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No dia seguinte, não me conseguia concentrar no trabalho com a ansiedade que corria por todo o meu ser.

Acho que até ver a minha mãe com os meus próprios olhos não ia conseguir ficar descansada.

"Eu sei que estás nervosa, mas a tua mãe está em boas mãos." Disse o Mike que já me encarava há alguns minutos.

"Eu sei que sim, mas eu preciso de a ver para me assegurar que ela vai ficar bem."

Apenas o Mike e a Morgana sabiam da condição em que a minha mãe se encontrava, na verdade nem tencionava contar a ninguém mas eles foram as únicas pessoas a reparar no meu estado de nervosismo durante o dia de hoje e não consegui evitar de contar.

"Dentro de duas horas já poderás estar com ela." Assenti e entrei num quarto de uma paciente de dezasseis anos que se queixava de uma forte dor na coxa direita há uma semana.

Neste momento qualquer distração era uma dádiva, por isso foquei-me no trabalho que tinha em mãos pelo resto da tarde.

Eram dezanove horas quando o Logan apareceu na ala das urgências e assim que o vi, não me consegui conter e fui logo ter com ele.

"A operação correu bem, conseguimos remover o tumor e neste momento a tua mãe está sedada, mas dentro de algumas horas já estará acordada." Disse ele antes que eu pudesse fazer perguntas.

"Obrigada, eu nem sei como te agradecer mais." Uma lágrima rolou pela minha bochecha e ele apenas meteu a sua mão por cima do meu ombro como forma de consolo.

"No fim do teu turno podes ir vê-la." Agradeci mais uma vez e sentia que podia voltar a respirar novamente.

"Como é que ela está?" Perguntei assim que entrei no quarto onde estava a minha mãe no fim da noite.

"Acordou há dez minutos mas voltou a dormir, precisa de tempo para recuperar." Respondeu o meu pai, sentado numa poltrona que se situava ao lado da cama da minha mãe.

"E tu como estás?" Não podia deixar de reparar nas olheiras que ele possuía, o que me dizia que ele não andava a dormir absolutamente nada.

"Não é comigo que te tens que preocupar."

"Não tens que te fazer de forte comigo, pai."

"O foco agora é a tua mãe, assim que ela estiver em casa posso descansar."

"Ou podes ir para minha casa e dormir uma noite inteira, enquanto eu fico cá com a mãe."

"Tu também precisas de descansar, não te preocupes comigo."

"Amanhã estou de folga, tenho muito tempo para dormir. Toma as minhas chaves e vai para casa por favor, se não quiseres fazer isto por ti faz pela mãe, que tenho a certeza que se ia passar se te visse neste estado." Depois de muita luta, ele finalmente cedeu e aceitou as minhas chaves.

Eram quase uma da manhã e ela ainda não tinha voltado a acordar e eu sabia que era completamente normal depois de uma cirurgia tão delicada como esta, mas não conseguia evitar de estar inquieta.

"Ainda cá estás?" Perguntou aquela voz que era incapaz de tirar da minha cabeça.

"Quando conseguir falar com ela vou para casa." Respondi sem tirar os meus olhos da cama.

"Ela está estável, pode demorar algum tempo até voltar a despertar."

"Se fosse a tua mãe, eras capaz de ir para casa?" Perguntei finalmente encarando-o.

"Não, mas eu sou uma pessoa extremamente teimosa."

"E o que te faz pensar que eu não sou igualmente teimosa?" Ele soltou uma gargalhada abafada e caminhou até mim.

"Eu sei perfeitamente que és tão ou mais teimosa que eu, por isso é que te estou a tentar persuadir." Desta vez foi a minha vez de me rir daquela admissão.

"Então sabes que não vale a pena tentares."

"Eu não queria trazer já este assunto ao de cima, ainda para mais depois de te ter dito que eu não exigia um pagamento da tua parte."

"Eu já te disse que vou pagar, manda me a fatura por mail." Respondi simplesmente.

"Não quero que me pagues, Sophia. O que te quero pedir é outra forma de pagamento, se não te importares claro." Sinceramente tinha medo só de pensar noutra forma de pagamento.

"O que precisas?"

"Todos os anos a minha irmã organiza uma viagem de família para uma pousada de esqui no Alaska, quero que venhas comigo este ano." De tudo o que estava à espera que ele dissesse, esta era a última.

"É uma viagem de família que sentido faria eu ir e porque é que queres que vá sequer?" Estava tão confusa com este pedido.

"Já me andam a chatear por nunca trazer uma acompanhante e estou farto de ser bombardeado com perguntas de quando é que vou apresentar alguém à família."

"E como é que achas boa ideia levar-me a mim? Nós nem sequer estamos numa relação, Logan."

"Eu sei, por isso é que preciso que finjas ser minha namorada por um fim de semana. Garanto-te que esta será a última vez que precisas de ver a minha família."

"Como é que esperas apresentar-me como tua namorada e depois não queres que eles exijam ver-me mais vezes?" Cada vez mais sentia que ele não tinha visualizado bem este plano.

"Eu trato disso não te preocupes."

"Não sei se estou muito confortável com a ideia de conhecer a tua família e mentir na cara de cada um deles."

"Na verdade não precisas de ser tu a mentir, deixa a conversa comigo."

"Tu não estás mesmo a sugerir que eu passe um fim de semana inteiro calada e deixe que fales por mim."

"Claro que podes falar, mas no que toca esta relação podes deixar comigo."

"Como é que tencionas sequer largar tudo, ir para o Alaska e levar-me atrás?"

"Daqui a duas semanas o meu departamento tem direito ao fim de semana de folga, por isso todos os internos do meu grupo estarão em casa nessa altura, ninguém iria suspeitar."

"Há quanto tempo andas a pensar nisto mesmo?" Eu tinha a certeza absoluta que ele não tinha decidido isto da noite para o dia.

"Há algum tempo, só não sabia como te dizer sinceramente."

"Isto é a pior ideia que já tiveste, espero que tenhas noção."

"Estou consciente e estou disposto a lidar com os riscos."

"Tudo bem eu faço isto, mas ainda assim vou pagar por esta operação."

"Sophia..."

"Eu não vou pagar a minha dívida com um simples fim de semana."

"Eu não preciso do dinheiro."

"E eu não preciso da tua caridade."

Cirurgião CollinsOnde as histórias ganham vida. Descobre agora