Capítulo 13

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Anastácia Stelle

Sentei-me na cama de súbito, assustada, e voltei a cair no
colchão quando me dei conta de que estava acordada.
— Meu Deus! — Apoiei meu corpo nos cotovelos e pisquei
algumas vezes. Minha mente estava confusa e minha garganta
dolorida, assim como meu corpo.
Mais uma vez... constatei.
Arfei e fechei os olhos. Uma vontade aguda de chorar subiu
pelo meu peito, mas lutei com todas as minhas forças para evitá-la.
Sentia-me tão sozinha naqueles momentos. Tão solitária que
chegava a sufocar, mas uma breve lembrança, quase surreal,
preencheu minha mente com um pontinho de esperança.
Os braços protetores, o carinho cheio de afago e cuidado.
Meu protetor, meu cavaleiro. Ele me salvou novamente, tinha
certeza. Ainda conseguia sentir em minha pele sua preocupação, o
que começou a me intrigar.
Como ele poderia parecer tão real se era fruto da minha
imaginação? Balancei a cabeça de um lado para o outro.
Meu cavaleiro devia ser um escape criado pela minha mente
para me libertar daqueles malditos pesadelos, mas ainda assim era
muito grata por ter algo em que me agarrar depois de mais uma
crise de terror noturno.
Revirei-me na cama e fiquei ali por um tempo, perdida em
meus próprios pensamentos. Sabia que não poderia ficar ali o dia
todo, precisava estudar e rever alguns detalhes do projeto. Além do
jantar que teria hoje com papai e tia Claire.
Precisava me esforçar.
Levantei-me contra a minha vontade e tomei um longo banho.
Cada segundo que se passava, eu tentava não pensar no que

aconteceu na noite anterior, mas sempre que me distraia com
qualquer coisa, uma gota que fosse, era arremessada ao instante
em que a língua de Lobo invadia minha boca com desejo. Bastava
pensar nele para que todo meu corpo se acendesse e uma tristeza
profunda tomasse meu peito. Era o misto de sensações mais
estranhas que já senti.
A única certeza que tinha era de que não poderia ficar
escondida no quarto o dia todo, então, depois de passar um bom
tempo encarando a porta de madeira do cômodo, decidi começar
meu dia. Se eu o encontrasse, fingiria que nada aconteceu entre
nós e imaginava que ele faria o mesmo. Então, ergui os ombros e
abri a porta, pronta para encará-lo, ou ao menos eu imaginava que
sim.
Certa decepção me atingiu quando desci para tomar café e
não o vi pelo caminho.
Entrei na cozinha que exalava um cheiro delicioso de café
recém passado.
— Que cheiro bom, Judith! — disse e observei Ruth, que
estava parada ao lado da cozinheira, com seu habitual traje social,
virar o nariz pontudo em minha direção. — Bom dia, Ruth...
— Bom dia, senhorita. Andou cozinhando durante a noite? —
Arregalei os olhos, surpresa por ela ter notado. Tentei limpar tudo o
máximo que consegui na noite passada, mas pelo visto, algum
vestígio tinha ficado para trás.
— Sim, senti fome de madrugada.
— E como cozinhou, já que não sabe? — Ruth inqueriu e
cheguei a abrir a boca com a esperteza nada sutil da mulher.
— Bem, fiz a maior bagunça. — Peguei um pedaço do meu
cabelo, o que estava com as pontas chamuscadas e a mostrei. —
Até queimei o cabelo, mas consegui cozinhar assistindo a um
tutorial na internet — menti. — Não foi tão difícil — respondi com
naturalidade.
— Pobrezinha, vou deixar alguns sanduíches prontos na
geladeira para caso sinta fome. — Judith interrompeu prestativa.
— Será de grande ajuda, obrigada. — Sorri, mas não deixei
de notar o olhar revirado de Ruth para mim.

Terminei meu café e desapareci da cozinha o mais rápido que
pude. Passei o restante da manhã tentando estudar, mas as
palavras de repente perderam o sentido, assim como eu,
aparentemente, tinha perdido o rumo.
— Droga. — Empurrei o amontoado de livros sobre a
mesinha de estudos do meu quarto e enfiei o rosto nas mãos.
Sentia-me perdida e frustrada. Tudo que eu era estava bem diante
de mim, e não conseguir prestar atenção nos estudos me fazia
sentir uma fraqueza absurda.
Meus olhos recaíram para um par de fones abafadores que
estavam abandonados sobre a mesinha há muito tempo. Eles
estavam embolados e nem sequer me lembrava da última vez que
os usei.
Abri mais os olhos, encarando-o e uma ideia me veio à
mente.
Desde que perdi minha irmã, vinha sentindo que perdi parte
de mim mesma. Aquele era o pior sentimento que alguém poderia
carregar, o de ser alguém vazio, solitário. Mas a verdade era que eu
nunca estive sozinha de verdade.
Peguei os fones e os desembolei bem devagar.
Havia algo que interligava Magnólia e eu. Assim como havia
algo que me trazia vida, uma vida que eu ignorei por três anos.
Minha essência, minha alegria e também minha tristeza.
A dança.
Peguei meu celular e conectei os fones de ouvido. Desci para
o jardim logo em seguida e quando me vi sozinha entre os arbustos,
coloquei a primeira música de uma das minhas playlist favoritas.
Uma que não escutava há muito tempo.
A melodia começou lenta, sentimental e foi e intensificando.
Fechei os olhos, parada no meio do jardim, sentindo cada palavra
adentrar minhas células, como uma vitamina, fortalecendo meu
coração.
Abri os olhos e comecei a caminhar olhando para meus pés,
sentindo a música chacoalhar minha alma e quando me dei conta,
estava parada em frente a academia de dança.

SOB A Proteção do Lobo Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang