Capítulo 23

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Lobo

Lobo

Nunca na vida precisei tanto segurar a vontade de rir quanto
no momento em que Anastácia  encontrou Fantasma e Snake na
cozinha. Meus irmãos tinham chegado ali fazia menos de cinco
minutos e os deixei sozinhos por menos tempo que isso. Foi o que
bastou para que fossem até a cozinha.
Cheguei quando ela os atacava com a frigideira e agora,
minha pequena guerreira valente batedora de carteiras apontava
outra panela em direção aos dois homens que a encaravam com um
semblante horrorizado.
— Pelo visto a senhorita está muito bem-preparada para
qualquer invasão. — Fantasma tentou alinhar o terno novamente e
levou a mão ao maxilar, onde ela tinha o atingido em cheio com a
frigideira.
— Não nos contou que estava cuidando de uma selvagem. —
Snake retrucou, irritado.
— Selvagem? Ora seu idiota tatuado... vou enfiar essa
panela na sua garganta! — Estiquei a mão e envolvi a cintura da
minha minifera enquanto Fantasma ria da cena toda.
— Vocês a surpreenderam, Snake, não podem esperar uma
atitude diferente, ainda mais depois de tudo o que ela passou.
— Tem sorte de você ainda ter os dois olhos. — Ela bufou em
meus braços e não contive a vontade de sorrir diante seu narizinho
afrontoso muito empinado e as bochechas vermelhas de raiva.
Quando olhei para meus irmãos notei que ambos me
encaravam com um olhar suspeito e rapidamente voltei ao meu
estado normal e fechei o semblante.
— Eles vieram para ajudar — avisei e vi o olhar verde e
atento de Anastácia  sondar o rosto de cada um antes de deixar a

panela sobre a bancada.
— Devo admitir que entre todos os artifícios que já usaram
para tentar me matar, ainda não tinha sido atacado com uma
frigideira. — Fantasma riu da situação. — Admiro sua coragem e
criatividade. — Ele fez uma breve mesura em direção a Anastácia  que
ergueu as sobrancelhas e só então pareceu notar as cicatrizes que
subiam pelo pescoço de Fantasma.
— Se não pretendem me matar...
— Era você quem pretendia tal coisa. Uma morte a
paneladas, ainda por cima. Quanta ousadia. — Snake soltou o ar,
exasperado, mas logo um sorriso zombeteiro surgiu no canto da sua
boca e pareceu desarmar um pouco minha pequena.
Minha...
A palavra chegava a me fazer pulsar. Sentia-me possessivo
desde que recebi Anastácia  para fazer sua proteção, algo que eu
assimilei ser por causa do trabalho e todos os riscos que ela poderia
correr, mas agora, depois de tudo que experimentamos, aquela
sensação, a de posse misturados ao desejo e a necessidade de
mantê-la segura me abraçaram de vez.
— Em minha defesa... ando um pouco preocupada. Tem
alguém querendo me matar.
— Uma justificativa plausível, com toda certeza. — Fantasma
a apoiou. — Fico feliz em saber que a senhorita se defenderia tão
bem. — Ela sorriu.
— Acha mesmo? — Anastácia  mordiscou os lábios, empolgada.
— Sempre gostei de jogar as coisas. Ah, acertei uma garrafada de
uísque na cara do homem que tentou me esfaquear. — No mesmo
instante tanto Fantasma, quanto Snake viraram os olhos para mim.
— É isso mesmo que estão pensando. Ela acertou uma
garrafada na cara do Naish.
— Porra! — Snake olhou para ela novamente. — A garota
tem coragem. — Pude ver o apreço ganhando seu olhar.
Se eu não já era nada sociável, meu irmão mais velho era
infinitamente pior. Não tinha amigos e muito raramente se abria
conosco. Era um homem corajoso, agressivo, mas diferente de mim,
nada impulsivo. Uma das coisas que Snake mais detestava era

covardia e traição. Similarmente aos princípios da máfia, devo
ressaltar. Meu irmão tinha características que vez ou outra nos
preocupava, mas ele sabia reconhecer e valorizar a coragem
quando a encontrava e era exatamente isso que estava vendo em
seu olhar enquanto ele encarava Anastácia .
— Ele bem que mereceu. — Ela deu de ombros.
— Irmão, estou curioso... — Fantasma deu um passo à
frente. — Qual foi o fim destinado a Naish depois desta garrafada
esplêndida?
— O matou? — Snake deu um passo à frente, muito
interessado.
— Não. — Torci os lábios.
— O feriu gravemente? — A esperança na voz de Fantasma
quase me fez emitir um resmungo de insatisfação.
Anastácia  mantinha os olhos nos dois, pulando de um para o
outro como em um jogo de tênis de mesa.
— Precisamos conversar — avisei e fiz um breve aceno em
direção a ela. — Pode nos dar alguns minutos? — pedi a Anastácia 
que me encarou com uma ruguinha de preocupação.
— Tudo bem. Estarei na sala se precisarem de mim.
— Te encontro em breve. — Toquei sua mão por trás da
bancada para que meus irmãos não vissem. Já não bastava o que
teríamos que enfrentar, não queria ouvir nenhum sermão por
enquanto. Ainda que soubesse que em algum momento, não
conseguiria fugir daquilo. — Tente não jogar nada em ninguém até
lá. — Sorri para ela que saiu da cozinha logo em seguida.
Virei-me para meus irmãos. Ambos me encaravam com os
braços cruzados. Fantasma mantinha um semblante sério, irritado.
— O que foi?
— Irmão... — Meu caçula enfiou a mão no bolso do terno
muito preto e alinhado e tirou uma nota de cem dólares, entregando-
a para Snake logo em seguida. — Você acaba de me dar um
prejuízo de cem dólares.
— Não se culpe, Fantasma. Lobo é claro como o dia para
mim. — Snake sorriu de lado e guardou o dinheiro no bolso.
— Do que diabos estão falando?

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