25.

65 5 0
                                    

"Explica-me como é que é lidar com o meu irmão todos os dias." Disse a Rachel assim que saímos daquela sala.

"Já foi pior."

"Se ele for tão insuportável como é habitual, as minhas condolências." Não pude evitar de soltar uma gargalhada.

"Também trabalhas no ramo da medicina?" Perguntei finalmente.

"Deus me livre, devo ser o único membro desta família que optou por outro caminho. Sou contabilista."

"Admiro a tua força, não deve ser fácil."

"Há meses mais complicados que outros, mas acredito que a vossa profissão não seja menos pesada."

"Ainda me estou a adaptar ao ritmo."

"Suponho que a tua relação com o meu irmão não seja do conhecimento do hospital."

"Não é suposto estagiários estarem envolvidos com supervisores e caso aconteça deve haver uma mudança de departamento, por isso estamos a manter as coisas em privado." Estava admirada com o quão fluente conseguia ser enquanto alimentava esta farsa.

"Sinceramente nunca pensei que o meu irmão nos fosse apresentar alguém, ele sempre preferiu relações sem compromisso. És sem dúvida um caso especial." Sorri com o que ela dissera, mas interiormente tinha bem presente que isto não passava de uma ilusão que depois deste fim de semana iria acabar.

Ela levou-me a dar uma volta por toda a pousada e no fim da tarde fomos esquiar pela montanha. Estava realmente orgulhosa com a facilidade que tive em aprender algo que nunca tinha experimentado.

"És uma esquiadora nata, nem eu apanhei o jeito tão rapidamente quando estava a aprender." Disse a Rachel quando entrámos no balneário central para mudar de roupa.

"Podia fazer disto um hábito, esquiar é capaz de ser a atividade mais relaxante que já tive nos últimos dois anos."

"Devíamos combinar vir cá as duas pelo menos umas três vezes por mês." Ela estava tão entusiasmada com a ideia que não fui capaz de discordar, ainda que soubesse que esta era a última vez que nos iríamos ver.

Depois de uma hora dirigi-me à suite para tomar um banho e vestir algo mais descontraído, porque sinceramente não estava com vontade de me aprontar demasiado para um jantar de família.

Quando entrei reparei que ele não estava e suspirei de alívio, porque isso significava que podia tomar banho à vontade sem temer que ele me pudesse encontrar com menos roupa que o aceitável.

Era engraçado pensar que já me expus de uma forma mais íntima, mas o facto de pensar em ter que me despir à sua frente era assustador. Porque é que estava sequer a cogitar a possibilidade de estar nua à sua frente?

Até a banheira era demasiado requintada para o meu nível de vida, mas se estava aqui como forma de lhe retribuir, mais valia aproveitar ao máximo.

Quando terminei, enrolei-me numa toalha e fui para o quarto.

"Cantas lindamente." Disse o Logan, que se encontrava deitado na cama e sem tirar os olhos do telemóvel enquanto digitava algo.

"Primeiro, é rude estares aqui a ouvir-me a cantar no banho, segundo, preciso que saias do quarto para me vestir." Disse abrindo a minha mala, procurando umas calças e uma sweat quentinha.

"Posso fechar os olhos." Sugeriu ele, finalmente olhando para mim.

"Não confio em ti, sai." Respondi seriamente.

"Tecnicamente sou dono desta suite, não me podes expulsar."

"Logan." Atirei tentando soar o mais ameaçadora  possível. Ele apenas sorriu, pegou numa toalha e entrou na casa de banho para provavemente tomar um duche.

Depois de vestida, peguei na minha bolsa de maquilhagem e hoje ia optar por algo leve e o mais discreto possível. Sinceramente não era uma pessoa muito elaborada no que toca a maquilhagem e na maioria das vezes só aplicava rímel e um batom nude.

Dez minutos depois a porta da casa de banho abriu e de lá saiu o Logan com uma toalha enrolada á volta da sua cintura e acho que por dois segundos esqueci-me de como se respirava. Continuei a ignorar a sua presença, enquanto me maquilhava, como se não estivesse minimamente afetada pelo seu peito e abdominal tonificado com gotas de água a escorrer.

Como o espelho do quarto estava alinhado com a sua figura atrás de mim, aproveitei mais uma vez para olhar para ele que se encontrava a escolher uma roupa para vestir, mas quando o fiz, o seu olhar fixou-me. "Estás a gostar da vista?"

"Já vi melhor para te ser sincera." Dois podiam jogar este jogo e eu não tencionava alimentar mais o seu ego inflacionado.

"Já?" Perguntou ele num tom tão perigoso como os passos que deu na minha direção.

"Porque é que tenho a sensação que te sentes a última bolacha do pacote? Não és tão inesquecível como pensas." Disse firmemente, fingido que ele não estava a milímetros das minhas costas.

Senti a sua mão direita a deslizar pelo meu ombro, percorrendo o meu braço e apesar do quão grossa era a sweat de malha podia sentir aquele toque como se estivesse diretamente em contacto com a minha pele.

"Como é que sabes se sou ou não inesquecível se nunca te mostrei verdadeiramente o que tenciono fazer contigo?" Sussurrou ele no meu ouvido e estremeci em resposta.

"Sempre ouvi dizer que quem muito promete, nada faz." Estava a tentar ao máximo manter o meu tom de voz equilibrado, mas era complicado raciocinar sequer.

"Queres testar essa teoria?" Desta vez a sua mão desceu ainda mais, puxando-me pela cintura contra o seu peito nu e era impossível fingir que não sentia a dureza que se havia formado contra as minhas nádegas.

"Logan, pára." Finalmente ganhei consciência e afastei-me dele.

"Nós não podemos continuar a fazer isto, já tivemos esta conversa e eu não vou voltar a repetir. Aquilo que te disse no carro há dias atrás mantém-se, eu acho que nos devíamos controlar, não quero arriscar mais." Continuei, virando-me e encarando-o.

"Tens razão, desculpa." Podia sentir a desilusão na sua voz, mas sinceramente não me importava minimamente. Eu estava aqui apenas porque ele me tinha ajudado com toda a situação da minha mãe, mas não pretendia transformar a estadia nesta pousada num fim de semana romântico com o meu supervisor.

O clima entre nós tinha mudado porque até descermos ele não me tinha voltado a dirigir a palavra e mesmo durante o jantar, não olhou uma única vez para mim. Estaria a mentir se dissesse que tudo aquilo não me incomodava, por isso decidi mandar-lhe uma mensagem e aproveitar que a conversa à mesa estava interessante o suficiente para ninguém reparar.

(20:47) Eu: Se o teu objetivo é fingir que namoramos, estás a fazer um trabalho excelente.

(20:48) Logan: Os meus pais já estão convencidos o suficente e se lhes vou dizer daqui a uns dias que terminei a relação, é mais fácil estarmos distantes para ter um pretexto para o fazer.

Aquela resposta foi literalmente tudo o que precisei para eu deixar de me importar com toda a narrativa que tinhamos construído e passar o resto da noite numa conversa com a irmã dele. Se havia algo verdadeiro no meio disto tudo, era sem dúvida o quanto eu gostava dela e só a tinha conhecido há pouco mais que cinco horas.

Cirurgião CollinsWhere stories live. Discover now