecia ter ocorrido.

***

De tudo o que eu lembrava, as coisas estavam seguindo por um rumo diferente desta vez. No entanto, de alguma forma as ondas do tempo estavam querendo se ajustar.

Já perto da torre, escutamos alguém gritar, contudo, sabíamos a quem pertencia aquela voz.

— Sai de perto desse soldadinho inútil. Vamos embora e acabar com essa palhaçada!

— Eu não acredito que você seja tão sem noção assim, Bruno! — Gabriela se impôs diante dele.

— Gabi... — tentei falar. Eu não poderia permitir que ele causasse problemas maiores. É verdade. A torre... Meu coração acelerou no instante em que lembrei do porque eu realmente estava ali. Como eu poderia estar me envolvendo tanto, a ponto de esquecer que não deveríamos subir naquele local?

— Está fingido que não me ouve? — Quando percebi, Bruno estava alterado, gritando. — "Gabi?" Que intimidade é esta que adquiriu em tão pouco tempo com a minha mulher?

— Eu nunca fui sua mulher! — Gabriela falou convicta. — E nunca serei! — Ela deu alguns passos à frente.

Bruno engoliu em seco. Porém, os seus olhos transmitiram a ira de sua alma.

— Você não desiste, canalha? — Sarah se aproximou rapidamente.

— Achei que iria ficar dançando com o seu amigo por mais tempo — Bruno debochou. — Eu vou embora. E pode ficar em paz, Gabriela, seu destino não foi escrito por mim...

— Só eu tive a sensação de que ele não completou a fala? — Olhei para as duas ao meu lado.

— Não quero nem pensar nisso — Sarah bufou, enquanto via Bruno se afastar. — Você está bem? — Ela virou e abraçou a irmã.

— Estou — Gabriela respondeu, mas eu percebi que não havia sido sincera.

O clima foi atrapalhado outra vez, porém havia sido melhor assim. Não poderíamos subir naquela torre de modo algum.

Então, depois de alguns minutos, nós três resolvemos ir embora. As duas decidiram ver os fogos de artifício com a família e eu menti, dizendo que iria para a casa de uns amigos; sem dúvida Gabriela sabia que não era verdade, mas me poupou da vergonha.

— Anota o número da minha irmã para vocês manter contato — Sarah tomou a iniciativa por nós.

— É uma ótima ideia. — Apesar de eu ter o número dela, aceitei novamente, pois seria complicado explicar.

Após isso, nos despedimos e cada um seguiu o seu caminho. Contudo, independentemente do que houve, estar em casa no primeiro dia do ano seria bom, apesar da solidão eu ficaria aliviado por nada de pior ter acontecido. Consegui evitar que a tragédia na torre do relógio se realizasse outra vez e isso era o bastante.

— Bem, o mérito não é todo meu, mas o importante é que estamos vivos e livres daquele ciclo — disse a mim mesmo, enquanto caminhava de volta à minha rotina.

Laço Entre Almas: A chamada que nos uniuWo Geschichten leben. Entdecke jetzt