23: Tormento II

391 35 6
                                    

Jeffrey

Não deixo de praguejar Christine por isso, ela ainda acha que está certa? Por que ela só não me estapeou? Não que eu tenha medo, mas acho que um dia ela pode chegar a me matar caso eu deixe.

Quando eu a vi mais cedo realmente me preocupei, seu semblante parecia tão atormentado que me perguntei se alguém fez algo com ela. Talvez por isso tenha agido de forma branda naquele momento, mesmo querendo estourar a cabeça daquele cara, por mais que eu só tenha visto ele ao lado dela. Por mais que eu queira fazer isso, de fato é útil que ele ainda esteja vivo. Ela pode até não ligar se eu fizer algo com ela, mas se importa quando digo que farei algo a eles. Típico dela, pensar sempre nos outros antes de si. Me lembrou um pouco a Ellie, seu jeito amável e gentil de tratar todos a sua volta me deixava sempre nauseado. Por mais que ela tentasse me mudar, nunca conseguiu e isso no fim não acabou bem para ela. Às vezes me pergunto como ela estaria se não estivesse morta, minha mãe era uma mulher incrível porém tola demais. Achei que ela seria a única a me aceitar como eu realmente era já que meu pai não ia muito com minha cara, seu preferido sempre foi o Liu. Ah, o menininho de ouro dele. Para o inferno todos. Voltei a lembrar deles agora, talvez seja por estar com Christine. Sua conversa com a mãe por uma fração de segundos me fez sentir em seu lugar, mas não como uma garota assustada e covarde, mas como um adolescente a receber todo amor e carinho de sua mãe preocupada com seu bem estar.

As vezes sinto falta deles, mas sei que foi melhor assim e não me arrependo, com toda certeza os levarei sempre em minha memória. Imagino se terei de fazer o mesmo com Christine, seria impossível conviver com ela agindo assim. Queria tanto tirar apenas uma parte dela, apenas a parte que me faz ter raiva. Às vezes me questiono o por que de mantê-la comigo, penso em deixá-la ir e não lhe procurar mais, mas algo sempre me diz que seria melhor dar fim a isso de modo que ela não pudesse me deixar.

Egoísta? sim. Cruel? Talvez. Eu quero continuar com ela, mas as vezes acho que ela não queira isso. Se ela quiser ir embora, vai ter que dar um fim nisso de forma apropriada. A dias atrás estávamos rodopiando e rindo numa praia à noite e hoje eu sinto que um mataria o outro se pudesse. Acho que isso é algo parecido com o amor, eu acho. Talvez isso seja o mais próximo de amor que eu possa sentir por alguém. É a primeira mulher por quem manifestei essa vontade, confesso que nunca imaginei me relacionar com alguém assim e essa é minha primeira vez. Antes eu nunca quis manter ninguém ao meu lado, nem mesmo Spencer que já fez muito por mim, fez até demais. Acho que gosto muito dela porque se fosse qualquer outra pessoa que me mordesse eu já teria arrancado dente por dente com um alicate até ele se arrepender.

(...)

Christine

Não dormi bem, durante a noite acordei diversas vezes me sentindo desconfortável e com dor, talvez por isso não me dei o trabalho de abrir os olhos quando senti Jeff delicadamente libertar meu pulso da algema. Me sentia entorpecida pelo sono já que meu corpo cedeu pelo cansaço e de forma alguma queria levantar. Senti sua respiração próxima de meu rosto e um aroma doce se fez presente, mas não demorou. Escutei ele andar se distanciando de mim e logo depois sair fechado à porta. Me virei para o lado e voltei a dormir.

Despertei lentamente, dessa vez um pouco mais descansada. Me espreguicei sentindo o resto de sono que eu tinha se esvair e meu corpo reclamar de dor, meus olhos se ajustavam à penumbra do quarto e não demorei mais para levantar. Decidi ir ao banheiro para tomar banho pra me sentir renovada. Meu estômago doeu pedindo por algo, assim que eu saísse do banho tomaria café. A porta do quarto estava aberta, sai para o corredor e não escutei barulho algum, passei pela porta do quarto de Jeff, mas não ousei entrar. Desci as escadas devagar e procurei por algum indício de que Jeff estava em casa. Olhei na sala, na cozinha e nada. Talvez estivesse no quarto. Me senti um pouco mais segura com a possibilidade de estar sozinha, eu poderia me arrumar e ir para casa. Isso de fato me animou, até me lembrar que Jeff estava com meu celular. Antes de sair, ia procurar por ele.

Meu PesadeloOnde histórias criam vida. Descubra agora