Capítulo 5

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Lobo

Por todos os demônios, aquilo só podia ser uma brincadeira
de péssimo gosto, ou eu definitivamente ofendi alguma divindade no
tempo vago. Não tinha cabimento. Um misto de raiva e choque me
tomou ao colocar meus olhos naquela...
- Ladrazinha descarada! - Apontei o dedo para ela que
mordeu o lábio e correu em direção ao pai, escondendo-se atrás
dele como a sem vergonha que era. O homem que estava à minha
lateral rapidamente ficou em alerta.
Estreitei os olhos em direção a ela que me encarava através
do vão entre o braço dobrado do pai. Levei a mão até o bolso e
fiquei ainda mais puto quando me dei conta de que estava
conferindo se a chave da minha moto ainda estava lá.
- Já se conhecem? - Raymond ergueu as sobrancelhas e
questionou em um tom preocupado.
- Talvez eu já o tenha visto em algum lugar - a safada
respondeu.
- Antes ou depois de roubar minha moto?
- A moto era dele, Anastácia ? - Raymond gritou alto e arregalou
os olhos, fazendo-a dar um salto de susto. Lá se foi sua calma
forçada. O homem levou ambas as mãos à cabeça e sacudiu o
rosto, descrente. - Vou enlouquecer! Sim, já estou LOUCO.
- Como é que eu ia imaginar que você contrataria logo o
dono da moto? Ah, e a propósito, ela é um grande exemplar. -
Lançou-me um sorriso petulante que fez com que o próprio fogo do
inferno descesse por minha garganta.
- Anastácia !
- Sua... sua... - Dei um passo na direção daquela...
coisinha pequena e soltei o ar, exasperado, trincando ainda mais o

maxilar na tentativa de conter a vontade de correr até ela e agarrar
aquele pescoço fino com as mãos.
Pelo amor de Deus, qual foi o meu pecado contra o universo?
- Papai, só temos uma opção agora - ela disse, ainda
usando o pai de escudo para se manter distante de mim, fazendo o
homem rodar no meio da casa. - Mandá-lo embora. O mais rápido
possível. - Ela encarou minhas mãos fechadas em punho e
arregalou um pouco mais os olhos excepcionalmente verdes.
Verdes como a pequena cobra que era. - Ele vai me matar assim
que tiver a chance. Se o senhor me ama, tire-o daqui antes que ele
tenha a chance.
- Agora me chama de senhor, né? - Ele se virou para a
filha.
- Nenhuma ação será necessária. - Rosnei, tentando a todo custo manter minha postura. - Vou me retirar imediatamente
da missão. Já que há conflitos de interesse. - Comprimi os lábios.
- Vou sair dessa merda de lugar antes que ela consiga roubar
qualquer outro item meu. - Dei as costas e comecei a caminhar
para bem longe daquela mulher maluca.
- Lobo! - O pai da desvairada veio correndo atrás de mim e
me alcançou quando eu já estava me aproximando de onde tinha
estacionado minha moto. - Lobo, espere, por favor.
- Enviarei outra equipe. Não trabalharei com sua filha,
Raymond , nem por um decreto. Mas não se preocupe, haverá uma fila
esperando para trabalhar com a família Stelle - avisei e vi o
homem endireitar a postura imediatamente.
Ele apoiou os punhos na cintura e respirou fundo. Imaginei
que seria ali que ele começaria a negociar a missão, afinal, Stelle
não era qualquer um.
Quando ouvi o sobrenome na noite anterior, sabia que o
conhecia de algum lugar. A multinacional Hill e Stelle era conhecida
em todo o país. Um conglomerado gigantesco e administrado por
um homem que, diante da sociedade, é um exemplo e hábil
negociador. Seria natural que ele negociasse, e ainda mais
previsível que eu negasse. Mas diferente do que esperei, Stelle

estava disposto a ir além para proteger a ratinha que ele chamava
de filha.
- Por favor, Lobo, me escute. - Ele se aproximou, ficando a
centímetros de mim. A casa de paredes muito brancas reluzia
gigantesca atrás dele. - Aqui, diante de você, não está o
presidente da Hill e Stelle . Está um pai desesperado. - Ele abriu
um botão da camisa social. - Sei que minha filha é difícil de lidar.
Impulsiva, irresponsável, rebelde... - Respirou fundo e encarou as
colinas distantes. - Mas acredite em mim, ela é uma boa garota.
Anastácia é tudo que eu tenho e já não sei o que fazer para mantê-la
em segurança. Meu último recurso é o melhor dos melhores. É
você, Lobo. Por isso gastei meu único trunfo com a Security. Porque
ela é tudo que me resta. Por favor, não abandone a missão.
Abandonar uma missão...
Passei a mão pela barba muito baixa. Nunca abandonei uma
missão antes. Por mais difícil, por mais impossível que pudesse
parecer. E agora...
Olhei para trás de Stelle e vi uma mexa de cabelos muito
loiros pender para fora da luxuosa porta de madeira da entrada da
casa. A pequena meliante estava escondida, observando tudo.
- Tenho a sensação de que sua filha é muito mais que
apenas impulsiva. - Ele meneou um aceno.
- E pode estar certo - confirmou. - Ela é extremamente
inteligente, criativa e mordaz, o que dificulta e muito as coisas.
Ainda assim, peço que nos dê a chance de trabalhar com sua
equipe. - Stelle insistiu e perguntas começaram a invadir minha
mente.
Detestava quando aquilo acontecia. Era mais forte do que eu.
Mais forte do que negar uma missão era descobrir o porquê meu
trabalho se fez necessário. E eu começava a me perguntar, por que
diabos aquela garota dava tanto trabalho? Onde ela aprendeu
aquela maldita mão leve? E pior... Por que sua vida estava em
perigo?
Perguntas perigosas... que me induziam a aceitar o cargo
pelo simples fato de querer saber e principalmente, de não
decepcionar meu pai.

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