CAPÍTULO 30

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Alguns dias depois...

Anastácia Stelle

O pôr do sol cobria as colinas de um laranja quente e muito
intenso. Os tons de verde se misturavam entre as copas das árvores
e me causavam uma sensação de liberdade que nunca tinha sentido
na vida.
— Está certa de que essa é a melhor decisão que vai tomar,
filha? — Meu pai entrelaçou o braço ao meu, perdido na paisagem à
nossa frente.
Christian tinha conversado com meu pai no mesmo dia
que aceitei seu convite e pediu sua permissão para que
morássemos juntos, apresentando uma lista de critérios que
manteriam minha segurança, o que eu achei bem fofo depois do
surto inicial que meu pai tinha dado, e fiquei extremamente feliz
quando ele entendeu que aquela decisão deveria partir de mim.
— Vou ficar bem, papai. Chegou a hora de andar com minhas
próprias pernas. — Recostei a cabeça em seu ombro. — Tem
certeza de que não quer fazer o mesmo? Esta casa tem muitas...
lembranças.
— Sim, ela tem. Mas não sei se sou capaz de me desapegar
dela ainda. Foi aqui que vivi os melhores anos da minha vida ao
lado da sua mãe, não quis me desfazer deste lugar por isto. Não
houve uma mulher sequer que eu amasse mais do que sua mãe.
Claire era uma boa companheira, ou melhor, fingia que era. Mas
amor? Só sinto isso por uma única pessoa hoje. E nunca imaginei
que morar aqui pudesse estar causando tanta dor a ela. — Ele se
virou para mim. — Peço que me perdoe por não ter notado antes.
— Pai, o senhor não tinha como saber. Acho que na verdade
nem eu sabia. — Torci os lábios. — De qualquer forma, o senhor é

minha única família. É tudo que tenho e seremos sempre nós dois
contra todo o mundo, entendeu? — Ele acariciou meu rosto com um
olhar triste e insondável.
— Não faz ideia do quanto eu sinto por não ter notado o que
aqueles abutres estavam fazendo com você naquela empresa, filha.
Entendo por que não me contou, mas é uma atitude inadmissível.
Ainda que não fosse minha filha, aqueles idiotas não tinham direito
algum de te destratar. — Ele apertou minha mão.
— Ver uma mulher se destacando no ramo da ciência causa
impactos até hoje. Sofremos perseguições e discriminação apenas
por mostrar quem somos. Mas a filha que você criou não abaixa a
cabeça para homem algum, principalmente aqueles preconceituosos
do caralh... desculpe, pai. — Arrependi-me na mesma hora e me
surpreendi quando ele riu.
— Vou sentir saudades, filha. — Ele olhou para o horizonte
novamente. — Lobo parece ser um homem bom. Gosto mais dele a
cada dia que passa, mas não se engane, não me importa qual o
tamanho daquele homem. — Ele olhou sobre o ombro e observou
Christian em uma conversa agitada com Shaw e Lyon. — Se ele
a magoar, não há nada neste mundo que não me faça ir atrás dele.
E já o avisei disso. — Meus olhos lacrimejaram com o nó apertado
que se formou em minha garganta e eu o abracei.
— Vamos nos ver todos os dias na Hill e Stelle . Vamos
almoçar juntos também. Pretendo voltar ao trabalho na segunda-
feira e o senhor será bem-vindo para me visitar quando quiser,
também deve contar que o verei todos os finais de semana, nunca
estarei longe e...
— Filha — ele me interrompeu. — É sua vida agora, precisa
cuidar dela. Não se preocupe tanto com seu velho aqui, eu ficarei
bem. E descanse mais um pouco antes de voltar ao trabalho, quero
que esteja bem para começar a treiná-la. Um dia você assumirá
toda a empresa e até lá, passaremos longos períodos juntos.
— Acho que não posso esperar tanto, pai. — Sorri para as
colinas.
— Por que não?

— Dizem que quando se tem uma ideia, é preciso colocá-la
em prática o mais rápido possível antes que a essência se perca de
vez. E tive uma ideia para um novo projeto depois do A.S.
— Sua mente não para nem por um segundo, não é? — ele
inqueriu, curioso.
— Puxei meu pai. Fazer o quê? — Dei de ombros e rimos
juntos.
— Sobre o que se trata o novo projeto? — ele indagou,
curioso.
— Sobre os caminhões com armas de micro-ondas. — Ele
estreitou os olhos.
— Por que não me surpreendo? Sempre foi alucinada por
este projeto.
— Sim, é um fato que sou apaixonada por eles. Então pensei
em criar um exemplar menor, talvez implantar um... — Parei de falar
quando notei seus olhos bem abertos, com aquela expressão de
quem escutava um especialista prestes a indicar um bom
investimento. — Acho que isso fica para segunda-feira.
— Vai mesmo me fazer esperar até segunda? — ele retorquiu
e fingiu descrença.
— Se eu não fizer isso, o senhor não vai nem me deixar
entrar naquele lugar na segunda. Já estou super-relaxada, papai e
aproveitando que estamos falando sobre os novos projetos, também
quero criar um projeto social na nossa empresa. Sei que já ajuda
algumas instituições pelo país, mas quero gerenciar algo voltado às
pessoas em situação de rua que vivem aqui em Chicago. Conheço
alguns abrigos que gostaria muito de ajudar, quem sabe criar o
nosso próprio. — Lembrei-me dos abrigos que Lobo e os irmãos
gerenciavam e nunca uma ideia me pareceu tão fenomenal. Ele
observou meu rosto com cuidado e sorriu.
— Você nunca esteve mais parecida com sua mãe do que
agora. Ela sempre sonhou em fazer um projeto para ajudar as
pessoas, mas acabou não tendo tempo para isso e eu, amargurado
pela perda dela, nunca pensei em dar andamento em nada disso.
— Os olhos cinzas do meu pai brilharam e ele me abraçou. — Estou
feliz que você o fará e a apoiarei em tudo que precisar.

SOB A Proteção do Lobo Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon