Cirurgião Collins

13.

Infelizmente como tudo o que é bom acaba rápido, os meus pais voltaram para o Canadá na manhã de segunda feira.

Odiava despedidas, ainda para mais sabendo que provavelmente não os ia ver até ao natal.

Estava um dia de chuva e eu andava tão distraída enquanto chegava ao hospital que nem reparei num pequeno desnível do piso até escorregar e cair precisamente em cima do tornozelo que tinha ferido há um mês atrás.

A dor que me atingiu era atroz, mas ainda assim levantei-me e após uns minutos recompus-me e entrei no hospital.

"O que te aconteceu?" Perguntou a Rachel assim que entrei nos vestuários completamente encharcada.

"Escorreguei à porta do hospital, mas está tudo bem."

"Tens a certeza? Se calhar é melhor pedires a algum doutor para te observar."

"Eu estou bem, não é necessário." Respondi mais secamente do que tencionava, mas ela não pareceu se importar muito.

Hoje pela primeira vez, ia finalmente participar numa operação. O entusiasmo era tanto que me consegui abstrair da dor que me incomodava.

Do nosso grupo de cinco, apenas a Rachel e Joshua puderam estar presentes e ajudar numa intervenção cirúrgica do início ao fim.
Eu sabia que cada um de nós seria escolhido a seu tempo, mas ultimamente andava tão impaciente que já duvidava que a minha vez fosse chegar.

Hoje iríamos operar uma mulher de meia idade com uma hérnia discal na zona lombar. Era sem dúvida um procedimento delicado que envolvia muitos riscos, mas depois de tanto observar e reter informação, sentia-me mais que pronta.

O único ponto negativo deste dia é que iria passar demasiado tempo fechada numa sala na presença dele, mas neste momento tinha outras preocupações em mente.

A preparação pré cirurgia era capaz de ser dos meus momentos favoritos, a adrenalina e os nervos que que corriam pelo meu sangue era imensurável.

"É normal estares nervosa, mas não deixes que isso te afete." Disse o doutor atrás de mim e eu apenas assenti.

Depois da bata, luvas e máscara postas, finalmente entrámos na sala onde já se encontrava o médico anestesista mais duas enfermeiras que estariam a prestar auxílio.

A senhora encontrava-se virada de barriga para baixo com um pano por cima e com um corte quadrangular na região onde seria feita a incisão.

A anestesia já estava em andamento e no minuto a seguir ele ordenou-me para que procedesse a um corte horizontal na lombar com um bisturi.

Era incapaz de esconder o meu agrado com o corte limpo que acabara de fazer.

Em seguida, posicionámos um alargador na zona aberta que nos permitiu um melhor acesso.

Com muito cuidado e precisão, extraí o primeiro disco vertebral e em seguida, ele retirou o segundo disco afetado.

Após a remoção, prosseguímos para a recolocação de um material artificial que iria agir como substituto dos discos retirados.

Ao todo este procedimento levou duas horas e quando chegámos ao fim não consegui evitar de soltar um suspiro de alívio pelo quão bem tinha corrido toda a intervenção.

"Estiveste muito bem" Disse ele quase num sussurro, enquanto saíamos da sala para a zona de lavagem.

"Obrigada." Respondi o mais profissional possível, porque de agora em diante era apenas isso a que a nossa relação se reduzia.