03.

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"Logan." Atrevi-me a tratá-lo pelo primeiro nome e esperava uma reprimenda, mas em vez disso ele lançou-me um sorriso adverso e sinceramente não sabia interpretar se isso era um bom ou mau sinal.

"O que é que uma pessoa como tu faz neste bar?" Perguntei, antes que ele pudesse dizer alguma coisa.

"Uma pessoa como eu..." Repetiu ele as palavras e não foi até a esse momento que reparei na roupa casual que ele vestia.

Era estranho vê-lo neste registo tão descontraído, quase como se ele fosse uma pessoa completamente diferente fora do hospital.

"Pensei que um cirurgião da tua categoria frequentasse bares com reviews mais altas no Google."

"Pensei que tu não frequentasses bares de todo." Respondeu ele e eu só consegui franzir a testa com a admissão.

"O que queres dizer com isso?"

"Tu pareces o tipo de mulher que depois de um longo turno vai para casa dormir ou ler um livro." Não sabia se devia ficar ofendida ou surpreendida com o quão acertado ele estava.

"E essa conclusão foi baseada no quê? No facto de hoje de manhã estar a ler um livro na cafeteria?"

"Claro, logo a seguir a teres afirmado que eu era capaz de despedir alguém se espirrasse." Senti as minhas bochechas a aquecerem e se não soubesse melhor diria que eu estava completamente corada da cabeça aos pés.

"Não esperes que te peça desculpa, continuo a achar que serias mesmo capaz disso." Eu tinha a certeza que era o álcool no meu sangue a falar por mim.

"Quantos copos já bebeste?" Perguntou ele ignorando o que havia dito.

"Eu não estou bebada."

"Não foi isso que te perguntei." Atirou ele com um tom ácido e eu já não estava a gostar do rumo que esta conversa estava a tomar.

"Eu sei que és meu supervisor, mas isso não te dá o direito de me controlar fora do horário de trabalho."

"Se isso afetar o teu desempenho do teu turno, então sim." Revirei os olhos e antes que pudesse responder ele cortou-me.

"Se amanhã tu e os teus colegas aparecerem no hospital de ressaca podem já começar a procurar outro estágio. Eu não vou perder tempo com crianças que não se sabem controlar."

"Eu já disse que estou bem por isso podes parar com essa atitude-" Antes que pudesse terminar a frase, ele pegou-me pelo pulso e aproximou-se da minha face quase o suficiente para conseguir contar o número de pestanas que ele possuía.

"Atenção ao teu tom Sophia, não estás a falar com os teus colegas." O seu hálito a whiskey invadiu as minhas narinas e não consegui evitar um arrepio.

Custava-me admitir, mas em vez de sentir repugnância, aquele simples ato despertou algo em mim. Recusava-me a acreditar que uma ameaça me tinha excitado daquela forma.

O ar entre nós era palpável e eu podia sentir a sua pesada respiração, confirmando que eu não era a única que estava a sentir.

Em questão de segundos ele largou-me o pulso, como se finamente tivesse recuperado os sentidos e virou-se, voltando para o grupo de amigos onde se encontrava anteriormente.

Eu ainda estava a tentar processar o que se tinha passado e de repente fiquei hiper consciente do sítio onde me encontrava e dos olhos que poderiam ter visto o que acabara de acontecer, interpretando de forma errada. Não estava mesmo disposta a lidar com isso agora.

Para meu grande alívio ninguém deu pela minha longa ausência e eu simplesmente voltei para a pista, esvaziando a minha mente dos últimos dez minutos.

Cirurgião CollinsOnde as histórias ganham vida. Descobre agora