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"Sai daqui antes que faça algo que me arrependa." Disse ele perto demais dos meus lábios.

A tentação era enorme, mas consegui arranjar forças para sair do seu escritório e assim que fechei a porta atrás de mim, soltei um suspiro que estava contido há demasiado tempo.

Naquela noite não consegui dormir por mais que tentasse e só o tinha a culpar por isso. Eu era uma pessoa com tanto controlo sobre as minhas emoções e tudo isto estava a mexer com o meu psicológico.

Odiava estar refém de alguém e de momento era exatamente isso que sentia. Por mais que tentasse lutar, eu sabia perfeitamente que bastava um toque para me render.

Ele era tudo aquilo que eu desprezava num homem e depois da minha última e única relação, eu tinha-me prometido a mim mesma que não ia voltar a esta posição de vulnerabilidade.

Os dias que se seguiram foram agitados o suficiente para me tirar a cabeça de tudo aquilo que me incomodava.

Estava num quarto do piso quatro a auscultar uma paciente que se queixava de fortes dores no peito cada vez que respirava e uma severa irritação na garganta.

Bastaram poucos segundos para concluir que se tratava de uma situação de bronquite pulmonar aguda e após a aprovação da médica supervisora receitei um anti-inflamatório.

Honestamente conseguia me imaginar como médica de clínica geral mas cirurgia era sem dúvida o meu sonho.

O estágio incluía um pouco de cada vertente da medicina e para minha grande infelicidade não podia dedicar o meu tempo inteiro a estar numa sala de operações.

Eram dezoito da tarde quando a Rachel veio ter comigo com um sorriso de orelha a orelha e eu nem conseguia imaginar o porquê.

"Tens uma surpresa na receção do hospital."

"O que quer que seja não vai melhorar o meu humor de hoje."

"Acredita que vai!" No segundo a seguir ela estava-me a empurrar para a receção e assim que lá cheguei nem conseguia acreditar no que os meus olhos estavam a ver.

Sem pensar duas vezes, corri para os braços dos meus pais que estavam com um sorriso tão ou maior que o meu.

"O que estão aqui a fazer? Deviam estar a festejar o vosso aniversário." Disse confusa mas de coração cheio pela presença de ambos.

"Como não podias vir decidimos vir festejar aqui contigo." Eu realmente tinha os melhores pais deste mundo e ninguém me podia dizer o contrário.

Viver a quase quatro mil quilómetros de distância dos meus pais era sem dúvida doloroso, principalmente nos dias em que só queria chegar a casa e ter alguém à minha espera.

Sou originária do Canadá, mais concretamente da cidade de Toronto e ter me mudado para Seattle desde que entrei para a faculdade foi um grande desafio nos primeiros tempos, mas agora já estava mais habituada a viver por mim mesma.

A independência e a liberdade que me trouxe era algo impagável, mas claro que não era imune ás saudades.

Já não estava com os meus pais há mais de cinco meses e não pude evitar de derramar umas lágrimas com toda a situação.

"Estás cada vez mais linda." Dizia a minha mãe envolvendo-me mais uma vez nos seus braços.

"Eu pergunto-me se não há por aí um homem na tua vida." Disse o meu pai no momento a seguir e eu só consegui franzir a testa.

"Quando houver prometo que vão ser os primeiros a saber."

"Eu espero que não andes só a viver para o trabalho, Sophia." A minha mãe sempre insistiu para eu sair e conviver mais, mas ela também sabia a filha que tinha e conhecendo-me como me conhece não podia esperar outra coisa de mim se não uma vida monótona.

Uma vez ela até chegou a reclamar de eu nunca ter arranjado problemas como uma adolescente normal. Era irónico o quanto pais de filhos rebeldes ansiavam para que eles acalmassem e depois existia a minha mãe que provavelmente sonhava em ver-me a cometer uma atrocidade.

"Sabes bem que com este trabalho é impossível ter vida social." Respondi e ela apenas soltou um suspiro.

"Quem é aquele homem que está a olhar para nós há cinco minutos?" Perguntou ela, desviando a minha atenção da conversa que mantínhamos.

Quando olhei para o outro lado da receção, dei de caras com aquela figura alta e dominante. Tinha-se passado quase uma semana desde a nossa última conversa e precisamente quando os meus pais me vieram visitar, ele tinha que lá estar para arruinar o momento.

"O meu chefe de departamento." Respondi sem entusiasmo.

"Provavelmente devíamos ir cumprimentá-lo." Disse o meu pai e eu dava tudo para me esconder neste momento.

"Não é necessário, ele deve estar atarefado."

"Seria rude da nossa parte, Sophia." Eu sabia que era inútil lutar contra as vontades dos meus pais, mas eu faria de tudo para evitar este momento embaraçoso.

Quando finalmente eu tinha desviado a conversa para outro tema, notei pelo canto do meu olho que ele estava a vir na nossa direção e eu só pedia a todos os santos que ele não estivesse prestes a fazer o que eu estava a pensar.

"Boa tarde!" Quem ouvisse aquela voz era capaz de o confundir com alguém com coração.

"Estávamos precisamente a falar de si!" Claro que a minha mãe não era capaz de agir naturalmente.

"Deduzo que sejam os pais da Sophia." Eu não conseguia sequer encara-lo e em vez disso foquei-me no chão que neste momento parecia muito mais interessante que a pessoa à minha frente.

"Sim, é um prazer doutor!" Desta vez foi o meu pai a intervir, estendendo a mão no segundo a seguir.

"Logan Collins, o prazer é todo meu." Finalmente olhei para ele e a minha vontade era soca-lo pelo sorriso que ele teve a audácia de esboçar, quase como se me estivesse a desafiar.

Odiava o facto de ele estar aqui a confraternizar com os meus pais, como se não tivesse sido o motivo pelo qual não pude ir de fim de semana para casa.

"Como é que a nossa menina se tem portado?" Eu adorava a minha mãe, mas neste momento dava tudo para ela se calar.

"Eu não sou uma criança e isto não é uma escola, mãe." Disse afiadamente.

"Podia se portar melhor, mas não tenho grandes motivos de queixa." Respondeu ele como se eu nem sequer estivesse presente.

Os meus pais soltaram uma gargalhada e eu sinceramente já estava cansada disto "Bem, acho que é melhor irem andando, devem estar cansados desta viagem. Levem a minha chave de casa e mais logo escolhemos um restaurante para jantar."

Para meu grande agrado eles concordaram mas não deixaram de se despedir do doutor como se ele fosse a pessoa mais adorável que já tinham conhecido.

"Eu não sei qual foi o teu objetivo com isto, mas nunca mais voltes a falar com os meus pais." Atirei sem me importar se estava a falar alto demais.

"Tu conheceste o meu tio, acho que foi justo."

"Eu nem sabia que ele era teu tio e a sério que foi por isso que vieste cumprimentar os meus pais? Para me castigar? Estou farta das merdas dos teus jogos."

Eu nem sequer esperei para ouvir a sua resposta, simplesmente virei-me e voltei para o meu posto.

Cirurgião CollinsOnde as histórias ganham vida. Descobre agora