06.

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"Eu posso ter dores mas estou perfeitamente capaz de conduzir." Disse quando já nos encontravamos no seu range rover.

"Porque é que noventa por cento do tempo que te encontro estás numa situação de perigo iminente? Tens algum desejo suicida?" Perguntou ele enquanto mantinha os seus olhos na estrada.

"Como deves imaginar, não caí prepositadamente em cima do meu pé. Acidentes acontecem sabias?"

"E vir trabalhar neste estado, achas profissional?"

"Não queria ser a pessoa que falta na primeira semana por causa de um pequeno incómodo."

"Tu tens uma rutura de ligamentos e decides chamar-lhe pequeno incómodo? Eu cada vez mais questiono a minha escolha em dar-te este cargo."

"Porque é que te importas sequer?" Já o queria interrogar sobre isto, só não tinha reunido confiança suficiente.

"És minha interna e caso ainda não tenhas reparado estás sob a minha responsabilidade. Que interesse teria eu em que passes os turnos incapaz de executar as tuas tarefas por causa das dores que tens?" Por momentos acreditei que ele realmente se importasse com o meu bem estar, mas essa expectativa foi rapidamente varrida da minha mente.

O resto do caminho foi feito em silêncio sem ser por mim a indicar-lhe o caminho para o meu apartamento. Não me senti nem um pouco constragida pela falta de diálogo, na verdade era tranquilizador não ter que forçar conversa com alguém.

A minha bateria social já era reduzida por natureza, então qualquer oportunidade que tinha para ficar calada era uma benção.

Quando finalmente chegámos, ele fez questão de me abrir a porta e se não soubesse melhor iria confundi-lo como um homem educado e com maneiras.

"Obrigada." Disse por fim.

"Eu vou te levar ao teu apartamento." Olhei para ele incrédula com a certeza com que ele proferiu aquelas palavras como se fosse a coisa mais banal de sempre.

"Não, não vais."

"Sophia, não vou deixar que te esforces a subir escadas."

"Então vais fazer o quê? Levar-me ao colo?" Perguntei ironicamente, mas arrependi-me no segundo a seguir porque ele me lançou um olhar que dizia que era bem capaz de o fazer.

"Se tiver que ser."

"Podes parar de agir como um doutor, eu estou bem vês?" Disse dando dois passos em frente e foi o que bastou para ser atingida por uma dor horrível.

Ele não disse nada, simplesmente pegou-me pelas pernas e automaticamente envolvi os meus braços no seu pescoço. A fragância que emanava dele foi o suficiente para me fazer esquecer da dor que sentia.

"Qual é o andar?"

"Terceiro direito." Respondi tentando manter a minha voz sob controlo. Não era fácil estar na sua presença, muito menos tão perto a ponto de fazer o meu coração disparar de forma errática.

Dei-lhe as chaves de casa e num rápido movimento ele abriu a porta e acendeu as luzes.

"Ok, podes-me pôr no chão agora." Precisava de distância dele o mais breve possível.

Cirurgião CollinsOnde as histórias ganham vida. Descobre agora