Capítulo 27

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De joelhos, eu pedirei uma última chance
para uma última dança
Porque com você, eu resistiria a
Todo o inferno para segurar sua mão
Eu daria tudo por nós
Dou qualquer coisa, mas eu não vou desistir
Porque você sabe, você sabe que eu te amo
Far Away – Nickelback

Anastácia Steely

Continuei subindo a colina verdejante, sentindo o vento leve
brincar com os fios dos meus cabelos. O sol tocava meus braços e
uma sensação de leveza pairava no ar, a não ser pelos quilômetros
incansáveis que eu continuava a subir e subir, sem parar.
— Deviam ter colocado uma escada rolante por aqui. — Ouvi
uma risada e virei o rosto em busca do som. Não havia ninguém.
Continuei subindo e até que enfim cheguei ao topo, onde
uma floresta exuberante se espalhava pelo horizonte, com uma
grande cascata ao fundo.
— Que lindo — sussurrei ao vento. Uma paz indescritível
preencheu meu coração.
— É lindo, mas não é seu lugar, Anastácia. — Saltei no mesmo
lugar quando a voz de Magnólia me atingiu como um raio.
Encontrei minha irmã segurando a mão de nossa mãe do
outro lado de um grande abismo entre duas colinas. Meus olhos
marejaram e eu comecei a chorar.
— Mãe, Magnólia! — Fui em direção ao abismo. Tudo que
queria era abraçá-las.
— Não! — mamãe gritou e esticou a mão. — Não pode cair
no abismo, minha filha. Volte por onde veio, este ainda não é seu
lugar.
Meus olhos se prenderam aos dela. Ambas reluziam sob a
luz do sol, como dois anjos olhando pela terra. Magnólia estava
deslumbrante, com um sorriso lindo preso ao rosto delicado e minha
mãe... meu Deus, ela era mesmo parecida comigo.
— Quero muito estar com vocês, mamãe. — Virei-me para
minha irmã que me observava com um sorriso gentil. — Senti tanta

sua falta, Mag. Tanta. — Solucei. — Acho que subi a colina errada,
eu vou descer e subir a outra colina. Quero estar com vocês.
— Anastácia  — Magnólia chamou. — Nunca deixamos de estar
com você, mas sua história é outra. Precisa mudar um pouco aquele
mundo.
— É hora de ser livre, filha. — Mamãe ergueu a mão fina em
minha direção e Magnólia fez o mesmo. — Volte e seja feliz.
Esperaremos por você.
— Mas não se apresse. — Minha irmã completou e levei a mão ao peito com a súbita dor que me atingiu ali.
Gritei e caí de joelhos com o ardor que parecia queimar cada centímetro do meu corpo e um instante depois, tudo se transformou
em uma escuridão calma e indolor. Fui abraçada por um silêncio
profundo.

2 dias depois

Abri os olhos e suguei o ar com força. Luzes claras
ameaçavam me cegar.
— Ela acordou de novo — uma voz feminina disse.
Minha cabeça estava rodando e todo o meu corpo parecia ter passado por um moedor. Minha mente vagava através de fragmentos de memória, como se eu tivesse acordado naquele mesmo lugar algumas vezes até de fato me dar conta de que estava
ali.
— Ei, seja bem-vinda, guerreira. — Outra, ainda mais feliz, completou. — Agora ela está consciente. — O homem se aproximou
dos meus olhos com uma luz forte. — A senhorita passou por uma cirurgia de urgência há dois dias e agora está se recuperando na
UTI. Fique calma, o pior já passou.
— Consegue me dizer seu nome? — a mulher perguntou ao se aproximar de mim. — Acho que ela vai voltar a dormir, assim
como nas outras duas vezes em que acordou — sussurrou para o homem, como se eu não estivesse escutando-a.
— Anastácia ... meu nome. — Tentei engolir, mas o simples
movimento me causou dor e um cansaço extremo.

Pisquei e virei o rosto. Antes que pudesse entender o que
estava acontecendo, meus olhos perdidos pousaram em um grande
vidro na lateral do quarto, onde várias pessoas estavam escoradas.
Muitas delas choravam e demorei a reconhecer meu pai entre eles.
Também havia um homem, alto, robusto. Ele chorava copiosamente,
apoiado no vidro. Os olhos vermelhos, ainda destacavam os dois
pontos de luz de cores diferentes e ele dizia coisas estranhas, que
eu não conseguia entender, mas que por algum motivo me fizeram sorrir.
Meu Lobinho...
Fechei os olhos, cansada demais para mantê-los abertos.
Acordei em um quarto de hospital amplo e muito arejado, com alguns arranjos de flores e até mesmo um ursinho de pelúcia,
guardados em sua extremidade. Meu pai estava sentado ao lado da
cama, os olhos pressionados pelos dedos impediam que ele me visse observando-o. Pisquei algumas vezes e comecei a notá-lo.
Parecia mais magro, infinitamente mais abatido e as lembranças do
que tinham acontecido naquela festa retornaram à minha mente.
— Avisei que era melhor mudar a rotina no trabalho. Veja só
o senhor, está um caco. — Minha voz surgiu baixa e muito rouca.
Ele abriu os olhos em um ímpeto de segundo e os arregalou de um
jeito engraçado.
— Anastácia ! Meu Deus, você acordou. — Ele ficou de pé e
envolveu meus ombros em um abraço. — Minha filhinha. — A voz embargada me emocionou. — Sinto tanto por tudo que aconteceu.
Perdoe-me, por favor, me perdoe.
— Nada disso foi culpa sua, pai — falei lentamente. Ainda
não tinha recuperado meu raciocínio por completo e a dor constante
no peito estava me esmagando. — Aquelas víboras estavam
infiltradas entre nós por muitos anos. Nem mesmo os seguranças poderiam desconfiar delas. Quando eles foram contratados, elas já
faziam parte da nossa vida, não os puna, por favor.

SOB A Proteção do Lobo Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin