28: Doce II

287 26 2
                                    

Jeffrey

— Agora é só ir com calma, não precisa pressa. — Ela assentiu. — Não tem erro.

Venho tentando ensinar Christine a pilotar, ela demonstra interesse em aprender, mas parece sentir receio. Ela está um pouco estranha esses dias, às vezes reclama de enjoo, diz que sente dor de cabeça. Temo que ela possa ficar doente. Insisti para levá-la ao médico, mas ela não quis. Tenho aproveitado estes dias para ensiná-la e ficar mais ao seu lado já que vou me ausentar, mesmo que seja por um curto período.

— Acho que vou demorar um pouco mais para aprender.

— Você está indo bem, só precisa se sentir mais segura de si. — Dei um beijo rápido em seu rosto. — Logo vai estar melhor que eu.

Ela sorriu. Resolvemos encerrar o treino, parecia que ia chover de novo. Entramos em casa.

— Vou pagar uma auto escola e tirar minha carteira. — Ela parecia decidida.

— Isso é ótimo. E sabe o que é melhor? — Fui até a cozinha pegar na geladeira uma bebida. — Eu vou ter alguém para dirigir para mim.

Christine revirou os olhos, mas não conteve o riso.

— Por isso está me incentivando tanto?

— Sim e não. Eu posso evitar causar um acidente e você terá mais liberdade.

Christine me encarou por alguns segundos sem dizer nada. Deduzi que ela talvez achasse que eu já causei algum acidente.

— Eu nunca machuquei ninguém assim, ok? Nunca bebi a esse ponto.

— Não pensei nisso. — Ela se aproximou de mim. — Acho fofo que esteja preocupado comigo, você até mesmo está dando um de professor.

Me senti um pouco surpreso, não sei o por que. Talvez por que em minha mente eu esperasse que ela pensasse o pior de mim quando na verdade não.

— Obrigado. — Ela brincou com uma mecha de meu cabelo. — O que vai querer para o jantar?

— Você. — Ela assentiu voltando a rir. — O que você fizer eu sei que vou gostar, então pode escolher.

Meus dias tem sido tão leves ultimamente, pouco tenho tido vontade de sair ou "trabalhar". Espero que tudo continue assim, mas por que eu tenho um incômodo sentimento de que não vai?

(...)

Não sei como me sentir a respeito disso, nem sei como ela vai reagir. Comprei as alianças que vi Christine encarando no dia que fomos aos shopping, não queria perguntar o tamanho de seu dedo para não levantar suspeitas então pedi a sugestão da atendente, se ela aceitasse e não fosse o tamanho correto eu faria a troca depois. Decidi deixar para dar hoje, assim não tenho de encarar ela por muito tempo caso recuse.

Spencer ia passar aqui em casa e me buscar, eu disse a ele que não era necessário, mas ele insistiu. Christine pediu que eu tomasse cuidado com o que quer que eu fosse fazer e me mandou voltar logo, de preferência vivo. Eu acho que dá pra voltar bem depois de roubar uma carga de drogas. Prefiro não saber o que exatamente ele pretende com isso, foquei em saber o que eu tinha de fazer e o quanto ia ganhar.

Estava no quarto pensando no que diria a ela quando Christine me chamou dizendo que Spencer havia chegado e desceu. Desci também, ele estava sentado no sofá da sala. Ao me ver ele começou.

— Olha se não é minha puta preferida. — Fiz cara de deboche. — Vem cá princesa.

— Já tenho dona. — Respondi e fui até Christine, ela abriu um riso.

— Ai Deus. — Ela começou a rir da minha imitação barata de uma prostituta. — Vocês são idiotas.

— É a vontade de dar que ele tem. — Spencer deu de ombros. Franzi a testa.

"Cretino."

Puxei Christine pela cintura.

— Que algo para beber Spencer?

Ele fez cara de surpresa.

— Tá vendo? Ela é mais educada que você. Você nunca me ofereceu nada, nem água. — Dei de ombros. — Obrigado querida, mas não vamos demorar.

Ela assentiu.

— Me espera no carro que eu já vou e vai logo antes que eu quebre sua cara velha.

Spencer levantou do sofá e se dirigiu até a saída

— Até mais querida. — Falou antes de sair.

Christine se despediu dele também.

— Eu tenho algo para te dar. — Ela me encarou confusa. — Espera aqui.

Voltei ao meu quarto, a caixinha estava guardada em meu guarda roupa no fundo falso. Fechei tudo como estava e retornei à sala com a mão escondida.

— Fecha os olhos e estende a mão. — Ela o fez, deixei a caixinha em sua mão. — Pode abrir.

Christine olhou para a mão e depois para mim, sorriu e abriu a caixa. Estava o par de anéis de prata que ela pareceu gostar. Ela não esboçou outra reação além do sorriso estancado em seu rosto, acho que agora vem a parte que ela me atira o anel na cara.

— Jeff?

— Não gostou? Não é de noivado. — Ela franziu a testa. — Não que eu não queira noivar um dia. Eu só achei que você ia gostar.

Christine continuava com aquele sorriso paralisado na cara, parecia confusa e ao mesmo tempo surpresa.

— Eu já vou, a gente conversa quando eu voltar. — Dei um beijo rápido em sua boca e corri pra sair.

Decapitar alguém seria mais fácil do que isso, eu não esperava que ela fosse ficar feliz, mas também não esperava uma reação tão fria. Antes de chegar ao carro ela me gritou.

— Espera!

Ela veio até mim com a caixinha.

— Toma. — Ela me devolveu.

— Para que? Não vejo outra serventia se você não usar. — Me senti frustrado.

— Abre essa porra seu animal. — Surpreso, abri a caixa com o doce pedido que ela me fez. — Eu aceito.

Na caixa havia apenas um anel, ela me mostrou sua mão e sorriu. Parece que coube em seu dedo, acho que ficou só um pouco justo demais. Ela me abraçou.

— Achei que você ia recusar.

— Eu só estava um pouco surpresa.

Assim que coloquei o anel em meu dedo eu a beijei, apesar de ser algo apenas simbólico, ela pareceu gostar.

— Obrigada.

— Então amigo, você vem ou não? — Spencer gritou, eu havia me esquecido dele.

— Vou esperar você, ok?

Assenti, dei um selinho em sua testa e fui para o carro.

— Você está noivo? — Ele ligou o carro e deu a partida.

— Não, eu não a pedi em noivado.

— E por que o do anel?

— Não sei, no dia que saímos ela os viu na vitrine e pareceu gostar. Achei que seria legal dar a ela, mas confesso que estava com receio.

— Gente que bonitinho. Quando voltar quero passar mais tempo com minha cunhada.

— Nem pense em chegar perto dela, seu impuro.

— Impuro? Você é um imundo, nem sei como aquela garota te atura.

— Nem eu. — Confessei.

Acho que a derrubei com força e ela bateu a cabeça, não tem outra explicação.

A conversa tornou-se mais séria assim que nos afastamos de minha casa. Brincadeiras à parte, Spencer gostava de planejar bem cada passo que dava.

— Eu preciso que tudo dê certo, caso contrário, eu vou me foder e não é no bom sentido da coisa.

Meu PesadeloWhere stories live. Discover now